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Uma mensagem de Deus ou fake news?
Dia desses, estava circulando pela BR-101, no trecho entre Itajaí e Porto Belo, indo para minha casa de praia em Mariscal – Bombinhas – quando percebi que um papel branco, em formato de folha sulfite A4, grudou no retrovisor do meu carro. Em um primeiro momento pensei deixar o papel desgrudar do retrovisor por conta da força do ar deslocado pelo próprio carro em movimento, mas, ele, inesperadamente, começou a fazer um barulho forte de bandeirola, tirando por completo a minha concentração ao volante do carro. O que, convenhamos, é muito perigoso na movimentadíssima BR-101, onde se transita em velocidade mais avantajada.
Em seguida também percebi que o papel tinha algo escrito e, em tom de brincadeira, falei para mim mesmo: ‘Magru, pegue a mensagem que Deus está te enviando’. Abri a janela do carro e peguei o papel. Fechei a janela do carro e passei rapidamente os olhos sobre o papel sujo e amassado, mostrando marcas de pneus de carros. Fiquei impactado com o título. Simplesmente estava escrito em destaque: CERTIDÃO DE ÓBITO. Tratava-se de uma certidão de cartório do Município Ouro – Santa Catarina – da senhora N.L.L.A.
Como eu estava circulando na pista da esquerda – destinada para os carros em velocidade mais alta – a primeira providência que tomei foi passar para a pista da direita e diminuir a velocidade do carro. Pensei também em parar a viagem assim que tivesse oportunidade para tanto, preservando minha segurança. Mas, fui tocando o veículo mais devagar e pensando algumas coisas. No final estava dirigindo com um olho no trânsito e outro na certidão de óbito, me perguntando: ‘Seria uma mensagem sobre o meu próprio óbito ou de alguém próximo a mim?’.
Chegando em Mariscal não larguei o celular, esperando que a qualquer momento ele fosse portador da mensagem real de óbito de alguém das minhas relações. Mas as horas foram passando, acabei dormindo e a ‘mensagem real’ acabou não chegando. Não morri e ninguém próximo a mim foi a óbito também.
No dia seguinte fiquei imaginando o que passaria por minha cabeça se a história tivesse outro desfecho, pela chegada da mensagem do falecimento de alguém ou por eu próprio ter sofrido um acidente. Minha vida, com certeza, estaria irremediavelmente mudada. Mas ficando do jeito que ficou, tudo saindo dentro da normalidade, pude continuar tocando a minha vidinha simples de agnóstico sem maiores crises éticas ou espiritual. A mensagem era ‘fake news’.