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Fim de uma era

Casa da dona Jenny Liberato é demolida no centro de Itajaí

Terrenão na esquina das ruas Olímpio Miranda Júnior com a 15 de novembro vai virar um estacionamento

Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]

Clínica  São Lucas informou que terreno do antigo imóvel abrigará agora um estacionamento
(Foto: Franciele Marcon)
Clínica São Lucas informou que terreno do antigo imóvel abrigará agora um estacionamento (Foto: Franciele Marcon)
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Dois anos e meio após a morte de Jenny Coelho de Souza Liberato, fundadora da clínica São Lucas, o imóvel histórico onde a senhora viveu parte dos seus 99 anos de vida foi ao chão. A casa de dona Jenny, na esquina das ruas Olímpio Miranda Junior e 15 de novembro, dará lugar, a princípio, a um estacionamento. Com a demolição, Itajaí perde parte de sua história arquitetônica.


A família de Jenny Liberato recebeu autorização da Secretaria de Urbanismo para demolição no dia 30 de outubro, mas só iniciou a obra nesta semana. Primeiro houve a retirada de telhas ...

 

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A família de Jenny Liberato recebeu autorização da Secretaria de Urbanismo para demolição no dia 30 de outubro, mas só iniciou a obra nesta semana. Primeiro houve a retirada de telhas e das aberturas de madeira, com a demolição da alvenaria começando às 7h desta quinta-feira. Durante a tarde, já não sobrava muita coisa da casa, somente uma parte do muro de pedras e entulhos de construção civil.



A demolição aconteceu um ano e meio após a família já ter feito a derrubada das árvores centenárias que ficavam no terreno. Em março de 2022, as frondosas árvores que faziam parte da paisagem do centro de Itajaí foram ao chão. O corte ocorreu no feriadão de Carnaval, com autorização do Instituto Itajaí Sustentável (Inis).

As árvores, além de serem frutíferas e nativas, eram abrigo para passarinhos e ninhos e sempre foram um grande orgulho para a matriarca da família Liberato que dedicava cuidados ao jardim. Na época, a clínica São Lucas informou que recebeu autorização para o corte de cinco árvores nativas entre cambuí, pixirica-de-folha-miúda e guamirim-vermelho.


A compensação ambiental imposta foi a entrega de 50 mudas para uso na arborização urbana e em projetos de recuperação de áreas degradadas no município. Na época, o Inis informou ao DIARINHO que o terreno receberia um prédio residencial.

Nesta quinta-feira, a clínica São Lucas informou ao DIARINHO que, por enquanto, o terreno dará lugar a um estacionamento para uma empresa explorar comercialmente o espaço. 


 

Itajaí tem perda arquitetônica, diz historiador

Casa era típica dos anos 50 em Itajaí

Casa era típica dos anos 50 em Itajaí

 

O historiador e escritor Edison D’Ávila destaca que a derrubada da residência do doutor Afonso Celso Liberato e da doutora Jenny Liberato é uma perda para a memória histórica e arquitetônica de Itajaí. “Era um exemplar significativo, assim como também era a residência do antigo dirigente do Cartório do Registro Civil de Itajaí, Arnaldo Heusi, porque as duas construções eram típicas dos anos 50, num modelo arquitetônico conhecido como neo-californiano”, explica o professor. O modelo foi trazido para a região logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando o cinema americano entrou com força no Brasil e muitos filmes retratavam aquele modelo de construção típica da Califórnia (EUA).


Edison lembrou que esse estilo de construção tem varandas e janelas amplas, além de um tipo de reboco em relevo e uma torre. “Esse modelo neo-californiano encantou uma parte da elite de Itajaí nesta época. Assim foi construída a sede da Sociedade de Guarani. Se você observar, você verá aquele alpendre e anexos, tipo avarandados, em forma de arco, às vezes, e o mesmo estilo de reboco. Também é assim a casa que pertenceu ao banqueiro Genésio Miranda Lins, presidente do antigo Banco Inco, em Cabeçudas”, destaca.

O professor diz que "conta nos dedos" as casas neste estilo que ainda existem em Itajaí. Há a sede do Guarani, a casa do Genésio Miranda Lins, a antiga residência da família do ex-prefeito Júlio César, próxima da casa da dona Jenny, e a casa do ex-diretor do banco Inco, César Ramos, na rua Samuel Heusi, próximo ao Itajaí Shopping. “É lamentável que o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Itajaí não tenha listado essas construções, a começar pela sede do Guarani, para que se entre em processo de tombamento e sejam preservadas. Embora sejam construções dos anos 50, elas são exemplares raros de um estilo de construção arquitetônico.

São belos exemplares e deveríamos cuidar logo destas construções, antes que se extingam, como se extinguiu, por omissão, os modelos residenciais do século 19. Não temos mais nenhum modelo daquela construção típica portuguesa, que era comum na rua Pedro Ferreira, Lauro Muller e 15 de novembro. É uma lástima que se tenha demolido mais um exemplar significativo da memória histórica e arquitetônica de Itajaí”, opinou.

 

Dona Jenny Liberato morreu aos 99 anos


Dona Jenny faleceu em julho de 2021 (fotos: Arquivo)
Dona Jenny faleceu em julho de 2021 (fotos: Arquivo)

 

Dona Jenny faleceu aos 99 anos no hospital da Unimed, vítima de insuficiência respiratória, no dia 14 de julho de 2021. A médica foi uma mulher visionária que empreendeu em Itajaí e, junto com o marido, fundou uma das maiores clínicas de saúde da região. Jenny era carioca e foi no Rio de Janeiro que conheceu o marido Affonso Liberato, que na época estudava Medicina na cidade.

Os dois vieram para Itajaí em 1946 e fundaram uma farmácia na rua Lauro Muller. Foi o início do empreendimento na área da saúde que hoje virou o grupo São Lucas e tem sede no mesmo endereço.

Vinte anos após a fundação da clínica, dona Jenny perdeu um dos quatro filhos num trágico acidente de carro. O rapaz estava prestes a se formar em Medicina. Foi então que ela resolveu fazer o mesmo curso em homenagem ao filho. Dona Jenny, que já era formada em Farmácia, concluiu a faculdade de Medicina aos 52 anos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Além de ser reconhecida como empresária e profissional da saúde, dona Jenny também ficou famosa pelas ações beneficentes. Era ativa nas atividades da igreja luterana e distribuía alimentos e remédios aos moradores de rua. Embora sua clínica fosse particular, ela sempre atendeu igualmente através de convênio com o SUS.

 




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