Pavan: O Dalmo era um homem que não perdoava erros. Se torcia o jornal, saía sangue. Mas era o tipo de pessoa que eu gostava: gostava da forma de fazer. Para mostrar para o DIARINHO, eu pegava um ônibus, enchia de imprensa e percorria o município para conhecer as obras. Sabe por que "zebra"? Nós tínhamos nove vereadores. A maioria era engenheiros, arquitetos, advogados, diretores de escola e o presidente da casa. Só havia um cara, o Terrível, que era o mais popular, cuidava de boate. E outro que era garçom [Pavan]. Esse garçom enfrentou todos esses vereadores, o prefeito da cidade, um grupo chamado da direita — todo mundo. Eu era do PDT e meu vice era do PT. Na época, o PT tinha só oito anos de criação. Ser do PT naquele período, era dizer que era tão comunista que comia criancinha. Mesmo assim, o PDT, com o PT, derrotou todos eles com mais de 50% dos votos, em 1988. Por isso veio uma zebra com o pescoço bem grande na capa do jornal. A piscina: eu era prefeito e queria ligar duas ruas no bairro das Nações. Em cima de uma rua, um advogado do Paraná construiu uma piscina. Cada vez que eu mandava abrir a rua, o dito cujo puxava uma arma e apontava de cima da sacada. Ninguém queria ir lá. Eu mandei deixar a máquina ligada, porque eu não sabia ligar. Eu fui demolir a piscina. Derrubei o muro, entrei na piscina, coloquei a máquina e abri a rua. O homem não atirou. O Opalão? Eu dirigia meu carro. Estava indo a um jogo estadual, o Bellini era o diretor de esporte. Na descida da serra Dona Francisca soltou a roda dianteira. O carro deu vários tombos. Cheguei em Balneário Camboriú e disse: "quero rodar na avenida Atlântica com o carro daquele jeito, todo amassado, quebrado, sem vidro, sem nada — e eu dirigindo". Eu dirigi o carro na avenida Atlântica para mostrar: não morri!
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Esta semana, o senhor foi o único prefeito da região a comparecer a um evento do BNDES, com a participação do Mercadante. Não ficou com medo de ser chamado de “petista/comunista”?
Pavan: O meu partido é Camboriú. Podem me chamar de petista, comunista, direitista, verdista, vermelhista, o que quiserem. Eu quero é buscar os recursos que estão à disposição da minha cidade. Camboriú é uma cidade que precisa de investimentos. Uma cidade que tem dificuldade de sobreviver. Nosso orçamento é de R$ 450 milhões. Ontem [quarta] mesmo fui a Rio dos Cedros. Peguei um helicóptero emprestado da FG e fui até lá porque o ministro da Agricultura estava presente. Fui lá apresentar os projetos. [Esse é o papel do gestor, independentemente do partido?] Quem fica olhando para essa questão [ideológica] é muito burro. O povo não tem culpa. O Lula esteve aqui. Eu fui falar com o Lula. O que eu fiz? Peguei os bilhetes, escrevi rapidamente os protocolos e enfiei no bolso dele. Ele pegou o bilhete, olhou e colocou no bolso de trás. Três dias depois, ele me ligou: “O teu projeto vai estar no PAC”. [A Juliana Pavan, sua filha, tem evitado eventos com o Lula ou ministros...] Cada um, cada um. Ela deve ter suas pretensões. O pai não tem medo.
"Gratidão é maior do que o amor”
O senhor foi notícia nacional por se posicionar a favor da isenção de imposto de renda dos mais pobres. Os bilionários precisam pagar mais IR?
Pavan: O bilionário vai ganhar dinheiro quando se isentar o pobre. Vou dar um exemplo: a isenção do imposto de renda. Quem ganha até R$ 5 mil pode chegar até R$ 7 mil. E onde vai esse dinheiro do imposto de renda? Vai em comida, roupas. Na Havan, na Millium, no Magazine Luiza. Indo comprar comida, quem é que faz comida? O agronegócio! Os bilionários. Então, quando se isenta o pobre, tem que se taxar o rico.
Esta semana, por meio da Amfri, Camboriú e BC garantiram R$ 73 milhões pra obra do parque inundável. Qual é o próximo passo para a obra?
