Itajaí
Casa com fama de ter sido projetada por Niemeyer é vendida na orla de Cabeçudas
Casarão, que pertencia ao banqueiro César Ramos, terá características mantidas, mas será transformado em complexo de lazer
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
A mansão que pertenceu ao banqueiro Cesar Ramos, na orla de Cabeçudas, foi comprada em sociedade por duas construtoras de Balneário Camboriú. A P&P e a Gard anunciaram que vão reformar o casarão da rua Juvêncio Tavares do Amaral e transformá-lo em um complexo de lazer, mas desmentiram que pretendam derrubar a casa modernista que tem fama de ter sido projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer - a autoria do projeto arquitetônico é, na verdade, desconhecida.
A novidade provocou novamente a discussão sobre a suposta inércia do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, já que o imóvel tem mais de 60 anos, é um dos mais bonitos do bairro de Cabeçudas e poderia ser preservado se passasse pelo processo de tombamento.
O valor do negócio gira em torno de R$ 10 milhões, mas o valor da negociação não foi confirmado pelo empresário Felipe Pavoni, da P&P Construtora. O empresário confirma a compra da mansão, que está instalada numa área de 1300 m². O empresário afirmou que o objetivo não é demolir a casa para construir um prédio, mas sim reformá-la e criar um complexo de lazer para uso de condôminos de empreendimentos das construtoras em Cabeçudas.
De acordo com Felipe, as características originais da casa serão preservadas e não haverá reforma agressiva no imóvel. “Será mantido o mesmo conceito de fachada. A casa é maravilhosa e está muito bonita e bem conservada”, explicou.
Com a reforma, que ainda não tem projeto elaborado, o imóvel abrigaria uma academia, continuaria com a piscina e abrigaria um espaço para coworking, além de quadras de padel e beach tennis. “Vamos reformar, mudar a finalidade e ampliar a estrutura. O projeto ainda está sendo elaborado e, talvez, para a próxima temporada já consigamos oferecer alguns serviços, mas o projeto completo é para dois anos”, disse.
O empresário comentou que o bairro de Cabeçudas não tem estrutura de lazer para os moradores. “O bairro carece de estrutura. Não tem farmácia, não tem padaria... A ideia é contemplar as áreas de lazer que não existem no bairro. A gente não tem academia, não tem lugar para guardar pranchas de stand-up...”, completou.
Os equipamentos do espaço serão de uso gratuito para os moradores do residencial La Plage, que fica a cerca de 250 metros da casa da família Ramos. O local, que conta com quatro andares e 11 unidades, está sendo construído próximo ao hotel Marambaia e deve ser entregue até o final do ano.
Para a comunidade em geral, Felipe explica que haverá uma cobrança para o uso dos equipamentos. O modelo de negócio, segundo o empresário, ainda está sendo estudado. “Provavelmente, será um valor de mensalidade ou de ‘day use’. Ainda estamos estudando”, explicou.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Itajaí informou que a construtora ainda não deu entrada no projeto para reforma. A secretaria informou que, a princípio, o projeto não precisaria de estudo de impacto de vizinhança, pois esse estudo só é exigido para áreas acima de 15 mil metros quadrados.
Casa modernista foi construída na década de 70
Segundo o historiador Edison d’Ávila, a casa da família Ramos foi construída pelo banqueiro César Ramos, que era morador de Itajaí e foi um dos donos do Banco Inco - que depois foi incorporado pelo Bradesco.
Na década de 1960, César Ramos e sua esposa, Luci Ramos, se mudaram da rua Samuel Heusi, em uma casa que ficava em frente ao Itajaí Shopping, para a mansão construída em estilo modernista em Cabeçudas. “Fala-se que essa casa teria sido projetada pelo escritório de arquitetura de Oscar Niemeyer. Os filhos do casal ainda estão vivos e poderiam confirmar. Eles moraram ali até o começo dos anos 70. Depois, foram estudar fora, no Rio de Janeiro. O casal Ramos se mudou para lá, onde viveram até falecerem”, contou o historiador. O casal Ramos, assim como os filhos, vinham para Cabeçudas para veranear.
O professor lembra que a casa fazia “par” com a mansão de Eduardo Santos Lins, filho do banqueiro Genésio Miranda Lins, de outra mansão já demolida. “A casa dos Ramos é um belo exemplar modernista que deveria ser cuidado e preservado. É um tipo de arquitetura que começou a aparecer em Itajaí nos anos 60, como residência de pessoas mais endinheiradas, que tinham condições de encomendar um projeto feito por um bom arquiteto e acompanhar a arquitetura da época”, explica.
Com a notícia da venda da casa, o historiador Edison D’Ávila convocou o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural a organizar um rol de imóveis de valor arquitetônico, nos estilos neocaliforniano e modernista, para serem preservados. “A inércia desse Conselho está levando ao gradual desaparecimento do patrimônio arquitetônico da cidade de Itajaí”, lamentou o historiador.
O conselho informou que tem uma lista feita em 2006, com apontamentos em atas e outros documentos de casarões que deveriam ser preservados no município. Segundo Evelise Moraes Ribas, secretária do conselho, historiadora e doutoranda em Patrimônio Cultural, o conselho recebeu nesta semana um e-mail solicitando o tombamento da casa da família Ramos, com documentação e o projeto original da casa.
A partir desta provocação, segundo Evelise, um dossiê será montado para que os membros analisem e emitam o parecer. O assunto será discutido na reunião do conselho, na semana que vem. Ainda segundo Evelise, pelas informações da solicitante, a casa não teria sido projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.