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Indo à praia
Acredite se quiser: já houve um tempo – e que nem vai tão longe assim – em que ir à praia consistia em despir a roupa “normal”, vestir o calção de banho (era assim que se chamava, não a horrenda “sunga”) e ir pisar a areia e dar umas braçadas na água do mar. Surgiu então a necessidade das “sandálias havaianas”, para facilitar o trajeto dentro da cidade, até a praia. Para as mulheres, complicou mais, com a necessidade “indispensável” de uma série de complementos: saída de praia, chapéu, óculos escuros – enfim, tralha a exigir uma grande bolsa a deixar na areia na hora do mergulho. Afinal, é pra isso que se vai à praia – ou não?! Claro, a bolsa serve também para a frascaria – filtro solar, bronzeador, repelente de insetos, comprimidos e remédios para indisposições leves. Ah, não esquecer os brinquedos, o baldinho e as forminhas das crianças, por favor. Já está bem complicado, embora seja evidente que esses itens ajudam, na hora de sair da água, a localizar o próprio “acampamento” entre os dos demais banhistas. O guarda-sol colorido, para evitar os excessos solares, nesse mister, é de grande ajuda – mesmo entre as dezenas, centenas de outros igualmente coloridos. Ah, sim, toalhas e esteiras para o banho de sol, sem isso não dá. Mas conforto pouco é bobagem, e passam a ser indispensáveis as cadeiras de alumínio, afinal trambolhosas mas tão leves, fáceis de carregar da garagem ou do porta-malas à praia... E já que estamos tão bem equipados, nem pensar em deixar de levar um baita cooler, com gelo, cerveja, refri, sucos e algumas vitualhas: depois de carregar tudo isso por algumas centenas de metros, tem-se esse direito, não é mesmo?! Tudo isso é compreensível: ver as pessoas trafegando com toda essa carga – já tem carrinhos, como os de supermercado ou aeroporto – pra passar umas poucas horas se queimando e adquirindo o bronzeado “de verão”, maior sucesso ao voltar ao trabalho, entre o pessoal branquelo. Foi o sonho do ano de trabalho... O que não dá pra entender é a grosseria, a incivilidade, a falta de noção das mais elementares bases de boa educação e respeito ao próximo, que é levar aparelhos de som. Seja para escutar o que for – desde futebol de copa do mundo, música de qualquer tipo, discurso do líder político tentando explicar suas falcatruas: nada justifica essa anomalia. Quem não consegue viver sem zoeira nos ouvidos, fique em casa. Faça umas horas extras no trabalho e pague um curso de boas maneiras. Praia é pra escutar as ondas do mar, as gaivotas e absolutamente mais nada.