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Esperanças e tolos


Esperança é uma necessidade humana, da espécie. Somos os únicos seres que podem falar sobre o “depois”. Precisamos sempre acreditar, crer; precisamos sempre agir com expectativas, fé, confiança em se conseguir o que se deseja. Esperança está registrada em nossa formação genética.

Na Idade Média a esperança estava manifestada em códigos espirituais e religiosos. Esperava-se pela salvação divina como triunfo pessoal. E as vidas que se seguiam estavam orientadas à defesa contra os males que poderiam surgir como castigos divinos. Pestes, safras agrícolas prejudicadas, desastres ambientais eram assumidos como danação. Deus era o determinante do futuro, o protagonista do “escrever certo por linhas tortas” na medida que a caminhada humana estava comprometida por erros originais. A orientação civilizatória da Idade Média está centrada em Deus, no TEO-centrismo. Todas as ações humanas só têm significado enquanto esforço para alcançar a salvação, a imortalidade, a graça pelas mãos divinas.

A esperança em um futuro desejado pelo próprio homem é um fenômeno do Renascimento. O homem passa a ser a referência dos acontecimentos, autor de seus atos e responsável por sua vida. Somente no substrato desta Filosofia de Mundo é que passou a ser possível se falar em liberdade individual, em Capitalismo [redentor da ‘liberdade’ material], no “Espírito das Leis” da materialidade humana. O homem passa a interessar-se por si mesmo, pela sua reorganização civilizatória. As leis, a permissão e as punições são escritas pelo próprio punho, num processo de autodeterminação coletiva.

A possibilidade de se desejar o futuro passou a exigir, como contrarregra, uma estrutura política difícil de se compor. A Idade Moderna, como organização social humana, traz necessidades que exigem muito esforço. O Estado como “ser que pune” [O Leviatã], em boa parte é uma substituição da experiência da Idade Média. O sistema de coação e de coerção são elaborados em leis, uma vez que os indivíduos abrem mão de sua liberdade original em nome da segurança de se viver protegido em sistema coletivo.

E a esperança continua a existir. A ciência, na modernidade, foi a promotora das conquistas, com métodos de ensaio-e-erro e com TEO-rias orientadoras que passam por críticas constantes. A ciência se constituiu como elemento de desenvolvimento social, político, material, ambiental, industrial, educacional, de medicamentos e formas de tratamentos de doenças. Isso não mais pelo medo do infortúnio, mas pelas expectativas de conquistas contínuas.

Mesmo assim, depois de tantas transformações sociais, políticas e materiais, a esperança ainda se reserva com conteúdos de tempos longínquos. Como espécie, ainda precisamos acreditar em salvações milagrosas apresentadas pelo homem. A cada eleição os salvadores se renovam e prometem o que não pode ser encontrado no mundo material. Os desejos pela lógica da esperança fazem pessoas acreditarem, como ato de fé, em ‘coisas’ estranhas ao bom senso orientador da ciência.

A despeito dos erros e acidentes provocados, a ciência ainda é a guardiã das transformações bem-sucedidas no período moderno. E não será a Fé Política em tratamentos precoces que diluirá todas as conquistas científicas de um período civilizatório. Tolices e tolos também são parte de nossa história.


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