Primus iniciou o dia sob tensão. Havia, em seu caminho de horas, muito a ser enfrentado. Sabia que, no final da jornada, estaria, ao menos, fatigado. As luzes ao raiar do dia ainda estavam tímidas, com ar do frio do inverno. Tomou seu café da manhã, puro e bem quente, às pressas; o relógio parecia acelerado contra a sua vontade. O tempo, como princípio da organização do dia, lhe empurra para fora de casa. Abriu a porta do carro, colocou sua pasta no banco ao lado, como um acompanhante calado, ligou o carro e se foi.
Em seu trajeto se deparou com um acidente entre dois veículos, já sendo composto pela discussão das razões de culpa. As regras de trânsito estavam sendo reivindicadas pelos motoristas como princípio de organização do tráfego: as leis estavam ali, disponíveis para orientação e imperativa para as condutas. Um dos envolvidos estava bastante agitado e demonstrava apelos autoritários. E tudo seria resolvido com a chegada de autoridade de segurança, o primeiro passo da lei. Pelo que Primus pode observar, buscava-se o Princípio Moral de Honestidade para a solução do caso. A partir dali, apesar das consequências, tudo estaria resolvido. Ainda assim, o motorista que estava agitado, continuava descontrolado. Seus impulsos eram de autoritarismo, e suas atitudes de ameaça. Queria ele ser a regra: ao ter seus documentos solicitados logo bradou: “entrego se eu quiser”.
Ao chegar em seu posto de trabalho, Primus, já disposto em sua mesa, percebeu que fora o primeiro. Observou o cenário no qual estava inserido, analisou o ambiente, e entendeu que cada mesa era como uma peça de seu carro ou um órgão de um organismo: cada qual ali tinha uma função a cumprir e uma funcionalidade exigida. Cada mesa um território de execução de tarefas. Havia ali um Princípio de Organicidade. Chegaram os outros “órgãos” para compor o “corpo de trabalho”. Para cada um, um princípio de respeito entre “as partes”: Princípio Moral de Interdependência.
Primus sabia que o principal problema do dia decorria de suspeitas lançadas sobre os resultados de cada “órgão” e como tudo veio à tona. Nos dias anteriores, um dos dirigentes da empresa afirmou, por meio de redes sociais, que haveria fraude nos resultados da empresa e que teria, em suas mãos, provas. As falsificações seriam sobre o seu próprio desempenho que, ainda que o colocassem em primeiro lugar, foram, intencional e deliberadamente, alterados para menos. Sua glória era bem maior. Tudo isso criou manifestações de luta entre os funcionários: de um lado os que acreditavam na fraude como fato, e de outro os que se colocavam como duvidosos e opositores. A intriga formou dois grupos: inimigos e intolerantes.
Primus entrevistou cada um dos implicados, apurou com sensatez e procurou tudo o que os Princípios Morais de Respeito e Verdade impunham: se há provas, para que a Verdade seja para todos e não para um, que sejam apresentadas. Princípios e Verdades às pessoas e às coisas, devem, então ser posicionadas como o raio de sol pela manhã: reveladora das relações de existência. Um dos envolvidos estava bastante agitado e demonstrava apelos autoritários. Documentos que poderiam comprovar a fraude foram requisitados, mas o diretor que afirmara tê-las logo bradou: “entrego se eu quiser”. As provas não foram apresentadas, e consideradas ameaças, mentiras, chantagens.
Primus, por Princípio, não teve nenhuma dor ao decidir os dias seguintes da empresa: o dirigente, vaidoso e arrogante, autoritário e desonesto, fora afastado e, em seguida, demitido, e, passo seguinte, acionado na justiça. Os Princípios Democráticos da organização foram mantidos, o “corpo de trabalho” aprendeu a identificar “vírus e deformações”. O “organismo” outrora com riscos de fragilização, se refez.
Nos tempos seguintes até mesmo o trânsito melhorou!