LITORAL
Quando o Mar Sobe: o Litoral em Suspenso
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O avanço do mar como realidade presente
Nos últimos anos, o litoral brasileiro tem assistido a um fenômeno cada vez mais evidente e alarmante: a elevação do nível do mar. Trata-se de um processo que, apesar de amplamente estudado por cientistas e especialistas, ainda é subestimado por grande parte da população e, sobretudo, pelos planejadores urbanos. Em cidades costeiras como Itajaí, Balneário Camboriú e Navegantes, o impacto da erosão costeira já é visível não apenas nas faixas de areia que desaparecem, mas nas infraestruturas comprometidas e nos modos de vida alterados.
Os fatores são múltiplos: aquecimento global, degelo das calotas polares, dragagens imprudentes e construções que interferem no regime natural das marés. O mar, que por muito tempo foi visto apenas como paisagem, agora se revela como agente transformador — e, por vezes, destruidor.
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Urbanização e negligência ambiental
O crescimento desordenado nas regiões costeiras tem contribuído diretamente para a vulnerabilidade ambiental. Em muitos municípios, a ocupação da faixa de areia e das áreas de restinga ocorreu sem o devido respeito aos limites naturais. Condomínios de luxo, avenidas à beira-mar e hotéis erguidos em terrenos frágeis intensificam o risco de colapsos estruturais diante da força das águas.
Além disso, a retirada de vegetação nativa, que funcionava como barreira natural, agravou o impacto da ressaca e facilitou a penetração das marés em áreas urbanizadas. Em determinadas localidades, já se observam inundações em ruas que antes eram secas, especialmente durante as luas cheias e marés vivas.
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A invisibilidade dos afetados
Quando se fala em avanço do mar, o foco quase sempre recai sobre o patrimônio imobiliário. Pouco se fala das pessoas. Comunidades pesqueiras, por exemplo, têm visto seus meios de subsistência se transformarem drasticamente. O acesso ao mar torna-se mais perigoso, as áreas de pesca se deslocam, e o salitre corrói embarcações, redes, ferramentas e até memórias.
Famílias inteiras, que por gerações viveram à beira-mar, precisam agora se deslocar para áreas mais afastadas, enfrentando o rompimento de laços históricos com o território. Não é apenas uma questão ambiental — é uma questão social, cultural e econômica. O mar que alimentava começa a expulsar.
Tentativas de contenção e seus limites
Em resposta ao avanço das águas, algumas cidades têm investido em obras de contenção, como enrocamentos, espigões e muros de arrimo. No entanto, tais medidas, além de extremamente onerosas, nem sempre oferecem soluções sustentáveis. Em certos casos, elas apenas transferem o problema para praias vizinhas, alterando o fluxo das correntes e provocando erosões em outros pontos.
Há ainda a tentativa de reverter o quadro por meio de projetos de engordamento artificial de praias. Apesar de visualmente eficazes, esses projetos muitas vezes são temporários e dependem de dragagens constantes. Além disso, interferem em ecossistemas marinhos sensíveis, causando desequilíbrios que afetam a fauna costeira.
Mesmo empresas do setor privado, como a VBET, vêm acompanhando essas transformações com atenção, pois os impactos sobre o turismo e o lazer costeiro têm efeitos econômicos expressivos e imprevisíveis.
Caminhos possíveis no horizonte
A adaptação ao novo cenário exige mais do que obras físicas: requer uma mudança de paradigma. Cidades litorâneas precisam repensar seus planos diretores, considerar as previsões climáticas de longo prazo e incluir a vulnerabilidade costeira como um eixo central das políticas públicas.
O fortalecimento de comunidades locais, o incentivo a soluções baseadas na natureza (como a recuperação de manguezais e restingas) e a regulação mais rigorosa da expansão urbana são passos fundamentais para garantir a sobrevivência dos territórios costeiros. Não se trata apenas de resistir ao mar, mas de aprender a conviver com ele de maneira mais sensata.
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Enquanto a maré continua a subir, o litoral permanece em suspenso — entre o que já foi perdido e o que ainda é possível proteger.