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Impeachment de Moisés está longe de ser um fato
A maioria dos deputados estaduais não antevê qualquer possibilidade do governador Carlos Moisés, a vice Daniela Reinehr e o secretário Jorge Eduardo Tasca sofrerem o impeachment em função da denúncia apresentada pelo defensor público Ralf Zimmer Júnior. Mesmo que se trate de um julgamento político, os parlamentares seguem um pensamento expresso pelo presidente da Assembleia, o deputado Julio Garcia, que confirma que receberá a defesa de Moisés e dos demais denunciados na próxima segunda (27), às 17h30, em audiência solicitada pelo secretário da Casa Civil Douglas Borba, que chegou a informar que o ato, protocolar, seria na sexta. Julio tem definido o pedido de impeachment como “um exagero”, uma situação de extrema crise, definida na Constituição de 1988, que não deve cair na banalidade. “Imagine se cada ato do governador originar um pedido desses”, acentua o presidente do parlamento estadual, ao completar que “se houve o erro, é só corrigir ou acionar o Tribunal de Contas ou o Ministério Público para que procedam a devida fiscalização e eventual penalidade” EM “MORO” QUE ESTÁ GANHANDO NÃO SE MEXE Foi tanta repercussão negativa que, quando aterrissou em Nova Dheli, na Índia, o presidente Jair Bolsonaro tratou de desfazer o mal-entendido e afirmou que está descartada a separação da Segurança Pública do Ministério da Justiça, comandado pelo ex-juiz federal Sérgio Moro. Foi quase ao mesmo tempo em que Moro recebia total apoio para manutenção das duas áreas na pasta do presidente em exercício, general Hamilton Mourão (PRTB), durante audiência no Palácio do Planalto. Uma das estrelas da administração Bolsonaro, Moro tem simpatizantes que não gostaram nada da tentativa de fritura, iniciada pelo pedido de 17 dos 27 secretários de Segurança Pública dos estados, com o aval do presidente das Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Se era para testar a força do ministro, que tem prioridades no combate ao crime organizado, à corrupção e aos crimes violentos, a estratégia morreu na casca. Era para “fazer onda” Julio define como uma tentativa de “fazer onda” o pedido de Ralf Zimmer Júnior, que vê crime de responsabilidade do governador, por, no mesmo ano, ter vetado a emenda na Reforma Administrativa, que concedia a equiparação entre os procuradores do Estado com os da Assembleia. Zimmer ficou sozinho, sem o apoio de entidades como a OAB ou mesmo no âmbito da Associação dos Defensores Públicos e da própria Defensoria Pública do Estado, o que levantou ilações sobre o interesse político partidário e até eleitoral de sua proposta. Zona de guerra Em um ambiente de ano eleitoral, análise da Minirreforma da Previdência no Serviço Público (ainda em fevereiro, para adequar a lei catarinense à federal, que gera repercussão negativa na Polícia Civil, IGP e Agentes do Sistema Prisional) e vários pedidos reivindicatórios de salário de servidores (principalmente PM e Bombeiro Militar), o pedido foi mais para aumentar a pressão sobre Moisés, que argumenta ter feito a equiparação para atender decisões do Tribunal de Justiça. É verdade que o governador, no primeiro ano de gestão, apertou o cinto e dedicou-se à transparência da gestão com sucesso, porém igualmente bateu de frente com privilégios disfarçados em benefícios e também exigiu que os deputados estaduais atuassem com força para corrigir equívocos notórios em algumas áreas. Na ponta do lápis O governador Carlos Moisés da Silva precisa de 14 votos para escapar do impeachment caso a denúncia por crime de responsabilidade chegue ao plenário, ou seja, são necessários 27 votos para cassar o mandato. Mas como bem disse o deputado Rodrigo Minotto (PDT), ao vivo no estúdio da Rádio Cidade em Dia FM, de Criciúma, na sexta (24), a maioria dos deputados não acredita que a denúncia feita por Ralf Zimmer Júnior passe da análise da Comissão Especial, composta por nove deputados, que dará ou não prosseguimento ao processo. Aliás O deputado Minotto é pré-candidato à prefeitura de Criciúma, o que aumenta para sete o número de postulante ao cargo. Embora a leitura seja a de que Minotto perdeu musculatura nos últimos dias, ele espera pelo apoio declarado do governador Carlos Moisés para seguir no projeto. Direto do Oeste O potencial exagerado do pedido de impeachment ganhou uma versão em cima de um adágio no Oeste: “Queriam matar o carrapato e deram um tiro na vaca”. Deram uma força De uns dias para cá, houve uma impulsionada do nome da vice-governadora Daniela Reinehr (Aliança Pelo Brasil), ora por ela estar cada vez mais próxima do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca se afastou, e, por isso, virar um nome para a sucessão de 2022, ora por ter cumprido uma interinidade à frente do Estado sem a contaminação do discurso dos conservadores mais radicais. Daniela, de fato, apareceu em quatro momentos no atual governo: quando tomou posse, pelos gastos na residência oficial em Florianópolis, no episódio do rompimento com Moisés por conta de Bolsonaro e pela política de incentivos fiscais sobre o agronegócio, e, por último, pelos 15 dias de exercício do cargo. O saldo não é tão exponencial, mas há a relevância de se criar uma sombra feminina no cenário político.