Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
Banco do congresso nacional
O território brasileiro sempre foi muito promissor ao sistema financeiro. Entra ano e sai ano, os bancos sempre apresentam lucros galácticos, com expressões numéricas difíceis de serem contadas: são mais de 269 bilhões de reais de lucro nos últimos 10 anos. Em 2021 os lucros registram o incrível valor de 17,9 bilhões de reais. São cerca de 49 milhões ao dia.
Evidentemente, os bancos estão em condições de mercado, assumem riscos, pagam impostos e funcionários etc. e tal. Alguns quebram; outros têm dificuldades em se manter e são incorporados por organizações maiores. Riscos e incertezas são próprios do mundo privado, da concorrência, das “leis” do mercado, da “mão invisível” [Adam Smith, 1759].
Os bancos privados precisam lutar por clientes, captar recursos, ter lastro para conseguir suportar momentos ruins, financiar setores da economia. Por isso o conjunto de especialistas em investimentos, de experts em economia, de monitoramento de cenários. Corre-se para cá e para lá a procura dos melhores caminhos.
Os recursos que circulam de conta em conta são tratados pela sua natureza: pertencem aos donos das contas. O código de barras da dívida para o boleto do serviço ou produto. Cada centavo, não sendo recurso do próprio banco, trafega na velocidade da luz no vácuo [c=300.000 Km/s]. Uma mesma cédula “paga” milhares de contas em um único dia. E a economia flui.
O Congresso Nacional é, em parte, parecido com um banco do mundo privado. Tem Fundos daqui e dali e risco abaixo de zero. O Fundo Partidário consome 979,4 milhões de reais [2021]; as Emendas Parlamentares chegaram a 33,8 bilhões de reais, incluindo-se o “Orçamento Secreto” e sua “Mão Invisível” [desconhecida de Adam Smith]; o Fundo Eleitoral para 2022 chegará, com regras “pode tudo”, aos 5,7 bilhões de reais. Ao se considerar o custo de manutenção do Congresso Nacional se atinge o incrível de 10,8 bilhões de reais/ano, ou 30 milhões/dia.
Os bancos privados poderão se arrepiar com tal concorrência. Em um ano são “depositados no Congresso Nacional 51,2 bilhões de reais, ou 140 milhões ao dia [inclusive sábados, domingos e feriados, e considerando uma semana cheia]. E o Banco do Congresso Nacional não precisa ir em busca de clientes, nem contratar especialistas em mercado bancário.
A democracia tem custo, e a política precisa reorganizar os temores dos desejos primitivos de cada um de nós em nome de uma sociedade, para vivermos em grupo com regras sociais e sistemas de promoção e punição. O Estado de Direito é este diploma na parede que apresenta as leis que estão acima de nossos ímpetos egoístas. A natureza humana [instintos] estará sempre sendo desafiada pelo controle social.
O Estado de Direito, amadurecido e “grandinho”, possibilita o Estado Democrático, que advoga a Política Adulta, coreografada pela cidadania [reconhecer no outro a necessidade de limites aos meus instintos] e entoada pela República [espírito de coisa pública]. A fonte de recursos para tudo isso é formada por tributos, impostos, taxas, contribuições [nome esquisito!], e sempre será. Mas tem que ser em nome da Res-Pública.
O Congresso é caro, dispendioso, e faz do Funcionário o dono do dinheiro na conta. O código de barras da política não paga nosso boleto de cidadania.