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Ser sozinho, com os outros


Não há pureza na vida social. Por condição histórica somos racistas, machistas, autoritários e geramos um conjunto de desatinos preconceituosos sociais e políticos no viver dos dias. Toleramos nossos infortúnios com lances e dribles na vida desdoura. Assim são mantidos preconceitos, vívidos e vorazes, por não encarar um problema, vestir disfarces e ornar fantasias de uma vida desejada.

Para qualquer problema, assumir o desastre pessoal e procurar nas entranhas do corpo os defeitos que nos constitui, registra o caminho mais promissor para o amadurecimento social, o desenvolvimento político e a anima cultural. Quando erro, assumo e cresço. O erro se torna meu instrutor, meu professor, meu amigo. Só posso me desenvolver enquanto ser social e político ao considerar minhas infindáveis imperfeições, meus incontáveis defeitos.

Por entender meu erro tenho um lucro: adquiro princípios de modos inclusivos de ser, admito formas do coletivo de estar. Se sei que minha vida está na condição indissolúvel das relações com os outros, são estes outros minhas medidas de convivência. Os outros, e não eu, informam sobre como devo fazer, dizer, sentir o mundo. Desde o nascimento, com os amparos de móveis e roupinhas nos ritos de chegada, até a morte, com os ritos próprios das despedidas corpóreas, as relações sociais nos ensinam, nos instruem, nos permitem.

Assumir os erros é passo de crescimento pessoal para as relações coletivas. Pedir desculpas é a ilustração dos princípios desse desenvolvimento. Desculpas sinceras, somente podem ser sinceras, pelo reconhecimento do erro cometido. Peço desculpas porque eu errei. Os pedidos de desculpas nascem e partem de quem errou e se referem a este erro. Eu preciso me sentir o causador de um erro, causa primordial de absolvição social. Pedir desculpas é, ao mesmo tempo, uma promessa de não reincidência. Afinal de contas, insistir no erro...

As desculpas egoístas, vazias aos outros, escondem o erro, falsificam o sentimento, e transferem responsabilidades. “Se houve um erro, se alguém se sentir ofendido, então eu peço desculpas”. Ah, infeliz e estúpida criatura chamada homem, carne e osso que vive em conflito consigo mesmo e, por isso, a se confrontar em luta com os outros!

Pedir desculpas não permite partículas condicionais [“Se...]. Se alguém se sentir ofendido pelo seu erro, as desculpas tem caminho a seguir. Mas somente serão sinceras pelo reconhecimento do erro cometido. De nada valerá se somente os outros perceberem a maleficência promulgada; de valor nulo será a chance de crescimento pessoal. Como se pode melhorar se já se é perfeito [condição de ser e não de estar]? Em estágio tão superior, tão soberano, só se pode acusar os outros por fragilidades que demonstram.

Nasce em ti o crescimento, não como alcance definitivo, mas como desejo na caminhada. Cometer erros e disfarçar a causa e o causador, desfigurar a razão e transferir a culpa e responsabilidades, é deixar de crescer, melhorar, se desenvolver. Isso é ruim em pessoas públicas que se tornam algum tipo de referência, e pior em políticos na incumbência de fazer gestão de recursos públicos [aquilo que é nosso, nas mãos da definição de poucos].

Viver em sociedade, em grupos sociais, significa interiorizar [in-corporar] o mundo exterior, que te rodeia. E para fazer parte deste mundo que não é teu, é necessário exteriorizar o que você aprendeu. Viver em sociedade é viver com os outros, nas condições dos outros num movimento contínuo de interiorização do mundo exterior e exteriorização do mundo interior: relação da qual não conseguirás se afastar. Até mesmo para ser sozinho precisarás dos outros!


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