Colunas


Ideal Mente

Ideal Mente

Por Vanessa Tonnet - Vanessatonnet.psi@gmail.com

CRP SC 19625 | Contato: (47) 99190.6989 | Instagram: @vanessatonnet

A polêmica do Hino Nacional


A polêmica do Hino Nacional

Na minha infância, fiscalizávamos os jogadores de futebol antes das partidas da Seleção para conferir se eram brasileiros de coração e cantavam o hino com vontade.

Alguns, temendo a represália, faziam mímica e somente abriam a boca.

Devo ser da última geração que incorporou o Hino Nacional. Até porque ele era tocado toda manhã antes do início das aulas. Não tinha como não aprender.

Mas confesso que foram anos de superação de gafes. A letra de Joaquim Osório Duque-Estrada, acrescentada na melodia de 1831, não é das mais digeríveis.

Dependemos de um dicionário ao lado, ou da presença do nosso tataravô. Já bobeei algumas vezes com “se ergues da justiça a clava forte”. Demorei a constatar que “clava” existia, e era uma arma. Não entrava em minha cabeça que “garrida” não representava uma falha indesejada de pronúncia, significava “graciosa”.

“Impávido colosso”, então, mostrava-se com sentido enigmático. Fui aos poucos conhecendo a nossa imensidão destemida.

Como achar que “lábaro” queria dizer “bandeira”? Era um pega-ratão da prova oral. Tampouco compreendia o que fazia um seio perdido ali, um topless em nossa liberdade.

Não há mais como cobrar que se tenha o hino decorado na ponta da língua. Não reproduzi-lo verbalmente não significa ausência de patriotismo, de enraizamento, de cuidado ufanista.

Seria sim bonito que as crianças descobrissem o hino, sem dúvida, mas sua composição é muito adulta e combina mais com a adolescência. Se o hino passasse pelo crivo do programa nacional do Livro Didático, acabaria classificado como adequado ao Ensino Médio.

O que tradicionalmente acontece é cantar sem entender o que está cantando, ou cantar errado por toda a vida, jamais percebendo os enganos, deduzindo as estrofes, trocando termos complexos por palavras mais cotidianas.

A cantora Ludmilla quase foi cancelada porque emudeceu em parte do Hino Nacional antes do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, no domingo passado. Muitos entenderam que ela não dominava a composição.

No vídeo que circulou nas redes sociais, a voz de Ludmilla desaparece logo após o trecho “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. Uma falha técnica gerou um debate interminável. A artista passou a ser acusada de descaso com o país.

A cobrança pelo verde-louro da flâmula foi tão contundente que ela deu o troco e reprisou a apresentação no Prêmio Multishow, na noite de terça-feira (7). Para expor incontestável fluência, cantou à capela, destacando cada verso, dessa vez imune a tropeços aparentes.

Não acho vergonhoso não memorizar o hino de imediato. Qualquer um pode assimilá-lo, como eu, no decorrer da prática. O que poderíamos considerar como antipatriotismo é o ato de furar fila, a malandragem, o descaso com o patrimônio público, a desobediência à lei e à ordem, o pouco apreço pela educação e pelo professor, a truculência no trânsito, a briga das torcidas, a completa indiferença à dor do outro.

Uma nação é civilizada pelo seu silêncio, pela forma como demonstra o respeito sem palavras: pelo caráter.

Na era do “cancelamento”, estamos ficando exaustos com os erros sem sentido. Precisamos nos atentar ao que de fato importa e significa na vida.


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

Lula x Bolsonaro: quem reúne mais apoiadores em Santa Catarina?

Bolsonaro, óbvio! Já tô me organizando pra participar também

Do que adianta reunir milhares de pessoas se está inelegível?!

Não sei, se depender de mim, nenhum dos dois

Se nem o governador foi no evento do Lula, quem dirá eu



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

Reconhecimento facial racista: prisão virou mercadoria para empresas, diz pesquisador

TECNOLOGIA

Reconhecimento facial racista: prisão virou mercadoria para empresas, diz pesquisador

Prefeitura barrou atuação de coletivos na Cracolândia dias antes de região ser esvaziada

SÃO PAULO

Prefeitura barrou atuação de coletivos na Cracolândia dias antes de região ser esvaziada

“Ao menos 50 crianças”: as acusações de estupro contra Padre Bernardino dos Santos

IGREJA CATÓLICA

“Ao menos 50 crianças”: as acusações de estupro contra Padre Bernardino dos Santos

Eduardo Bolsonaro e influenciadores de direita articulam punição contra STF nos EUA

NOS EUA

Eduardo Bolsonaro e influenciadores de direita articulam punição contra STF nos EUA

Diário do julgamento do golpe – Ato 4: “O que distingue as Forças Armadas de um bando?”

JULGAMENTO DO GOLPE

Diário do julgamento do golpe – Ato 4: “O que distingue as Forças Armadas de um bando?”



Colunistas

Viagem a Buenos Aires

Coluna do Ton

Viagem a Buenos Aires

Câmeras corporais são uma necessidade

JotaCê

Câmeras corporais são uma necessidade

Corrida pela vice

Coluna Esplanada

Corrida pela vice

Meio Ambiente

Charge do Dia

Meio Ambiente

Contas aprovadas, com ressalvas e recomendações

Coluna Acontece SC

Contas aprovadas, com ressalvas e recomendações




Blogs

Festival de esportes de areia para advogados

A bordo do esporte

Festival de esportes de areia para advogados

Mudanças em BC

Blog do JC

Mudanças em BC

Warung: será mesmo o fim?

Blog da Jackie

Warung: será mesmo o fim?



Podcasts

Deque do Pontal Norte deve ser reaberto em julho

Deque do Pontal Norte deve ser reaberto em julho

Publicado 04/06/2025 19:26





Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.