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Formigas, cigarras e gafanhotos


Formigas, cigarras e gafanhotos

Esopo, fabulista da Grécia Antiga, produziu análises comparativas muito propícias à moral do comportamento humano. A fábula da Cigarra e a Formiga [O Gafanhoto e a Formiga no original, depois adaptada por Jean de La Fontaine] revela, em caráter pedagógico, um conjunto de feições das relações sociais e políticas que encontramos e praticamos.

Nesse mundo de alegorias fabulosas há os que se preocupam com as condições futuras e atuam para diminuir riscos, trabalhando quando o tempo é convidativo ao lazer: são as formigas. As cigarras levam a vida a cantar, a traçar os passos sem o esforço das obrigações. Os gafanhotos, poucos em quantidade, são vorazes, de apetite insaciável, se alimentam do resultado do trabalho dos outros.

As formigas, ao tardar o domingo, iniciam suas preparações para o trabalho do dia seguinte, numa rotina inacabável. É preciso o ardor e o cansaço para se atingir os valores capazes de serem convertidos em grão, pão, gás, combustível, escola, impostos, taxas, contribuições. São, a cada dia de trabalho, seus próprios cicerones, carregando em cada ato as posições, curiosidades e costumes já configurados em suas antenas. As formigas veem seu orgulho próprio no próprio resultado do trabalho. O cansaço se converte em recompensa.

As cigarras levam o dia com pequenos golpes na vida, arcam a astúcia para levar vantagem nas trapaças de cotidianos e a ferir, muitas vezes, o semelhante que lhe protegeu quando criatura pequena e indefesa: são canibais sociais. Esperam que tudo se faça, que a necessidade seja pressionada pelo tempo do minuto anterior. Na hora da honra e do sucesso, do aplauso e do reconhecimento, serão os primeiros a sorrir como se fosse obra de sua labuta. As cigarras são vaidosas e trapaceiras.

Os gafanhotos usam formalidades, se propõem representantes das formigas e cigarras, gritam como se fora em nome de seus representados, rodopiam e rebolam, usam microfones, dizem quais caminhos devem ser seguidos. Voam longas viagens, criam um mundo imaginário para todos e vangloriam a energia laboral dos formigueiros e bando cicadídeo [cigarras]. Os gafanhotos recebem o resultado do trabalho das formigas [mundo de tributos] e das cigarras [benefícios ilícitos], e definem as formas de uso. Gafanhotos são representações ilusórias, vivem em ares particulares, representam a si mesmos.

No arranjo da organização das espécies os gafanhotos, sempre em nuvens, passam por constantes metamorfoses, alterando coloração, forma, voz e intensidade. Os olhos se alteram conforme o que preferem ver. Num dia falam em liberdade, mas desejam o cabo do chicote em seu domínio; noutro dia defendem as florestas, e refletem no glóbulo ocular as labaredas das árvores ardendo. Entra primavera, sai primavera, os gafanhotos promovem as regras para se manter em hierarquia dominadora, comem os resultados das formigas e, na noite silenciosa, devoram parte das propinas das cigarras.

As formigas não desconfiam da floresta e nem das urnas: lhe parecem confiáveis. E preciso suspeitar dos gafanhotos que, enchem seus bolsões de recursos públicos [aqueles de tributos, impostos...], fazem as regras em seu próprio benefício, escalam Fake News e, por encanto, disfarçados em seus próprios interesses, se dizem representar as vontades dos formigueiros. O que precisa ser transformada é a relação entre formigas e gafanhotos, cigarras e gafanhotos. Formigas que lutem como formigas, e não pelos gafanhotos.


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