Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
A superioridade da moral e da ética
É preciso obedecer às regras morais mesmo quando elas não nos convêm ou criam obstáculos pessoais. Caso contrário, porque precisaríamos de regras? Valeria apenas a vontade de um autocrata [governo de um] para a definição dos processos políticos governamentais. Seria um absolutismo medieval.
Nem mesmo nas monarquias modernas isso é possível. A arbitragem não pode ser feita por um desejo individual, mas por um instituto geral que se sobrepõe à vontade particular em nome da vontade coletiva, ainda que seja da maioria. A vontade coletiva traduz o senso da “coisa” pública, da “cabeça” pública, da res-pública.
Esta é a razão política e moral principal pra o desprezo do nepotismo. Até mesmo em empresas privadas, o olhar de muitos sobre o acesso rápido e privilegiado de “parentes do dono” a cargos de chefia, controle e gerência desanima a linhagem de competências. Mas, no mundo do mercado a decisão sobre o patrimônio privado é de escala privada.
No mundo público a correlação é exatamente inversa. Os desafios que são encarados são [ou deveriam ser] em nome do coletivo, do público. A organização pública não produz riqueza, mas a consome em nome das regularidades coletivas jamais alcançadas no mundo privado. É em nome de terceiros [o público] que se faz a administração pública.
No Brasil, a partir da Constituição de 1988, os remendos de privilégios colocaram em desafios a criação da cidadania. O cobertor passou a cobrir com algodão grego alguns e deixou uma multidão ao relento da noite e ao massacre do dia. Ainda que trabalhe por toda a sua vida, parte das pessoas não mudará sua condição social. Muito para poucos, e pouquinho para muitos.
São tantos privilégios que perdemos a sensação do espanto: “- É assim mesmo! Quem entra na política se converte e enriquece. Se converte aos privilégios e entorta as linhas retas”. Mas, ao mesmo tempo, acreditamos que a política é o único caminho para solução dos problemas coletivos.
No andar de cada dia, nos deparamos com os “Amigos do Rei” e, por vezes, desacreditamos da existência da cidadania. Parentes de todos os tipos, de todas as linhagens, privilegiados pela “corrente sanguínea azul” assumem postos por “indicação” do Rei.
Não haverá competência técnica superior à Ética Pública, às regras dos Princípios Republicanos, aos requisitos do Espírito Democrático. Não há justificativa moral para que, independentemente de qualquer formação hiperbólica, privilégios sejam colocados acima do respeito ao cidadão.
O caráter de um governante está em avaliação a todo instante. Não é pelos acertos que o governante é bom, mas pelos erros, especialmente de caráter moral e ético, que ele é republicanamente ruim.