Por Alfa Bile - alfabile@gmail.com
Fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global @alfabile | @alfabilegaleria
Publicado 23/12/2025 08:03
Escrevo muito sobre amor.
Sobre encontros, gestos, ausências, aproximações. Nem sempre sobre algo que vivi exatamente como descrevo — mas sobre aquilo que a mente permite viver quando está aberta à imaginação, à escuta e ao desejo de compreender o humano.
A poesia, pra mim, não precisa ser autobiografia literal. Ela pode ser experiência sensível. Pode nascer da observação, da empatia, daquilo que poderia ter sido ou ainda pode ser. Geografia do Afeto surgiu desse lugar: o espaço interno onde sentimentos ganham forma antes mesmo de terem acontecido.
Esse poema fala de orientação emocional.
De como certas presenças viram norte, abrigo, chão.
De como o tempo muda de comportamento quando estamos ao lado de alguém que nos atravessa de verdade — mesmo que esse alguém exista, por enquanto, mais no campo da criação do que da convivência.
Não quis rimar.
Quis sustentar o verso pelo sentido, pelo gesto, pela imagem.
Cheiro, riso, mão, beijo — pequenas coisas que constroem mapas invisíveis dentro da gente.
O afeto também é geografia: tem direção, temperatura, permanência.
No fim, o poema chega onde sempre acabo voltando:
a ideia de que o amor não precisa ser explicado.
Ele apenas faz da gente um lugar possível de habitar.
Abaixo, deixo o poema completo:
Por Alfa Bile
📍 Itajaí, 7 de dezembro de 2025
Minhas primaveras
aprendem teu cheiro
antes das flores
Teu riso —
caminhos seguros
por onde meus pés seguem
Ao teu lado,
o tempo perde o hábito de passar
fico raro,
como quem acende estrelas
para atravessar o próprio escuro
Tua mão —
um norte sem bússola
Teus beijos,
herança antiga
que compra o agora
Quero-te aqui
como o corpo quer o ar
sem saber nomeá-lo
Não rimo.
O verso se sustenta
no modo como existes
E existes
fazendo de mim
recanto habitável
Esse poema é sobre o que sinto, imagino e permito sentir.
Sobre amar também como exercício de criação.
E sobre transformar sentimento em território onde a poesia possa morar.
📸 ✍️ Alfa Bile — VersoLuz | Jornal Diarinho
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