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Bairros de Itajaí e seus nomes
A câmara Municipal de Itajaí aprovou recentemente projeto de lei criando o bairro Santa Regina, além BR 101, entre a rodovia Jorge Lacerda e o Rio Itajaí-açu, até os limites com Ilhota. Por essa denominação recente dada ao novo bairro, invenção de loteador, os senhores vereadores desconsideraram a história de quase um século da Volta de Cima, nome antigo e carregado de tradições. Seus moradores estão descontentes, segundo notícias deste jornal. E com toda razão.
Autoridades públicas parecem não entender que pessoas são afeiçoadas a seus lugares, aos nomes deles, a coisas suas, a seus jeitos peculiares. Não se pode sair derrubando ou mudando tais coisas por decisões, decreto, ou por projeto de lei, mesmo que se tenha ouvido alguns nas tais audiências públicas. É preciso respeitar o sentimento do povo. De outro modo, o exato limite dos bairros da cidade de Itajaí e suas denominações de há muito estão a merecer cuidadoso trabalho técnico que envolva os poderes.
Executivo e Legislativo municipais, com a contribuição de técnicos em urbanismo, geógrafos e historiadores.
Projeto de lei isolado, como o de agora, não resolve. Há, hoje, enormes confusões e muitas dúvidas. Por exemplo: existem os bairros Carvalho e Ressacada, ou um só? Qual? Onde o bairro Barra do Rio termina e começa o Imaruí? É Imaruí ou Maruim? Nas faturas do Semasa, até recentemente, indicava-se sua sede, na esquina da rua Heitor Pereira Liberato com a rua Carlos Seára, no coração da Vila Operária, como bairro São Judas!
Agora, os vereadores, pressionados por demandas localizadas nessa questão, muitas vezes são levados a incorrer em propostas que mais desagradam do que satisfazem. Em Itajaí há um histórico dessas situações. Senão, veja-se. Antes, mudou a Câmara Municipal o nome do bairro Praia Brava para Santa Clara, sob a alegação de que o adjetivo brava depunha contra a praia. Agora, brava é uma grife e se quer voltar ao nome Praia Brava, que na verdade ninguém nunca deixou de usar!
Mas a situação mais insólita aconteceu no ano de 1970, quando o Brasil se sagrou tricampeão de futebol no México e as cidades mexicanas em que a seleção brasileira jogou ficaram muito conhecidas. Um vereador desportista entendeu de dar o nome Guadalajara ao bairro Fazendinha, numa homenagem à cidade mexicana, em que a delegação brasileira se hospedou e fora muito bem recebida por toda a população de lá. O projeto de lei, como era de se esperar, gerou grande celeuma na Câmara Municipal, quando posto em discussão. Os ânimos se acirraram e parecia não haver um denominador comum. Foi quando outro vereador, campeão de votos por três mandatos, que, no entanto, nunca abrira a boca para nada, que em todas as sessões entrava mudo e saía calado, de repente, no meio da confusão, pediu a palavra. Os vereadores todos ficaram espantados. Fez-se silêncio no plenário. Atônitos, voltaram-se para o vereador antes silente que, depois de quase uma década calado, enfim, ia falar. O Presidente, solene, anunciou: “- Como a palavra o nobre Vereador...!” Ele se levantou e empertigado, com a voz tímida dos iniciantes, então, indagou, na santa insciência dos inocentes:
“- Senhor presidente, vossa excelência pode me dizer se esse senhor Guadalajara é morto ou ainda vive no México? “
A sessão terminou por ali...