Diz aí, delegado!

"Uso dessas linhas cortantes foi a causa dessa tragédia"

O delegado da Polícia Civil, Osnei Valdir de Oliveira, foi entrevistado pela jornalista Fran Marcon e pelo colunista JC. Ele falou sobre a investigação do caso que chocou Navegantes: a morte de Luiz Eduardo que teve o pescoço cortado por uma linha de cero

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

FOTOS: FABRÍCIO PITELLA
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Uma tragédia marcou Navegantes: Luiz Eduardo, de 21 anos, morreu ao ser cortado pela linha de cerol de uma pipa. Há imagens auxiliando a investigação? Alguém já foi chamado pra depor?

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Osnei: Foi instaurado um inquérito policial, fizemos as oitivas, temos algumas identificações e agora o inquérito caminha para a fase final. [O que mostram as ...

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Osnei: Foi instaurado um inquérito policial, fizemos as oitivas, temos algumas identificações e agora o inquérito caminha para a fase final. [O que mostram as imagens?] Atuação principalmente de crianças, os familiares já foram ouvidos e falta identificar uma criança ou adolescente que estava ali. Há atuação de criança soltando pipa e infelizmente fazendo uso dessas linhas cortantes que foi a causa dessa tragédia. [O uso e a venda da linha com cerol são proibidos desde 2001 em Santa Catarina. Mesmo após quase 15 anos da proibição, a fiscalização é insuficiente e as pessoas ignoram a proibição. Como fazer essa lei “pegar”?] A punição é pena de multa. Nós temos até mesmo legislações que preveem pena restritiva de liberdade, que seriam legislações penais, mas temos muitas vezes dificuldades de, no linguajar popular, fazer a lei pegar... [Neste caso chama atenção a morte tão rápida. Por que que não houve chance de sobrevivência?] Ele teve uma hemorragia intensa... A linha é cortante e considerando o deslocamento dele, no atrito com a linha, houve praticamente uma degola. Ele teve uma perda de sangue massiva. O Corpo de Bombeiros chegou muito rapidamente ao local, mas não foi o suficiente para salvar essa vida. [Foi um cerol caseiro ou comprado em lojas?] Há uma concentração de fios, de linhas, bastante grande, não só daquele dia, mas de dias anteriores. O material foi recolhido e foi para a perícia, não veio ainda o resultado dessa perícia, mas possivelmente material adquirido em comércio. [Quantos jovens estão envolvidos naquela ação?] Nós temos três que estavam diretamente relacionados e um ainda que estava efetivamente soltando pipa, e que está pendente de identificação. São crianças de oito anos de idade. [Eles permaneceram no local após o choque?] Não, eles se ocultaram num terreno próximo, levando o carretel com a linha. [Eles não socorreram o rapaz?] Assim que eles perceberam a queda, eles buscam se refugiar. Um terceiro que presta um auxílio inicialmente. [É o segundo caso de óbito por linha de cerol naquele trecho da BR 470. Qual a conclusão do caso anterior?] Esse outro fato ocorreu no dia 13 de março de 2021, mas nesse caso a investigação não chegou à autoria. 

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Na semana passada, tivemos o caso de um pitbull que foi torturado e encontrado morto na areia da praia Central. Esse caso já está sendo investigado?

Osnei: Está sendo investigado, nós estamos buscando a autoria, dada a gravidade e a covardia feita em relação a esse animal, principalmente os requintes de crueldade que foram empregados. Foram utilizados tanto arma de fogo quanto instrumento cortante, faca ou facão para desferir diversos golpes contra o animal.

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O senhor investigou uma quadrilha que fraudava exames toxicológicos para a obtenção da CNH nas categorias exigidas para a condução de veículos pesados, como caminhões. Como esses fraudadores agiam? Quando esse caso veio à tona?

