Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
“Deus do poder, acima de tudo”
O Comunismo, como conceito teórico-filosófico, representa uma sociedade em plenitude de justiça, liberdade e prosperidade, um “Tipo Ideal” [um artefato conceitual-analítico], uma Utopia [“lugar inexistente”]. Comunismo, como está a se tratar aqui, é um esforço teórico.
Para a Tese Marxiana [distinta das predileções marxistas], a condição existencial é um arranjo psicanalítico social e político. É uma tese sobre a liberdade fundamental, muito próxima ou inspirada na tríade religiosa “Inferno - Purgatório - Céu”. O “Inferno”, a experiência do sofrimento, pode ser considerado como a sociedade de exploração, um período da História segundo o qual homem submete homem, uma sociedade de classes. Classes Sociais constituem-se como determinação econômica e política que estão em conflito por recursos escassos ou para acumular riquezas geradas na sociedade feudal ou capitalista.
Enquanto se faz, a História ganha maturidade. A luta entre classes sociais acabaria por atualizar as necessidades e estratégias de cada uma. A História se supera. Contada em estágios de evolução [Evolucionismo], a História provocaria a consciência de classe e produziria a ebulição dos conflitos. A ruptura necessária daria acesso ao “Purgatório” ou à Sociedade Socialista. Um período de transição ao “Mundo Superior”.
Até este momento, toda a História da humanidade pode ser interpretada pela forma segundo a qual as instituições dominam o comportamento humano. Economia [como sistema de organização de troca, equivalência e concentração de riquezas], Política [como sistema de poder e submissão], Religião [como sistema moral de aceitação e controle] são as estruturas sociais e políticas de dominação da consciência humana. E essas estruturas sociais são autônomas, fazem por si, dão-se filhotes, geram diretrizes, têm vida própria: estão colocadas acima das pessoas e condicionam comportamentos dos atores sociais.
O “Purgatório” ou a “Sociedade Socialista”, como forma de revisão da História e tomada de consciência de si e do mundo, faria a transformação para uma sociedade mais “equilibrada”, como um momento psicanalítico de autoconhecimento das condições de domínio e “pecados” cometidos. Como antecipação da História, a “Ditadura do Proletariado” ou a imposição dos filhos/crias do Capitalismo seria a superação dos vícios, maldades e desatinos. Uma Utopia.
A última fase da caminhada dos seres humanos seria o próprio “Fim da História” do domínio das estruturas sobre as mentes dos seres sociais. As pessoas já não pensariam de acordo com as imposições da Economia, da Política e da Religião. Todos os membros da sociedade teriam consciência de si e dos outros, se identificariam com os outros [empatia], e não desejariam para os outros o que não pudessem desejar para si. O Comunismo seria a Sociedade Celestial, uma ruptura civilizacional, uma convenção da paz mundial. Não haveria mais propriedade, o “meu” e o “seu”. Como os membros da sociedade se diluem em cada outro, não existiriam classes ou lutas. Uma Utopia.
Comunismo, como preceito teórico, é uma utopia espiritual segundo a qual o homem tem consciência de si, e, nesta condição, um mundo edênico. Comunismo é uma Utopia, uma vontade se ser [Ideologia]. Fora do conceito teórico-filosófico, na nossa existência prática como sociedade somos seres cruéis, egoístas, com desejo de poder sobre a vida daqueles que compartilham o caminho; como existência, somos pecadores, arrogantes e vaidosos. Cada qual não é um comum, é Deus, acima de tudo, do Poder!