
Casos e ocasos
Por Rosan da Rocha - rrocharrosan@gmail.com
Rosan da Rocha é catarinense, manezinho, deísta, advogado, professor e promotor de Justiça aposentado. Sem preconceitos, é amante da natureza e segue aprendendo e conhecendo melhor o ser humano
A Univali pisou na bola

Uma celeuma se instalou na Univali - Universidade do Vale do Itajaí por causa de um evento denominado “Apas Conference 2025” que ocorrerá na próxima semana. A universidade alugou o seu teatro para que a organização do evento possa debater política, trazendo entre seus convidados dois dos maiores expoentes da extrema direita brasileira, o deputado federal de MG, Nikolas Ferreira, e a deputada estadual de SC, Ana Campagnolo, ambos do Partido Liberal- PL, conhecidos por seguirem a cartilha bolsonarista .
Centenas de estudantes, representados por Centros Acadêmicos e várias entidades estudantis da universidade, assinaram uma nota de repúdio exigindo explicações da Reitoria e do DCE, pedindo a rescisão do contrato de locação, convocando estudantes para barrar o evento, pois alegam que “A Univali não pode ser palco para fascistas”.
Por sua vez, a organização aduz ser um evento plural, democrático, aberto a todos e, entre outras coisas, “aproximar pessoas de diferentes trajetórias e visões de mundo”.
Não é o que parece, pois na apresentação do site da Apas que divulga o evento, vem descrito como lema da entidade a frase: “Idem velle. Idem Nolle!”, expressão latina que significa “o mesmo querer, o mesmo não querer”, inclusive, citando Olavo de Carvalho, um extremista de direita, o guru do ex-presidente Bolsonaro e da maioria dos seu seguidores. Vê-se então que, diferente do que diz a organização, o evento não tem nada de plural ou servirá para aproximar pessoas de diferentes ideias. Ademais, outros palestrantes são também ideologicamente de direita.
Razão têm os alunos em exigir maior cuidado da reitoria da Univali na hora de ceder seu espaço para qualquer evento, senão vejamos.
O Ministério da Educação (MEC) esclarece que nenhuma instituição de ensino pública tem prerrogativa legal para incentivar movimentos político-partidários.
É cediço que universidades não devem adotar postura partidária, defendendo ou promovendo um único ponto de vista. O objetivo deve ser apresentar diferentes perspectivas e estimular o pensamento crítico dos alunos. Devem promover a livre circulação de ideias e o debate aberto sobre diversos temas, podendo também incluir aqueles de natureza ideológica.
Mesmo não sendo um evento promovido pela própria universidade, esta deve se preocupar em ceder ou alugar seu espaço sempre para eventos democráticos, não discriminatórios, responsáveis e éticos, não permitindo informações falsas, discurso de ódio e que garanta um debate construtivo. Não parece o caso do evento, pois além de não ser um debate, dando vozes a outros pessoas que pensam e emitam opiniões diferentes, os principais palestrantes já foram, por diversas vezes, tachados nas redes sociais de promoverem falas discriminatórias, homofóbicas, realizarem perseguições e de serem até antidemocráticos.
Os espaços dentro das universidades servem para promover a participação de alunos e da comunidade em várias atividades, incentivando troca de ideias entre diferentes grupos, garantindo a liberdade de expressão em condições igualitária e respeitosa.
A reitoria da Univali pisou na bola feio e deve, sim, uma manifestação pública se explicando sobre o ocorrido, até mesmo pedindo desculpas para preservar a credibilidade de ser um local onde imperam a pluralidade, a liberdade, a ética, o bom debate e o respeito, pois a universidade é mantida financeiramente por todos, independentemente de qualquer ideologia política.