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O sonho de Altino
Altino sentou-se à frente da varanda de sua casa. Vislumbrou o verde do gramado e, levantando os olhos, percebeu o céu timidamente aclarar. Estava ali, entregando-se à luz do sol que timidamente mostrava o rosto no reponte.
Entre a consciência e o sonambulismo de um recém desperto, fechou os olhos e mergulhou novamente no sonho.
Nele viu uma mulher de lindo rosto que atirou algo que ele pegou no ar e segurou sem identificar. Lembrou-se de uma multidão e de sua tentativa de fuga do tumulto à sua volta, desviando de pessoas em ruelas apertadas. Sentia que havia alguém lhe vigiando, alguém com olhos presos em cada um dos seus passos. Contudo, não conseguia identificar o vigilante.
Lembrou-se que em meio à sua tentativa de fuga, depois de alguns passos, vislumbrou uma estrada aberta à sua frente e que naquele mesmo instante uma mão se postara em seu ombro.
Suando frio, perguntou-se: seria o vigilante? O que ele desejava? Por que Altino seria o escolhido em meio a uma multidão? O que havia feito de errado? Não tinha nada a oferecer a ninguém e também não tinha nada a esconder. Por que o vigiavam? Quem era que lhe segurava o ombro?
Tentou pensar em algum crime que tivesse cometido, talvez fosse algum sentimento de culpa lhe cobrando o preço no sonho. Lembrou-se de que certa vez ofendeu um motorista que quase lhe atropelara na faixa de segurança. Seria por esse motivo? Não, pensou, logo desprezando a possibilidade. Era muito insignificante e o motorista provavelmente não ouviu.
Imaginou que fosse o olhar de volúpia despendido à menina casada que usava sempre um lindo decote ao lhe atender na padaria. Descartou a possibilidade, pois a mulher, apesar disso, nunca lhe chamou a atenção pela falta de outros atributos.
Buscou na memória qualquer outra coisa que tivesse feito de errado. Algo que pudesse ser responsável por aquele vigia e aquela mão. Nada lhe ocorria.
Será que teria ofendido alguém, olhado feio ou faltado com respeito a alguma pessoa? Não. Não identificara nenhuma culpa que pudesse ser responsável por aquela vigilância.
Lembrou-se do objeto e, apertando as mãos, percebeu que era uma chave.
Claro!, pensou, o lindo rosto lhe entregou uma chave e havia uma estrada aberta a sua frente.
Finalmente abriu os olhos, entendendo o recado que o sonho lhe passou.