Democracia é um conceito que foi gerado na Filosofia, na Sociologia e na Ciência Política. É um desses conceitos virulentos que se multiplicam em características e são voláteis ao mundo. De forma mais abstrata o conceito se assegura na condição política relacionada aos interesses do povo. Mas em sua condição de existência pragmática, diária, histórica, Democracia se alimenta de suas próprias mudanças.
Como forma dinâmica, Democracia assume o apelo da dupla hermenêutica. Na medida em que o conceito informa as pessoas e essas lhe assumem como referência ao comportamento, a Democracia se transforma com novos posicionamentos e alinhamentos e passa a informar os cientistas e filósofos. É um jogo sem fim. Democracia, de forma histórica, vive dentro de um círculo de práticas e reconceituações infinitas; não tem um ponto de chegada; nunca está pronta.
Democracia é a melhor forma diante de todas as outras porque é a única que permite a discussão republicana, a intensificação da cidadania, o fortalecimento das instituições e as possibilidades de transformação social e política em uma sociedade. Flutuam em seu céu nuvens e ventos de formações distintas, divergentes, diversificadas. Mas há um propósito: possibilitar a diversidade das ideias e ideais políticos e sociais. Democracia é um fenômeno de interesse político.
Outra coisa é a mera diversidade ampla ou seletiva que atinge a todos ou a muitos. Diversidades não são ocorrências que sempre implicam em Democracia. Não é possível, por exemplo, considerar que o fato de a contaminação por um vírus, generalizada e indistinta, seja uma conotação democrática. Vírus não carrega consigo uma intencionalidade política. Nem tudo que atinge a todos é uma decorrência da Democracia. Vírus não é um ser político, embora seja um bicho para a política dos humanos que merece até Comissão Parlamentar de Inquérito [CPI].
Quanto mais nos distanciamos das orientações conceituais sobre Democracia mais difícil sua aplicação e sua defesa. Neste céu carregado se encobre a luz e se forma uma tempestade turbulenta e trovejante. Uma tempestade que nos assusta e nos faz correr sem perceber os outros ao nosso redor; nos provoca o sentimento de refúgio no qual cada um busca um esconderijo e proteção pessoal.
O retorno ao debate e às práticas democráticas saúda a necessidade de recomposição da própria atitude democrática e refaz o próprio conteúdo conceitual da Democracia. Se somos diferentes [e somos!] não significa que somos democráticos. Aceitar o outro e suas diferenças, acreditar que ele transporta os direitos e deveres que eu prezo para mim, que merece o respeito que eu daria a mim, que as condições políticas nos são semelhantes é ato de esforço político-democrático.
A não aceitação da diversidade política, os xingamentos fumegados pela diferença de opinião e de posicionamento, o massacre de reputações, forjam, como ferro, o conflito da arrogância pessoal e da autocracia. E num Estado costurado em tom de Presidencialismo de Coalisão, governar pelo confronto e pelo conflito é o mesmo que se imaginar planando no céu quando se está cindo do abismo.