POLO NACIONAL
Itajaí desenvolve potencial náutico e naval, com estaleiros e projeto inovador
Itajaí responde por 70% da produção estadual e 35% da nacional de embarcações de lazer
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Reconhecida por lei como a Capital da Construção Naval e do Turismo Náutico em Santa Catarina, Itajaí segue em pleno desenvolvimento do setor, abrigando um polo naval e náutico que hoje é um dos propulsores da economia do município.
A cidade abriga os principais estaleiros especializados em iates e lanchas de luxo e se tornou base de um cluster naval tecnológico com o lançamento da fragata Tamandaré, primeiro navio de guerra construído em Itajaí para a Marinha do Brasil.
No segmento de embarcações de lazer de grande porte, Itajaí responde por 70% da produção estadual e por cerca de 35% da produção nacional. A importância do setor coloca a cidade em destaque no mercado brasileiro e internacionalmente, pois de Itajaí saem barcos exportados para diversos países.
O diretor da Marina Itajaí, Carlos Gayoso de Oliveira, lembrou que, especialmente desde 2010, a chegada de estaleiros que estão entre os maiores do mundo e o início das operações da própria marina, em 2016, impulsionaram a transformação de Itajaí como principal polo náutico brasileiro.
“O impacto da náutica para a economia de Itajaí e os reflexos na geração de empregos e renda são surpreendentes. Em 2010, a cidade já estava com o PIB per capita em ascensão e os incentivos governamentais para a náutica ajudaram muito. A cidade deu saltos de desenvolvimento e hoje já supera Joinville”, destaca.
Conforme os dados do IBGE de 2021, Itajaí tem o maior PIB do estado e o 23º do país, com R$ 47,7 bilhões de riquezas, e PIB per capita de R$ 210 mil, num salto de 40% em relação ao ano anterior. A empregabilidade, com mão de obra valorizada, é um outro destaque no setor náutico.
“Um funcionário de um estaleiro, por exemplo, recebe proporcionalmente mais do que em uma indústria convencional por ser um trabalho artesanal, bem específico. Ele ainda recebe cursos e treinamentos constantes, e tudo isso também movimenta o mercado”, analisa Carlos Gayoso.
Com novos investimentos, a crença é que o setor siga em alta, com reflexos em outras áreas. “Os saltos em valorização imobiliária são mais exemplos do reflexo positivo da náutica para a região do litoral norte catarinense. Itajaí em 2010 tinha um valor de cerca de R$ 6,2 mil o metro quadrado. Hoje já ultrapassa os R$ 11,2 mil, quase o dobro”, compara.
Em Itajaí, obras como o Parque Náutico, ao lado da marina, e o Boulevard Marina Itajaí, que será um shopping dentro da marina, são exemplos de novos projetos que ajudam a fomentar o setor. Carlos Gayoso adianta que só o anúncio do novo shopping já despertou interesse de novas marcas e estaleiros de outras regiões. “Isso fomenta não só a náutica, mas todo o comércio da nossa região”, frisa.
Fábricas de iates de luxo são reconhecidas no mundo
A concentração de estaleiros de embarcações de lazer em Itajaí coloca o DNA da cidade em iates de luxo vendidos no Brasil e exportados para diversos países. O fácil acesso aos portos faz o município responder pela exportação de 90% dos barcos fabricados no Brasil, a maior parte para os Estados Unidos.
A cidade é endereço de grandes fábricas, desde a tradicional Fibrafort, conhecida pelas lanchas Focker, passando pela renomada Azimut e as mais recentes NHD Boats e Okean Yachts. O estaleiro Okean está em Itajaí desde 2021 e é o único licenciado no mundo para fabricação dos iates da italiana Ferretti Yachts, com produção local 100% voltada ao mercado brasileiro.
O parque fabril está numa área de 13 mil metros quadrados, entre a BR-101 e o rio Itajaí-açu, onde são fabricados oito modelos de iates de grande porte, todos acima de 52 pés. Do total, 70% são exportados para países como Estados Unidos, França, Suíça, Japão, Costa Rica e Austrália.
Com o setor aquecido, a empresa tem planos de expansão da fábrica em Itajaí, projetando alcançar nos próximos cinco anos a produção de 60 barcos anuais. Segundo o estaleiro, cerca de R$ 350 milhões foram investidos na unidade de Itajaí e mais de R$ 50 milhões são previstos em cinco anos, em tecnologias, pesquisas e empregos.
Atualmente, a fábrica tem cerca de 500 funcionários, com 15 barcos em linha de produção e um valor de estoque em torno de R$ 180 milhões. “Pretendemos continuar expandindo em Itajaí, o que reflete em benefícios para uma cadeia enorme. Com visão governamental e apoio à indústria náutica no Brasil, há um potencial muito importante a ser explorado”, comenta o diretor comercial do grupo Okean, Manuel Pires.
