Autoritarismo [substantivo] é marca constante em toda a trajetória política brasileira. Quando se observa a Estrutura dos Sistemas Políticos, o regime nacional favorece a autoridade governamental e enfraquece processos de conciliação, discussão, colegiados. Partidos políticos têm dono, proprietário, chefe. Presidente da República é figura central e centralizadora [“manda quem pode...]. Presidente da Câmara dos Deputados decide pauta, faz arranjos de votação, administra emendas. As instituições de representação de interesses coletivos ficam sempre menores, pequenas, nanicas [nanus], diante da concentração de poder em mãos poucas.
Decorrem daí uma série de espinhos políticos e feridas históricas: ao invés de ideologias políticas [esquerda e direita] criamos o adesismo ao poder [Situação] e os afastados das benesses [Oposição]; ao contrário da representação de interesses coletivos e da elaboração de projetos nacionais de desenvolvimento, nutrimos o Patrimonialismo [torna privado e pessoal o que é público e coletivo] com a apropriação pessoal do cargo, com o nepotismo figurado, com indicações a cargos comissionados infinitos, com fundos partidários e eleitorais forjados na velocidade da luz. Reformas tributárias criam mofo, reformas administrativas são anosas, reformas políticas perdem sentido no tempo. De baixo para cima [bottom-up] somente o eleitor no dia da eleição [dia seguinte é do vencedor e o eleitor se desfaz no ar, posto que o cidadão nunca nasceu]. O domínio político é de cima para baixo [top-down].
A Personalidade Autoritária, como traço psicológico de conduta, encontra cama quente na Estrutura dos Sistemas Políticos nacional e conta com a predisposição para a obediência e para a valorização do Senhor Político. Traços da cultura política: um bom político manda, fala bem, fala difícil, briga, grita, se esgoela; rouba, mas faz. O todo poderoso sente-se maior quando tem um confronto e usa das armas institucionais para vitórias e vinganças pessoais. O trono conforta, o cargo fortalece e a síndrome de Estocolmo gera empatia.
Ao mesmo tempo, o despreparo no uso do poder, por falta de formação pessoal e maturidade governamental, determina o autoritarismo como traço psicológico de infâmias. Em torres de pizza, Carreys, Salvatis, o poder não protege de gafes. Os gritos e ofensas sugerem, ao invés de força, as fraquezas do ocupante do trono. O afrontamento, o ultraje, o desacato acabam por deixar o rei nu e desprotegido da redoma planaltina.
E quanto mais se causar enfrentamento, substituindo as responsabilidades do cargo e as necessidades nacionais por lutas eleitorais, menor é a sensação de esperança e do arrumo de curso. Os opositores já vencidos, sem resguardos éticos, já não nutrem a disposição para a luta. A insistência em vencer os vencidos diminuem a força das operações políticas, das mensagens hiper multiplicadas nas redes sociais, dos contornos da política como esperança.
Os gritos revelam descontrole e fraqueza; as ofensas traduzem o despreparo e o desarranjo; a arrogância demonstra o personalismo; as gafes simbolizam os deslizes nos rumos sobre meio ambiente, cultura, educação, economia... Um senhor certa vez me ensinou que “manda quem sabe pedir”, sem gritos e estendendo a mão. Quem grita perde a razão.
Como uma criança num quarto escuro, assustada, o grito revela o pavor, o estrondo de minhas fraquezas, o grito do meu medo. O autoritário é, no fundo, uma criança em quarto escuro.