À medida que o ano se encerra, as luzes se acendem lá fora, mas nem sempre brilham dentro da gente. Como psicóloga clínica, especializada em luto, perdas e comportamento humano, vejo diariamente o que nem sempre é dito em voz alta: dezembro para alguns pesa. Pesa para quem perdeu algum ente querido, para quem está exausto, para quem enfrenta dificuldades financeiras, para quem carrega culpas, para quem tenta sorrir quando o peito aperta. O fim do ano não é apenas uma data, é um espelho emocional.
Quando chega dezembro, tudo parece ganhar contorno mais nítido: a cadeira vazia à mesa, o dinheiro que não deu, a saudade que aperta, os sonhos que ainda não vieram. As pessoas imaginam que “Natal é somente alegria”, mas muitas vezes esta é a época em que as dores ganham mais volume. Não por fraqueza, mas porque símbolos emocionais sempre tocam o que está vivo em nós, especialmente o que ainda não cicatrizou.
Nas redes sociais, a pressão aumenta. A ilusão das fotos de "famílias perfeitas", viagens perfeitas, jantares perfeitos. Só não mostram os bastidores de quem chorou antes da foto, de quem parcelou o que não podia ou de quem, por dentro, sente um vazio que não consegue explicar. Atendo muitas pessoas que dizem: “Eu deveria estar feliz…” e essa frase, por si só, já é uma autoviolência. Ninguém deve nada ao calendário. Dezembro não obriga somente à alegria.
Para quem vive um luto, uma perda então, o impacto é ainda mais profundo. As datas comemorativas abrem gavetas emocionais que a rotina consegue manter em alguns momentos fechadas. Vêm ...
Quando chega dezembro, tudo parece ganhar contorno mais nítido: a cadeira vazia à mesa, o dinheiro que não deu, a saudade que aperta, os sonhos que ainda não vieram. As pessoas imaginam que “Natal é somente alegria”, mas muitas vezes esta é a época em que as dores ganham mais volume. Não por fraqueza, mas porque símbolos emocionais sempre tocam o que está vivo em nós, especialmente o que ainda não cicatrizou.
Nas redes sociais, a pressão aumenta. A ilusão das fotos de "famílias perfeitas", viagens perfeitas, jantares perfeitos. Só não mostram os bastidores de quem chorou antes da foto, de quem parcelou o que não podia ou de quem, por dentro, sente um vazio que não consegue explicar. Atendo muitas pessoas que dizem: “Eu deveria estar feliz…” e essa frase, por si só, já é uma autoviolência. Ninguém deve nada ao calendário. Dezembro não obriga somente à alegria.
Para quem vive um luto, uma perda então, o impacto é ainda mais profundo. As datas comemorativas abrem gavetas emocionais que a rotina consegue manter em alguns momentos fechadas. Vêm memórias, cheiros, músicas, tradições. Vêm faltas. E o luto, esse território tão íntimo, não respeita festas. Se manifesta como precisa. O que mais acolhe nessa fase não é exigir força, é oferecer permissão: você pode sentir.
Também atendo quem chega ao fim do ano com burnout, ansiedade, esgotamento parental, frustrações acumuladas, medos e autopressão. Não é raro que dezembro traga a sensação de que “fracassei”. Mas, na verdade, o que muitas pessoas viveram foi sobrevivência, não fracasso. E sobrevivência também cansa.
Quero deixar um lembrete, como psicóloga e como alguém que acredita profundamente na humanidade de cada trajetória: não existe forma certa de viver dezembro. Há quem celebre. Há quem precise recolher-se. Há quem esteja tentando encontrar um meio-termo. E todas essas formas são legítimas. Comparar-se só adoece mais. Respeitar-se cura.
Que este fim de ano seja de menos cobrança e mais acolhimento. Menos “preciso estar bem” e mais “posso ser honesto comigo”. Menos vitrines externas, mais cuidado interno. Porque, antes das luzes nas ruas, existe uma luz muito mais importante: a que você aprende a proteger dentro de si, no seu tempo, no seu ritmo, do seu jeito.