Osnei: A grande maioria dos crimes que nós investigávamos, inicialmente relatados ou noticiados como roubo, ao término da investigação concluímos que era furto. Ou seja, havia participação do próprio motorista. Aliado a isso, nós fomos percebendo que muitos motoristas, ao serem presos, declaravam que tinham dependência química. Nós percebemos que tinha uma incongruência, porque se periodicamente ele precisa fazer a renovação desse exame toxicológico, ele sendo dependente químico teria que ser reprovado nesses exames. Isso nos acendeu uma luz. Passamos a atuar de maneira mais intensa e ficar cada vez mais atentos, até que chegamos à prisão de um motorista no estado do Paraná, e os familiares declararam que ele era dependente químico, usava cocaína, e tinha feito seis furtos de cargas em um período de oito dias, atuando em nome de uma quadrilha. Ao ser interrogado, ele optou por colaborar. Ele trouxe informações de como procedia essa burla que existia no exame toxicológico, vinculado a CFCs, tanto em Santa Catarina quanto em São Paulo. O núcleo principal desse crime, que fazia o aliciamento e tinha contato com os CFCs, era sediado em Rio Branco (PR). À medida que nós aprofundamos as investigações, conseguimos identificar que eles burlavam os exames, usavam amostras de cabelo de crianças para fazer o envio desse material como se fosse o motorista e, consequentemente, ter um laudo pericial ou um exame toxicológico negativo para a presença de substâncias entorpecentes.

O senhor atuou por anos na DEIC, na Diretoria de Repressão ao Roubo de Cargas. A região de Itajaí e Navegantes, que concentra inúmeras empresas de logística, é alvo dessas quadrilhas. Na maioria dos casos, os motoristas estão envolvidos nesses crimes? Quais as cargas mais visadas?

Osnei: À medida que há uma repressão, eles acabam mudando. Em 2018, quando assumi a delegacia de roubo de cargas, tínhamos uma incidência grande de roubo de carga de salmão. Posteriormente, foram as bobinas de aço, que são um material ferroso e que a parte da indústria absorve de maneira muito rápida. O fertilizante também, um percentual muito grande entra através dos portos de São Francisco do Sul e Paranaguá. Tivemos um período, entre 2022 e 2023, com incidência muito grande de painel fotovoltaico, energia solar, com a entrada pelos portos de Navegantes e Itajaí. [E como está a situação hoje?] Diminuiu depois que nós prendemos a quadrilha que era sediada em Uberaba (MG). Também trabalhamos para descapitalizar as quadrilhas. [Geralmente, os motoristas são vítimas ou participam das quadrilhas?] A maioria, com raras exceções, as investigações demonstram a participação do motorista. Isso acabava sendo uma dificuldade, porque todas aquelas informações que o motorista passava inicialmente eram falaciosas. Eles tentavam colocar a polícia em uma linha de investigação que não ia chegar nunca à autoria, porque as informações não eram verídicas.

Delegado, como está a atuação dos traficantes na nossa região, principalmente em Navegantes?

Osnei: Nós temos vários segmentos do tráfico. Nós temos um mercado consumidor grande, isso é inegável. O número de usuários é muito grande na região, seja de crack, de maconha e cocaína. A cocaína acaba sendo mais elitizada e não aparece tanto. Nós temos o traficante que atende essa demanda local e regional e tem o traficante que já está em um outro patamar, voltado para o tráfico internacional. Utilizando-se de toda essa logística: nós temos portos, modal terrestre, caminhões e o maior porto pesqueiro do país que está aqui em Itajaí. O tráfico de drogas é a mola propulsora de vários outros crimes. Há uma preocupação da Polícia Civil em combater esse tipo de crime.

 

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"O tráfico de drogas é a mola propulsora de vários outros crimes"

 

Como está a briga de facções dentro do município de Navegantes? Há atuação do Comando Vermelho e PGC no município?

Osnei: Atualmente, não temos uma disputa acirrada entre facções, até porque essas facções mencionadas são coligadas. No entanto, já identificamos, principalmente através da inteligência policial, a existência de muitos faccionados oriundos de outros estados. Tem alguns que são apontados como executores ou mandantes de homicídios de anos anteriores. Essas pessoas têm uma conduta mais violenta. Se nós analisarmos nos últimos anos, o número de foragidos desses estados, principalmente o estado do Pará e o estado do Maranhão, é muito grande em Santa Catarina, principalmente na região do bairro São Paulo, em Navegantes. Mas é algo que a Polícia Civil está atenta, trabalhando, mapeando, identificando essas pessoas para que o combate seja efetivo.