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Pavan: O dinheiro foi assinado, mas ainda será liberado. Enquanto não vem, eu disse: comecem a ver as desapropriações. Aliás, eu defendo a privatização. Mas é preciso pagar a desapropriação. Com esse recurso, já podemos fazer o lago, que terá 600 mil m² de área para água. O lago precisa ser feito já, assim como todo o dique, que será amplo, e a estrada, larga. Vou conversar com a Auri Pavoni e com a Juliana para que a iniciativa privada administre aquilo. É melhor que o setor privado gere empregos, cuide e conduza as construções. Ali será a Nova Camboriú. Vamos ter um aeroporto na região que denominei de Nova Camboriú, que fica depois do parque inundável.
"O amor acontece. A gratidão tu não esqueces nunca mais”
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O senhor afirmou recentemente que Camboriú foi procurada para a construção de um autódromo. Como está esse projeto?
Pavan: O autódromo eles já compraram o terreno. Já compraram, mas ainda não têm os investidores. O aeroporto, sim — eles já compraram a área e contam com 95 investidores. A área do autódromo está definida. Quando construíram as torres lá no bairro Macacos acabaram com a área disponível. Eu não sei como o prefeito da época permitiu... Construíram todas aquelas torres numa área nobre, plana. O que aconteceu? Ficaram 60 metros para um lado e para o outro onde nunca mais se pode construir. Restou o quê? Fazer o autódromo, porque os carros podem passar por baixo, podem circular. Isso facilitou ainda mais a construção e a instalação do autódromo. Para você ter uma ideia, eu fui o primeiro a comprar uma área de terra que vai ficar de frente para o autódromo. Comprei porque acredito que o autódromo vai sair. Quero construir um hotel. Eu, com meus 72 anos, talvez nem devesse fazer isso, mas sou focado em investimento... Onde comprei, vai ter um hotel. [O senhor fala que comprou um terreno, parece que o senhor tem informação privilegiada por ser prefeito. Isso não pega mal?] Eu venho falando há tempo que Camboriú vai ter o maior conjunto de prédios com marina do mundo. Estão comprando. Se forem no meu gabinete, vou mostrar onde Camboriú vai crescer. E digo: comprem em Camboriú porque vai valorizar. Camboriú é a bola da vez. Se eu sei que algo vai ser construído, sou o primeiro a dar o exemplo.
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A Águas de Camboriú anunciou investimentos para ampliar a rede de abastecimento visando a temporada de verão. Quais garantias o município tem de que não haverá falta de água?
Pavan: Eu tenho que torcer para que não haja estiagem. Nós temos o parque linear. A vala que leva água para Balneário Camboriú, por onde passa a água, é mais estreita que essa mesa aqui. Essa água vai para uma estação de tratamento, é tratada e retorna para Camboriú. O parque linear estava totalmente assoreado. Estamos retirando mais de mil caminhões de areia... A Aegea é uma empresa privada. Ela tem que trabalhar para que não falte água. Tem que instalar estações de tratamento de água (ETAs). Lá no Rio Pequeno, a Aegea já anunciou que vai tratar a água daquela região. Isso é obrigação. E terão que cumprir rigorosamente.
"Lula pegou o bilhete, colocou no bolso de trás. Três dias depois, ele me ligou: “O teu projeto vai estar no PAC”
A Festa Farroupilha deste ano foi realizada "em cima do laço", devido à demora na votação da lei na câmara. Faltou força política para aprovar a lei com antecedência? Como está atualmente seu relacionamento com a câmara?
