Sem projeto adequado, áreas de preservação correm o risco de serem degradadas e locais históricos descaracterizados se não forem seguidas regras que garantam, por exemplo, que o sol brilhe na praia. Tudo isso sem travar a economia, desafio do plano diretor criado prometendo a Itajaí do futuro.
O novo plano teve a coordenação técnica do arquiteto e urbanista Dalmo Vieira Filho, que já tinha feito a revisão do plano original quando foi secretário da gestão Amylcar Gazaniga, em 1982. Ele conta que na nova versão houve uma preocupação maior em valorizar o centro histórico, ampliar e qualificar a preservação ambiental e garantir o crescimento da indústria e da logística com o porto, além de aperfeiçoar a conexão com os municípios vizinhos.
Verticalização
“Quando foi aberta a rua Silva para ligar o centro à BR-101, no final dos anos 70, começaram a chamar de Transilvânia porque era um matagal só, Itajaí tinha muito espaço para crescer”, recorda. Hoje, não só os bairros centrais começaram a ser verticalizados, como a ocupação ultrapassou os limites da rodovia BR 101. Essa expansão também promoveu o deslocamento da atividade econômica e o fortalecimento dos bairros, não mais exclusivamente residenciais.
“O ideal é que se possa fazer tudo a pé, em 15 minutos, e que o térreo dos novos prédios seja projetado para pequenas lojas”, sugere. Dalmo cita como bons exemplos as ruas Estefano José Vanolli (São Vicente) e Indaial, que corta os bairros São João, São Judas e Dom Bosco.
Outro foco foi interligar a avenida Beira Rio com o centro histórico, a partir do Largo da Matriz, passando pela rua Hercílio Luz, Igreja da Imaculada Conceição e Mercado Público. “A Beira Rio foi pensada para ser uma via gastronômica, proporcionando espaços para a prática de esportes, caminhada, um local de interesse turístico e paisagístico, que também terá um parque náutico junto à marina”, acrescenta.
Fazenda, Cabeçudas e Praia Brava devem ganhar parques
As áreas próximas à foz do rio Itajaí-açu e ao longo das praias de Cabeçudas e Brava concentram não só o metro quadrado mais caro de Itajaí, como boa parte dos recursos naturais, com morrarias da mata atlântica, fontes d’água, restinga, lagoas e mirantes. Daí a necessidade de estabelecer limites para a ocupação e criar parques para o desenvolvimento do ecoturismo, com apoio da iniciativa privada. “A ideia é manter de 80% a 90% da área preservada e equipar com playground, trilhas, espaço para piquenique e educação ambiental”, afirma o arquiteto Dalmo Vieira Filho.
Itajaí deve ganhar quatro parques: Canto do Morcego (2,5 hectares) e Parque Linear do Ribeirão Cassino da Lagoa na Praia Brava (4,2 ha), ampliação do parque da Atalaia (de 19,5 para 24,6 ha), criado em 2007, e readequação do Parque da Ressacada, criado em 1982 (78 ha), cujo projeto está em tramitação na Câmara de Vereadores. A área do parque linear da lagoa às margens dos rios (30m) já é protegida pelo Código Florestal (APP).
A criação dos parques na Praia Brava só foi possível após 10 anos de negociação entre moradores, Marinha, Clube Guarani e prefeitura (Inis), mediada pelo Ministério Público, autor da ação civil que exigiu compensação ambiental pelo impacto de lançamentos imobiliários no bairro.
Segundo o MP, a Associação dos Proprietários da Praia Brava Norte (Aprobrava) tem interesse em custear as obras de infraestrutura.
Qualidade de vida
Dalmo argumenta que a criação de espaços de convivência em harmonia com a natureza tem o apoio dos entes envolvidos no processo, pois o retorno em qualidade de vida e valorização dos imóveis é garantido, já que previne a degradação. “A ideia é compartilhar a responsabilidade com a comunidade em geral, que ganha um espaço de lazer em contato com a natureza. O desenvolvimento deve ser integrado, interligando restinga, praia e morraria”, afirma.
Quanto às construções, o urbanista garante que a Praia Brava tem um dos parâmetros mais rígidos do litoral brasileiro. “Na avenida José Medeiros Vieira, em frente à praia, o limite é de cinco andares. Após 100 metros ganha mais um andar”, revela. “Já Cabeçudas manteve baixos os parâmetros de construção à beira-mar para não interferir na insolação da praia e estabeleceu um limite de oito andares nas quadras mais afastadas”, acrescenta.
Em contraste, a Ressacada deve se manter horizontal porque não houve acordo com os moradores para permitir prédios além da avenida principal.