Matérias | Especial


Praça histórica

De agência dos Correios a pulmão verde no centro

Após nove anos de batalhas, é inaugurada a praça dos Correios

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Quase 10 anos depois da transferência das atividades dos Correios para um novo endereço, a área de quase 3 mil metros quadrados que abrigava a sede do serviço estatal vira uma praça urbanizada e inovadora no coração de Itajaí.

Se a praça hoje existe, é graças ao engajamento da sociedade civil que lutou por uma área verde no centro.



A nova praça dos Correios tem cerca de 2,8 mil m² de área que contempla espaços verdes, bancos, horta comunitária, fontes, playground, ParCão, palco e banheiros. O local ainda recebeu paisagismo, iluminação, bancos, lixeiras e bicicletários. Há também a Rua Colorida, um pequeno calçadão que faz a ligação entre a rua Hercílio Luz e a nova praça.

O espaço tinha um edifício da década de 1940 com características arquitetónicas e históricas que justificariam o seu tombamento e sua utilização para sediar uma fundação ou outro órgão ligado às artes e cultura. No entanto, a praça passou a ser a melhor opção depois que a prefeitura optou por demolir o prédio e cogitou vender a área para uma construtora ou ainda fazer um estacionamento.


“Nós moramos nas imediações há muitos anos e acompanhamos diariamente a degradação do prédio. Foi muito triste o abandono com a edificação e revoltante ver, num sábado à noite, as máquinas demolindo o portal, que era a única coisa que havia sobrado. Aquilo gerou uma angústia horrível”, conta a comerciante Aline Seeberg Aranha. Ela é uma das grandes incentivadoras para que o local, após a demolição da edificação, não fosse usado como um estacionamento.

Aline iniciou, no dia seguinte da demolição, um abaixo-assinado e reuniu mais de duas mil assinaturas. “Com o abaixo-assinado em mãos, eu e a Samara Toth Vieira levamos o documento ao prefeito, com a sugestão de que fosse criada inicialmente uma horta comunitária e área verde para a população. Depois foi amadurecendo a ideia de praça”, conta Aline. Mas até que isso acontecesse, muitos obstáculos precisaram ser derrubados. “Chegamos a fazer uma barreira humana e depois montar vigília no local para que os carros não estacionassem ali”, relembra.


O engenheiro agrônomo aposentado Juarez José Vanni Muller, vizinho do espaço,  acrescenta que quando houve a demolição do prédio havia uma grande possibilidade de a área ser utilizada pela construção civil. “Inclusive já haviam sido realizados contatos com a prefeitura sobre essa possibilidade. Aí um grupo de pessoas resolveu agir para garantir que a área servisse aos seres humanos e não para a especulação imobiliária”, diz.

Ele conta que elaborou um projeto que, além de proporcionar uma área verde no centro, também servisse para conscientizar as pessoas sobre a importância do meio ambiente. “A partir disso começamos a implementar o projeto que tornou toda área 'verde' para utilização pelas pessoas e irmãos de quatro patas e alados. Os custos financeiros foram bancados pelo grupo e apoiadores”, conta. Ele lembra que foi no dia 14 de março de 2020, um sábado, às 5h30 da madrugada, que o grupo a favor da preservação  do local “invadiu” a área com os tubos de concreto que havia comprado para o plantio de mudas de ervas medicinais, temperos e condimentos.

“Isso aconteceu quatro dias antes de Santa Catarina 'parar' pelo decreto da pandemia de coronavírus.”

O comerciante Patrick Zaguini ajudou a engordar o movimento em prol da praça dos Correios. “Com a ajuda de empresários e de pessoas da comunidade, fomos ocupando o local de forma gradativa, exatamente com o objetivo de transformar a área em uma praça, que é o que está acontecendo”, comemora. Outro fato que corroborou para o sucesso do movimento foi o transplante de uma figueira pela construtora Clarus, que a retirou de um terreno onde executaria uma obra e a colocou na área da praça.

Patrick conta que morou grande parte de sua vida nas imediações da praça e hoje tem seu comércio na casa onde já viveu. “Nos Correios, meu pai Valério Marcílio Zaguini foi radiotelegrafista e tenho muitas histórias  da infância ali, junto com Aline Aranha e seu padrasto Juarez. E depois lutamos juntos pela transformação daquele local abandonado que foi transformado neste espaço ímpar que ficou a praça dos Correios.”


 

Ponto de encontro de Itajaí

O prédio dos Correios também foi um importante ponto de encontro da comunidade itajaiense. Não tinha empresário, profissional liberal ou trabalhador que, antes do fac-símile e correio eletrônico, não fosse acessar suas caixas postais e parasse debaixo das figueiras de frente para a rua Felipe Schmidt para trocar dois dedos de prosa. “Foram 80 anos de história. Todo mundo se encontrava nos correios. Quase todos os comerciantes tinham caixa postal, nós também tínhamos a nossa e o correio acabava sendo um ponto de encontro”, conta Aline Aranha.


O advogado Eclésio Silva lembra de ter a caixa postal número 481, dos encontros e conversas com conhecidos e também dos muitos cafés na padaria Patiño.

 Maria Helena Zwoelfer Fóes também lembra que seu pai, o empresário José Zwoelfer, gostava de ir pessoalmente buscar a correspondência do Hotel Cabeçudas. Eles tinham a caixa postal número 15. “Não resta dúvidas que o prédio dos Correios foi um importante patrimônio histórico de Itajaí. Durante muito tempo a referência do centro da cidade foi a agência dos Correios.”