Pavan: No ano passado, gastaram mais de R$ 1,2 milhão para fazer a Festa Farroupilha. É muito dinheiro. Aí eu comecei a analisar: quanto custam os galpões? Quanto custa a tenda? E o palco? A energia? O banheiro químico? Com R$ 450 mil eu fazia tudo. Enviei o projeto para a câmara uns dois, três meses antes. Lá pediram vista. [Faltou força política?] Os gaúchos é que têm que fazer a força política. Eles que têm que ir lá aprovar. Quem vai fazer a festa é quem vai ser responsável. Eles foram à câmara na última hora, depois de algum tempo, e conseguiram aprovar. Quando aprovaram, até publicar, já tinha passado o prazo do edital. Demorou. Agora o edital só valia para novembro. Então disseram: “Vamos fazer a festa em novembro, que os shows são mais baratos, as tendas também...” Não aceitaram e ainda me disseram um monte de desaforos. O secretário de Cultura me disse: “Prefeito, se o senhor aceitar, eu reúno os gaúchos de Camboriú e fazemos o evento lá numa praça que tem no Cedro...” Eles aceitaram. [Como está o seu relacionamento com a câmara?] Só não se relaciona comigo quem não quer. Tem uns dois ali que não querem. Estão brigando porque eu troquei as cores dos postes... [Por que o senhor mudou as cores?] Porque eu quis mudar. Vou definir os bairros pelas cores. O centro será branco, o bairro dos Macacos verde escuro, o bairro do Braço verde mais claro, o Rio Pequeno será laranja, outro bairro será amarelo e assim por diante. [Como os moradores de Camboriú encaram esse seu jeito de “coronel” de governar?] Tem a pesquisa: 86,6% de aprovação, 1,3% de rejeição e ainda tem 7,8% que estão em cima do muro.
Passados praticamente nove meses de sua gestão, o senhor está satisfeito com a atuação do seu primeiro escalão?
Pavan: As trocas que precisavam ser feitas eu já fiz. A reforma administrativa é mais para organizar a equipe. Vou criar a secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Vou criar também a secretaria de Governo, que vai cuidar da relação entre as secretarias e a câmara. Já criei a Controladoria e a Camboriú Invest que tem status de secretaria. [Por que o senhor relutou em exonerar o secretário de Planejamento, Alexandre de Souza Metsger?] Eu não exonerei, ele pediu demissão. Aceitei a demissão porque o promotor disse que, se eu não fizesse, ele pediria minha improbidade. Veja só: coloquei ele em outro lugar. Agora, ele trabalha ao lado do prefeito, na secretaria de Governo. Aí pode...
"Podem me chamar de petista, comunista, direitista, verdista, vermelhista, o que quiserem. Eu quero é buscar os recursos que estão à disposição da minha cidade".
Pelo menos um processo movido contra o Glauco Piai já foi arquivado pela justiça. Como estão os demais?
Pavan: Estamos nos defendendo do que existe. Não existe nenhuma empresa citada ali que tenha atuado no meu governo. Nenhuma das pessoas ou empresas que apareceram trabalham ou vão atuar no meu governo até que o processo esteja arquivado e encerrado.
"Vou dar um exemplo: a isenção do imposto de renda. Quem ganha até R$ 5 mil pode chegar até R$ 7 mil. E onde vai esse dinheiro do imposto de renda? Vai em comida, roupas. Na Havan, na Millium, no Magazine Luiza."
Edson Piriquito retirou o processo que movia contra o resultado das eleições de Camboriú. Como o senhor avalia esse gesto?
Pavan: Retirou? Nem sabia que tinha processo. Se ele tivesse chance de ser prefeito, não teria retirado. Há poucos dias, ele me ofendeu. [Ele também falou disso. Ele gravou um vídeo lhe xingando por conta da sua participação no evento do PSD. Vai processá-lo?] Ah, eu tenho pena dele. Até hoje não processei porque não me interessa mais. Posso processar ou não. Falou bobagem. Ele poderia ser processado por isso. Estou pensando ainda. [O senhor se dava bem com o Bolsonaro?] Claro. Eu era deputado federal com ele. Deixei de me dar bem porque ele veio cinco vezes a Balneário contra a minha filha. [O seu candidato é o João Rodrigues ?] Eu sou do PSD. Gratidão é maior do que o amor. O amor acontece. A gratidão tu não esqueces nunca mais. Eu sou grato pelo que ele fez pela minha filha.
"Vamos ter um aeroporto na região que denominei de Nova Camboriú, que fica depois do parque inundável."
Muitos adversários dizem que o senhor governa pelas redes sociais. Como responde a crítica?
Pavan: Eu os convido a me acompanharem nas obras. Sai todos os dias o que eu estou fazendo. O Jorginho usa a rede social. O Trump usa a rede social. O Lula usa a rede social. [E se o Tribunal de Justiça decidir que é improbidade o fato de o gestor usar a rede social particular dele para divulgar obras?] Se decidirem que é ilegal, todos param e eu paro também. Enquanto não pararem, não vou parar.