Abandonado desde a saída da Superintendência Regional da Polícia Federal, em 2020, o casarão Nelson Seara Heusi, na rua 15 de Novembro, no centro de Itajaí, vem sendo “depenado” por invasores, ladrões e vândalos. O imóvel histórico já tinha virado abrigo de andarilhos e sido alvo de furtos de fiação. Nas últimas semanas, foram roubadas as grades e as portas da entrada principal.
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Os vizinhos relatam insegurança com o abandono do imóvel. Andarilhos teriam usado o casarão como abrigo pra furtar equipamentos e materiais de uma obra ao lado. O próprio prédio já teve aparelhos, fios, objetos e grades furtadas, restando apenas alguns móveis. Enquanto isso, a estrutura física também se deteriora devido a danos no telhado, janelas e portas, além da ação do tempo.
Sem a porta e uma das janelas frontais quebradas, o imóvel ficou ainda mais vulnerável à ação de invasores, que pulam a cerca ou os muros vizinhos pra entrar no terreno, que se estende até a rua Camboriú. O imóvel é do governo federal, sob responsabilidade da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). O órgão não respondeu até o momento o pedido de informações do DIARINHO sobre a situação do prédio.
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Prefeitura pediu a cessão do imóvel
Desde a saída da PF do endereço, o município negocia com a União para poder utilizar o imóvel. Inicialmente, o pedido foi negado porque o governo federal tinha pretensão de usar o casarão como sede da superintendência do Ministério do Trabalho, o que não avançou, sendo retomadas as tratativas pra um acordo com a prefeitura.
O superintendente das Fundações de Itajaí, Normélio Weber, informa que o processo na SPU avançou e agora o município espera pelo órgão resolver definitivamente e fazer a documentação. Não há previsão de conclusão do processo, que teve a última movimentação em outubro, com consulta ao município.
O acordo prevê a cessão do imóvel por 30 anos, prazo que poderá ser renovado. No local, o município tem projeto de instalar a sede do Conservatório de Música de Itajaí, que hoje funciona na Casa da Cultura Dide Brandão. Outros órgãos culturais também poderão ser abrigados no imóvel, incluindo a própria Fundação Cultural, que se instalaria na parte da frente do casarão.
Normélio lamentou a situação de abandono e os casos de vandalismo, esperando que o trâmite de cessão seja concluído em breve. “Vamos fazer o quê? A burocracia é assim, não é de uma hora para outra. A gente gostaria de já estar lá”, comentou.
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Importância histórica e arquitetônica
O historiador e escritor Edison d’Ávila destaca que a história do edifício é ligada ao crescimento do comércio portuário de Itajaí após a Proclamação da República. A alta das exportações fez crescer a burguesia endinheirada da cidade, da qual faziam parte grandes empresários, entre eles o despachante aduaneiro Nelson Seára Heusi, descendente de famílias tradicionais e que também foi político.
Ele mandou construir a casa para sua família em 1934, em terreno comprado de Paulo Kleis. Edison d’Ávila diz que não há informações do autor do projeto arquitetônico, mas a elegante construção seguiu o ecletismo que estava na moda à época, misturando elementos neoclássicos e art déco.
“Esses elementos podem ser observados, por exemplo, nas colunas de estilo clássico do hall de entrada se justapondo aos pilares retos que fazem a marcação vertical da fachada e paredes externas, que são típicos elementos da arquitetura art-déco”, comentou.
O imóvel entrou no inventário da família após a morte da esposa de Nelson, em 1944. Em 1951, o casarão virou residência do filho recém-casado do empresário, enquanto Nelson passa a morar em Cabeçudas. Três anos depois, o herdeiro se torna o único dono do imóvel ao comprar as partes das irmãs.
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Ele morou na casa até 1979, quando o imóvel passou a ser alugado. “O segundo proprietário, Marcos Francisco Heusi, foi quem primeiro locou à Delegacia da Polícia Federal de Itajaí e depois fez a transação de venda do imóvel ao governo federal em 1986”, relata o professor Edison.
Para se adequar aos serviços públicos, o prédio passou por obras de recuperação e ampliação entre 1997 e 1999. O historiador ressalta que alguns elementos originais da construção se perderam com as intervenções. “O edifício, mesmo assim, guarda muito da bela arquitetura original, imponência visual e valioso registro artístico histórico, que merecem ser permanentemente preservados”, defende.