Correio musical

Quem não lembra daquela moça que atendia aos clientes dos Correios cantando e com um sorriso no rosto? A fadista Célia Pedro tem todas as recordações dessa época.

Célia trabalhou na repartição de 1976 a 2006 e era conhecida pelo seu cantar. “O Correio foi meu segundo lar. Cresci vivenciando e conhecendo todas as expressões e comportamentos de nós seres humanos racionais. Das condutas nas suas insatisfações e satisfações.”

Ela iniciou na empresa como telegrafista, subiu alguns cargos no setor e ficou à frente do serviço de telegrama fonado. Lá ela aprendeu a reconhecer as pessoas apenas pela voz. “Lembro que uma vez eu fui a um evento e reconheci a fotógrafa Lair Bernardoni pela voz. Foi lindo.”

Ela também foi agente postal. “Aí passei a ter mais contato com o povo. Foi meu palco”, lembra. Célia conta que chegou a ser chamada de louca por expressar sua felicidade por meio da música, cantando em uma instituição tão fria, com tantas regras. “Fui punida por cantar, paguei algum preço e, por fim, passei a ser reconhecida como a mulher que canta e encanta na sua coragem de esconder os problemas e dores que todos nós temos, se expressando no cantar.”

 

Praça da Estrela em 1900

A história dos Correios em Itajaí remonta ao ano de 1860, e a “Praça da Estrela”, à primeira década do século 20.

O professor e historiador Edison D’Ávila conta que o serviço dos Correios foi instalado em Itajaí logo que o município foi emancipado, em 1860, e o primeiro telégrafo foi montado sete anos depois. No entanto, não há registros históricos do local onde esses serviços eram operados. “Na época eram serviços separados, cada um tinha a sua agência. Só em 1931, no governo Vargas, os dois serviços foram unificados, com a criação da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos”, conta o historiador. 

O professor Edison diz que, por volta de 1910, os Correios tinham sua agência no lado esquerdo da rua Lauro Muller, ao lado do atual hotel Rota do Mar, e o agente no início do século 20 era Eduardo Dias de Miranda. “Já o telégrafo funcionava na mesma rua, quase na esquina com a rua Almirante Tamandaré”, relata. Foi nos anos 1940 que o município cedeu a área que abrigou até pouco tempo o prédio dos Correios e que hoje foi transformado em praça. “A bela sede do órgão foi inaugurada em 1942”, acrescenta.

Só que a fundação da praça é bem anterior a isso. Registros históricos apontam que ela surgiu no início da primeira década de 1900 e se chamava praça da Estrela, isso porque na época havia no local onde hoje é o Colégio Salesiano, a sociedade Estrela do Oriente, rival da Sociedade Guarani.

A padaria da família Patiño

“Na rua Felipe Schmidt, de frente para a praça, também foi instalada a primeira padaria de Itajaí, a padaria Estrela,  por volta da primeira ou segunda década do século passado, e o nome veio também em homenagem à sociedade homônima”, conta Edison D’Ávila.

O comércio foi criado pelo alemão de sobrenome Dietrich, e a padaria passou para o controle da família Patiño provavelmente na década de 1930, quando foi comprada pelo imigrante com naturalidade estadunidense Andrez Patiño, o “Porto-riquenho”, que era nascido em Porto Rico. “Ele foi o patriarca da família Patiño em Itajaí.”

André Patiño Júnior, 86 anos, conta que vive desde 1941 nas imediações da praça, quando sua família comprou a padaria, e lembra bem de suas brincadeiras de criança no local, onde também era realizada a feira livre de Itajaí. Naquela época André tinha sete anos. “E atrás do clube tinha também o Cine Estrela, que foi o primeiro cinema de Itajaí”, lembra.  Ele diz que quando sua família comprou a padaria, que depois veio a se chamar Padaria Patiño, o local já havia passado por três proprietários. “Lembro da dona Batistina Rebelo, de quem meu pai comprou o negócio, mas não o imóvel, que  compramos mais tarde. A padaria ficou com a família de 1941 até o encerramento das atividades, em dezembro de 2018.”

Histórias de vida

André Patiño e a esposa Francisca trabalharam nos Correios. Ele como atendente no setor de telegramas e na área postal do início dos anos de 1960 até 1979.  E pela proximidade, conseguia conciliar as atividades da empresa de comunicação com suas obrigações na padaria em frente. “Éramos poucos funcionários, mas todos muito unidos.”

Embora não tivesse ligação com as atividades dos Correios em si, a médica Lucrécia Nívea Liberato conta que morou no prédio dos Correios durante a adolescência e juventude. Seus pais, José Ubaldo e Solange Probst Liberato, trabalharam nos Correios, ele como gerente e ela como  agente. 

“Eu morei com meus pais por muitos anos em um apartamento no antigo Correio que era destinado ao gerente, ou agente, não lembro exatamente o cargo. O imóvel era confortável e ficava no segundo andar da parte antiga, com acesso totalmente isolado”, lembra a médica.

Ela diz que embora tenha saído cedo de Itajaí para estudar, sempre que vinha nas férias. “Outra lembrança que tenho é que o prédio tinha um telefone antigo, coisa incomum. Quando eu fazia faculdade em Florianópolis, ia na telefônica e ligava para meus pais”. Seu Ubaldo está hoje com 96 anos e dona Solange com 95. A doutora Nívea mora até hoje




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