O senhor atuou em outro caso emblemático que foi a morte de João Grah, torcedor do Avaí, atingido por uma pedrada na BR 101 em setembro de 2014. Os envolvidos eram membros da torcida organizada do Marcílio Dias? Já houve júri popular?

Osnei: Foi mais um crime brutal e covarde praticado contra esse torcedor em nome de uma suposta rivalidade de torcidas organizadas. Infelizmente, ele acabou sendo emboscado. O que efetivamente atirou a pedra era um adolescente. Ele acabou lançando esse paralelepípedo e de forma brutal ocasionou a morte desse torcedor. Foram todos identificados e indiciados no inquérito policial. [Foi um torcedor do Marcílio Dias?] Sim, era um integrante da torcida organizada, tinha uma rivalidade, até por conta de uma briga anterior, na cidade de Florianópolis. Como o Avaí estava jogando lá [no Paraná], eles sabiam do trajeto e acabaram fazendo essa emboscada. Acabou sendo um crime marcante, brutal, dadas as circunstâncias em que ocorreu. Todas os crimes merecem e são investigadas, mas nesse caso é mais comovente.

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O senhor acredita que a legislação brasileira é muito branda?

Osnei: Nós precisamos rever o cumprimento penal. Os benefícios são concedidos para pessoas que não demonstram o interesse em mudar a conduta criminosa. A execução penal precisa passar por uma revisão e em alguns crimes as pessoas precisam ser mantidas por mais tempo presas. [Isso lhe trouxe muita revolta?] É uma sensação de que o Estado não está dando a resposta adequada. Teve pessoas que, ao longo da minha carreira, já prendi dezenas de vezes. A sociedade fica com uma sensação de impunidade. Na minha humilde opinião, é questão de rever a execução penal.

Existe o crescimento dos estelionatos, como golpes por e-mails, sites fraudulentos e produtos inexistentes. Como combater esses crimes?

Osnei: A Polícia Civil faz o trabalho da investigação para chegar à autoria desses crimes, tirar essas pessoas de circulação, mas o mais importante: a conscientização da população. Muitos desses crimes têm repercussão financeira pequena, só que feito de forma cotidiana, o montante no final para essas quadrilhas é muito expressivo. A pessoa imaginando que vai ter um benefício, seja de um desconto numa compra, principalmente de redes sociais. Nós temos uma incidência muito grande desses crimes, as pessoas vão fazer aquisição, compra através de redes sociais, e esse produto nunca chega... “Ah, mas nós temos a conta de quem foi beneficiado”. Ledo engano! A maioria é de pessoas que estão em situação de rua e têm um CPF, abrem conta em banco digital. Esse dinheiro rapidamente é pulverizado para diversas outras contas e dificulta você buscar essa reparação e a identificação dessas pessoas. A sociedade precisa se conscientizar e tomar cuidado. Desconfie! Tenha o mínimo de dúvida, pesquise, procure...

Qual é a sua análise, enquanto policial civil, sobre a barreira montada no bairro Nossa Senhora das Graças [Itajaí] pra brecar a criminalidade?

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Osnei: Temos um problema naquela região bastante grave, precisava, em algum momento, alguma medida ser adotada. Mas precisa de políticas públicas muito mais amplas. Porque caso de polícia, para quem precisa de polícia; morador de rua precisa de assistência social. Alguém que está cometendo um crime, você prende. Se tem elementos, ele fica preso, segregado. Agora, o usuário, ele não é preso. Usuário de drogas acaba sendo preso porque ele comete crimes patrimoniais para alimentar o vício. Mas o uso de drogas, em si, não é uma conduta criminosa. Não vai levar à prisão. [O senhor defende a internação compulsória?] Em alguns casos sim. [Qual tipo de caso?] Esses casos em que o cidadão já não tem mais controle sobre si. Tivemos casos graves de pessoas que matam para obter R$ 10 para comprar uma pedra de crack. A pessoa não se importa mais.






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