Por Alfa Bile - alfabile@gmail.com
Fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global @alfabile | @alfabilegaleria
Publicado 28/11/2025 09:28
Olá, leitores do VersoLuz.
Hoje eu não trago apenas uma poesia ou uma imagem, mas um pedaço cru da minha história aqui em Itajaí.
Escrevendo esta crônica, fui transportado de volta para a casa da minha avó Júlia, na beira do rio, em meados dos anos 90. Lembrei de como tratávamos a natureza naquela época — com uma ignorância que hoje assusta — e fiquei pensando: evoluímos muito no saneamento básico, mas e no "saneamento" da nossa alma?
Às vezes, é preciso olhar para o rio do passado para entender o que estamos deixando fluir dentro de nós hoje.
Espero que estas palavras encontrem eco aí do outro lado.
Quando eu era criança, fui criado na casa de minha avó Júlia, uma senhora simpática que sempre fazia um café fresquinho para os pescadores que, cotidianamente, trabalhavam e visitavam seus barcos, acessando-os pelo trapiche ao lado da casa dela.
A casa era humilde, simples, feita de madeira e suspensa, literalmente, na beira do rio Itajaí-Açu.
Não existia internet, televisão chegou mais tarde. Me lembro da simplicidade, de uma época em que na vizinhança não existiam McDonald’s, shoppings… Mas me lembro das brincadeiras com os amigos, dos pescadores indo pescar com seus barcos, das aves que hoje dificilmente são avistadas, do acordar com o canto das Aracuas, das galinhas no galinheiro e de muito pé no chão.
Era meados dos anos 1990. Eu ainda criança, vivia em uma casa onde o banheiro era um anexo de madeira, mal acabado, e onde toda a sujeira, feita no balde, em uma sacola, acabava indo para… o próprio rio.
O mesmo rio onde nos divertíamos em banhos escondidos dos pais e avós, onde pulávamos sem medo, e que era palco de nossas descobertas e brincadeiras.
Não existiam incentivos populares para os cuidados com a natureza como temos hoje na TV, rádio, internet… O conhecimento não era tão bem difundido.
Sim, é inacreditável imaginar que esse era um costume comum na vizinhança da época. Pelo menos, é isso que recordam minhas lembranças mais longínquas.
❓ E seu lixo, onde você desagua?
Hoje, olhando para trás, me pergunto como chegamos a esse ponto. Aquele mesmo rio, palco de nossas brincadeiras e ignorância, agora é um símbolo daquilo que precisamos mudar em nós mesmos.
Faço uma conexão com nosso lixo pessoal: os aprendizados errôneos, nossos preconceitos, traumas, nosso pior eu.
📌 Para onde tudo isso vai?
Hoje em dia, é impensável imaginar esse cenário que estou relatando. É, de fato, um crime ambiental.
E nossos sentimentos menos valiosos, será que também evoluíram com o passar dos anos? Ou ainda jogamos no rio da nossa ignorância, de nossos medos e incapacidades?
Ainda jogamos no rio da nossa ignorância os preconceitos que não queremos confrontar, as inseguranças que insistimos em esconder, e os medos que nos paralisam. Como o lixo do passado, essas emoções se acumulam e afetam nossas relações e nossa sociedade.
📲 Hoje temos acesso a todas as informações, embora muitas delas, infelizmente, estejam encobertas ou imersas em fake news.
Mesmo assim, elas existem, muito mais palpáveis do que em minha infância.
🚨 Ainda hoje vejo negligenciada e mal difundida a importância da saúde mental. Seguimos jogando no rio o que não entendemos, os sentimentos que nos rompem, os transtornos que não queremos — ou não querem — descobrir.
Nossa evolução depende de conhecimento, tanto individual quanto coletivo.
Se não buscamos saber das coisas, seguiremos jogando tudo no rio, de maneira autodestrutiva e covarde.
A metáfora do rio é forte para mim. E para você? Em tempos de tanta informação externa, como você tem cuidado da sua ecologia interna? Deixe seu comentário aqui no blog, quero saber a sua opinião.
Alfa Bile
Artista visual, poeta e colunista do VersoLuz
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Publicado 27/11/2025 20:10