A omissão é um dos ingredientes cotidianos da culinária política. Em alguns casos a omissão pode ser deferida pela impossibilidade de se fazer o que deve ser feito por constrangimentos institucionais. Este é o caso da omissão de subordinados que, embora saibam sobre as implicações de suas ações, se sentem impedidos de fazê-las por consequências pessoais que teriam que assumir. O bem moral e institucional coletivo fica comprimido pelos custos imediatos como carga pesada a ser carregada. Ainda que existam possibilidades de anonimato em se anunciar fatos injustos, incorretos, ilegais, teme-se que o olho do malfeitor conecte a busca do denunciante.
Em todos os casos, o mais comum é a omissão intencional: a inércia proposital. Casos de evidente urgência ou necessidade são marcados pela incapacidade de se reconhecer o lugar que se ocupa, as responsabilidades do cargo que se exerce e as institucionalidades que derramam as regras sobre os indivíduos. Omissões de representantes públicos, o ambiente mais coletivo das responsabilidades públicas, são ensaios de resultados perversos.
A falta de ação é o mais estrondoso dos trovões governamentais quando se observa a pandemia do coronavírus. Desse abismo se tropeça no planejamento de políticas públicas, na execução do atendimento dos direitos e nas respostas anunciadas como esquivas de boxeadores. Se a vacina vem da China ou de Tuvalu, e assume todos os quesitos científicos, a origem não tem a menor relevância; se o partido de um governador ou prefeito é distante do governo federal ou dos presidentes do Senado ou Câmara dos Deputados, a catapulta eleitoral é pequenez dos delírios do poder. A omissão política é lágrima que descreve o rosto em funeral.
O perturbador repositório de respostas daqueles que deveriam assumir as responsabilidades e, por muitas vezes, reconhecer os erros e pedirem desculpas imediatas percorre em cartório a mesquinhez do comportamento humano. Os passos mambembes do idioma político, do dizer e desdizer, do manipular de sua própria língua [e na era da internet a prova é a cara falante de outrora], enfraquece a legitimidade da política como caminho firme ao bom debate e à governança. Para os heróis de si mesmos, e para os seguidores do heroísmo volante, assumir erros e pedir desculpas está mais para fraqueza do que para elevação moral.
Para aqueles que têm a responsabilidade de ativar, agir, mover, empreender as políticas públicas, o apego ao poder, o desejo de ser obedecido e o efeito canônico das decisões parecem embrutecer o bom senso, mofar o caráter estadista e sabotar as regras institucionais. O Eu de todas as horas e a envergadura do egoísmo somente poderão persistir pela escravidão social e política no caminho da ditadura ameaçadora.
Talvez seja mais crível, ou mesmo incrível, que retomemos a procura da lâmpada e do gênio: um servo capaz de realizar nossos desejos pessoais, forte e impassível; o desejo é pessoal e o custo da realização será sempre dos outros. O gênio da lâmpada é apenas a manifestação da vontade de si mesmo, do desejo incrustado em suas vísceras, da imponência do umbigo.
A omissão política esquece de seus direitos, esquece de você como cidadão, esquece que é por você que existe. Você é bicho de cativeiro, em engorda para o abate.