Indústria náutica tem potencial para crescer 20 vezes mais
Segundo dados da Associação Brasileira de Construtores de Barcos (Acobar), o desempenho da indústria náutica em 2024 deve superar os números de 2023, que já foram expressivos, com faturamento de R$ 2,5 bilhões e mais de R$ 900 milhões em impostos recolhidos.
A projeção é que o setor possa crescer 20 vezes mais com o estímulo do turismo náutico. Neste ano, as empresas devem atingir a marca de 150 mil postos de trabalho, 25% maior que o ano passado, na cadeia produtiva que abrange fábricas de embarcações, serviços de manutenção e marinas.
“A indústria náutica brasileira atingiu um nível de excelência construtiva, com mão de obra qualificada e produtos que se tornaram referência internacional, reforçando nossa competitividade global”, destaca o presidente da Acobar, Eduardo Colunna. O diretor da Marina Itajaí, Carlos Gayoso, comenta que o crescimento se refletiu no Marina Itajaí Boat Show, realizado em julho.
Ele acredita que 2024 fechará como mais um bom ano para a náutica. “O processo de produção do barco leva um certo tempo, portanto, uma venda que acontece em julho, por exemplo, a gente vai ver os reflexos do barco na água no último trimestre do ano ou início do próximo. Este ano teve um crescimento expressivo na quantidade de embarcações vendidas, negócios gerados”, afirma.
A própria estruturação da marina ilustra o aquecimento do mercado. O local passou por duas ampliações recentes, a última com abertura de 60 novas vagas, e hoje tem capacidade para 405 embarcações e gera cerca de 500 empregos diretos. “Se o mercado continuar aquecido do jeito que está, faremos nova ampliação das vagas já para o verão de 2025/2026”, adianta o diretor.
Lançamento de fragata é marco histórico da indústria naval
A construção naval em Itajaí teve um marco neste ano com o lançamento da 1ª fragata da classe Tamandaré para a Marinha do Brasil, por meio do projeto tocado no Thyssenkrupp Estaleiro Brasil Sul pelo consórcio Águas Azuis. O F200 Tamandaré é o primeiro navio de guerra produzido na cidade dos quatro previstos no programa com investimentos de R$ 11 bilhões.
A segunda fragata está em construção desde 2023, com lançamento pra 2027, enquanto as outras duas tem cronograma até 2029. O programa prevê geração de oito mil empregos diretos e indiretos, além de outros 15 mil induzidos por atividades como suporte, hotelaria, alimentação e transporte, abrangendo mais de mil empresas no Brasil e com retorno de impostos de mais de R$ 1,1 bilhão.
De acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Defesa, José Múcio, que estiveram em Itajaí para o lançamento da fragata, o projeto não ficará só nos quatros navios. Eles prometeram novos contratos para modernização das Forças Armadas e o fortalecimento da indústria naval brasileira.
A 1ª fragata construída em Itajaí será incorporada à Marinha do Brasil em 2025. Após os primeiros testes na água, ela receberá a instalação dos armamentos e sistemas eletrônicos, preparando o navio para novos testes e, na última etapa, as provas de mar.
Eventos estimulam setor e são vitrines para empresas
Os eventos náuticos contribuem diretamente para o crescimento do setor, que registra 70% das vendas de barcos durante as feiras de negócios. A movimentação econômica se estende para setores direta ou indiretamente ligados ao mercado náutico, como serviços especializados, tecnologia e construção.
Itajaí, referência com o salão náutico, passou a integrar em 2023 a rota dos boats shows. A segunda edição do evento neste ano, em julho, na Marina Itajaí, atraiu cerca de 20 mil pessoas e mais de 70 marcas expositoras. Pelo Brasil, o evento, tradicional em São Paulo e Rio de Janeiro, estreou neste ano em Brasília (DF), em agosto, e vai estrear em novembro em Salvador (BA).
Entre o final de novembro e início de dezembro, será a vez de Foz do Iguaçu (PR) receber a segunda edição da feira. A expansão dos eventos demonstra o crescimento do setor e abre mais espaços para os estaleiros de Itajaí, que marcam presença com os principais produtos e lançamentos.
A cidade também está em eventos internacionais, como o Fort Lauderdale International Boat Show, de 30 de outubro a 3 de novembro, na Flórida, Estados Unidos. Nesta edição de um dos maiores eventos náuticos do mundo, o estaleiro Okean vai expor os iates Okean 52 e Okean 57, produzidos em Itajaí.
"A participação da Okean em eventos internacionais nos permite apresentar nossas inovações e estar mais próximos de clientes e parceiros, além de expandir as operações em mercados estratégicos”, afirma Roberto Paião, CEO do Grupo Okean. Nos Estados Unidos estão os principais clientes estrangeiros das empresas catarinenses.