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A peça publicitária utiliza a linguagem neutra e reproduz a obra “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. A polêmica ultrapassou as fronteiras da cidade e ganhou repercussão nacional.

As manifestações iniciaram já na terça-feira pela manhã, minutos depois da arte ter sido instalada, nas proximidades de um movimentado terminal urbano.

Rosane Magaly Martins, presidente da ONG que está organizando a ceia, diz que o outdoor foi colocado por volta das 7h e logo em seguida surgiram as primeiras ameaças contra a entidade e também contra a empresa Barbieri Painéis, contratada para a veiculação da peça publicitária. “As pessoas ameaçaram incendiar o painel e empresários também procuraram a empresa ameaçando boicote caso o outdoor não fosse retirado imediatamente. Tanto é que a Barbieri nos procurou para devolver o dinheiro e sugeriu retirar o painel”, diz.

Rosane explica que a ONG não autorizou a retirada e classifica a proposta da empresa como discriminatória. “Pagamos R$ 760 para a exibição na bi-semana compreendida entre 18 e 31 de dezembro e o outdoor vai permanecer até o fim”, garante. Inclusive, ativistas ligados à ONG têm feito vigília no local para evitar qualquer sabotagem ou depredação.

Procurada, a Barbieri Painéis não se manifestou  sobre os questionamentos do DIARINHO.   

Ceia coletiva tem o verdadeiro espírito natalino

“Essa ceia é apenas um ato de amor para com aqueles que não são aceitos pelas famílias ou que não as têm, pessoas em situação de vulnerabilidade ou de solidão. O Natal é uma data especial e essas pessoas também necessitam de acolhimento”, destaca Rosane.

Ela explica que a ONG vem divulgando o jantar pelas redes sociais desde novembro e que a contratação do outdoor foi uma forma de alcançar as pessoas mais vulneráveis, que não têm acesso às redes sociais.

Para custear a divulgação, os voluntários da ONG buscaram recursos junto a  empresas e simpatizantes que apoiam a causa e vem tentando a colocação do outdoor desde o início de dezembro. “Como não conseguimos espaço em nenhum painel na primeira semana, conseguimos fixar a arte faltando apenas alguns dias para o evento”, acrescenta.

A coordenadora do coletivo Mães da Diversidade em Santa Catarina, Andréa Carvalho, elogiou a iniciativa da ceia, que inclusive já foi feita pelo coletivo em Balneário Camboriú, e repudia os atos de violência cometidos em Blumenau.

Já o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) publicou nas redes sociais um comunicado relatando que o material não é da prefeitura. “Recebemos várias mensagens sobre esse outdoor, de pessoas questionando o material exposto e acusando a prefeitura de Blumenau de ser a responsável. Não foi o município que instalou o outdoor e a figura no lado direito da imagem não é a logomarca da prefeitura. O material parece a bandeira de Blumenau, mas não é! Respeitamos a todos e Jesus ensinou a amar a todos (amar ao próximo). Todos!”

Até o início da tarde de quinta-feira a publicação do prefeito já havia recebido mais de 450 comentários com os mais diversos teores. Seguidores de Mário no Instagram cobram que o município retire o outdoor, outros consideram a publicação “uma afronta à religião, coisa de comunista, e os mais radicais dizem ser uma ação da esquerda para violentar a família tradicional e os bons costumes”; assim como também há manifestações de apoio à ONG e às comunidades LGBTQIA+.

"Jesus irmão de todos"

A presidente da Comissão Nacional da Diversidade Sexual e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Margareth da Silva Hernandes, diz que o episódio que ocorre em Blumenau desde a terça-feira é previsível em um estado e cidade conservadores como Santa Catarina e Blumenau. “Jesus é irmão de todos, inclusive dos criminosos. Ele é irmão de pessoas pretas, com deficiência, dos LGBTs. Deus é pai de todos e a natureza humana que é defeituosa, porque o preconceito é uma raiz também do ódio, da raiva e dos vícios morais”, destaca.

Margareth classifica essas ações como criminosas e diz que se as pessoas não gostam que a santa ceia esteja associada à bandeira do arco-íris estão cometendo LGBTfobia. Rosane Martins informa que o caso será acrescentado a um dossiê entregue ao Ministério Público de Santa Catarina que denuncia uma série de atos de homofobia cometidos por entidades religiosas, órgãos públicos e até pela Polícia Militar, segundo a ONG.