Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
O super-avô
A atmosfera do período natalino é inescapável: pessoas se esbarram e chegam a ser indelicadas na busca de alimentos próprios do momento e na compra de presentes que expressam o companheirismo e a bondade. Ou apenas a tradução comercial de troca de presentes forjada na necessidade social de dar e receber [trocar mesmo]. Músicas natalinas, figuras de Papai Noel, luzes, cores e noites de calor reforçam o cenário. Tudo nos envolve em esperança!
Papai Noel é o centro deste universo simbólico. É ele, como interação simbólica, que faz a mediação entre as pessoas e o ambiente. O Bom Velhinho, figurante de um Super-Avô, organiza o mundo, os comportamentos, as atitudes, os sentimentos, os modos de agir. Especialmente endereçado às crianças, Papai Noel é o representante da bondade [desejo de felicidade] e generosidade [presentes como dádivas].
O significado [objeto designado] do Papel Noel é um valor fundamental para as crianças, a despeito de todos os elementos comerciais e de publicidade envolvidos. É a inauguração de um tempo de paz, de remissão. Na Idade Média o contexto de Natal impunha período de cessar-fogo entre os soldados; não se pensa em confusão ou discórdia e as mágoas ficam suspensas ou sem ardor, sem tiros.
Papai Noel é o Super-Avô: protege, indica regras, recompensa boas atitudes; ao invés de punir, dá presentes. É uma fuga dos predicados do cotidiano, pacificação do espírito. Podendo ser inspirado nos Reis Magos [Gaspar, Melquior e Baltazar] este personagem representa a bondade que só dá, que entrega presentes, e que some sem pedir nada em troca. Papai Noel é, em si mesmo, uma dádiva. Como um Avô, parece isolado, em sua casa com seus ajudantes, sua generosidade, poucos movimentos. Papai Noel não reclama, não aborrece, não se perpetua em todos os dias da família. Aparece e some: sempre volta.
Voltará como esperança, como recompensa pelas bondades que foram firmadas durante o ano. Papai Noel, para as crianças e adultos, é a solidificação da virtude e da correção. Não é o quanto custa, mas o quanto vale; não é o valor comercial do brinquedo, mas o desejo de ganhar um presente, um beijo, um abraço. Isto, que nos transpassa o espírito, revela as necessidades de recriar o tempo futuro, a passagem de um período como um portal transformador, ainda que logo ali esteja janeiro e suas exigências.
O tempo natalino nos uniformiza como se todos se convertessem em netinhos e netinhas de Papai Noel, nos aproxima, nos reinventa como criaturas. O mundo simbólico de Natal, com a “liderança carismática” de Papai Noel, nos transfere para um novo tempo de relações sociais e impulsiona, nas crianças, o fato de que terão sempre alguém para lhes proteger, para lhes presentear, para lhes conceder bondades sem trocas, sem equivalências: apenas ser bondoso.
Para as crianças, sempre haverá um mundo protegido, de paz, de felicidade, ainda que seu propositor tenha barbas brancas, com roupas esquisitas, com gestos lentos, e de poucas palavras. Como é a bondade: serena. As crianças esperam em nós e de nós, adultos, Super-Avós para o futuro. Papai Noel tem que ter futuro!