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Ano novo, velhas manias
Uma enxurrada de mensagens me orienta sobre os procedimentos a serem adotados já neste início de ano. O que mais se repete é a palavra destralhe-se ou equivalentes. Dizem que o balanço anual inclui uma faxina material que deixaria os papeleiros e recicladores sorrindo de orelha a orelha. Livre-se das tralhas, dizem. As coisas devem circular, se não foram usadas até agora, jogue fora. E por assim vai a dica.
Eu não consigo. Não me considero colecionadora, nem coletora, nem saudosista. Vai além do simplesmente guardar tralha. Fui criada assim, ensinada a aproveitar tudo, da pasta de dente de tubo de metal, enroladinho até o último resquício de creme, aos cordões e papéis de embrulho. Era até engraçado, a gente reconhecia os invólucros dos presentes e ninguém se envergonhava disto. Nunca se sabia quando seria útil aquele velho barbante guardado desde que chegara a casa amarrando o peixe embrulhado em jornal. Jornal que, por sinal, também era guardado como material de trabalho de vários profissionais. O sapateiro, o verdureiro, entre outros trabalhadores, sequer pensavam em adquirir papel para embrulhar os produtos. O bom e velho periódico seguiria até se desmanchar sendo útil em tempos anteriores à consciência recicladora.
As roupas seguiam a mesma linha de aproveitamento. Os irmãos herdavam dos mais velhos, as tias acolhiam o que já não servia mais e os agasalhos circulavam, até virarem panos de limpeza. Com esta atitude, não havia guarda-roupas atulhados de peças às vezes guardadas ainda com a etiqueta. O comprar era um ato de necessidade, jamais de capricho. Bom, pelo menos era assim na minha infância, um tempo em que os livros de um ano recebiam capa nova lembra daquele papel de embrulho guardado? e continuavam em uso por outra criança.
Lembrei agora de um texto que li, na semana passada, atribuído a Eduardo Galeano, aquele do livro As veias abertas da América Latina. Digo atribuído porque anda pelas nuvens da internet, aí a autoria fica meio difusa. Pois bem, neste texto, intitulado Cai o mundo e não sei como voltar, o escritor e jornalista uruguaio conta: Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (porque éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô. Isto mesmo, concordei, rindo.
Nunca digo que no meu tempo... as coisas eram melhores. Primeiro, porque meu tempo é agora e faço o possível para vivê-lo e desfrutá-lo como ele se apresenta. Segundo, porque as coisas não eram melhores. Basta lembrar a louça para lavar com água congelante ou dos banhos antes do chuveiro elétrico. Mas concordo com Galeano ou quem escreveu em nome dele - quando diz: Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer. Nem eu, respondo silenciosamente.
* A autora é jornalista
Roubou a cena!
Jader Barbalho (PMDB/PA) deveria deixar o filho caçula um mês sem jogar vídeo-game. O senador da Terra da Joelma tinha sido barrado pela lei da Ficha Limpa porque renunciou o mandato em 2001, pra siscapar de um processo de cassação. Mas Barbalho conseguiu garantir o cargo depois de um ok do Supremo Tribunal Federal (STF), e foi empossado na última quarta-feira. Durante a entrevista coletiva da posse, o Barbalhinho roubou a cena do pai. Enquanto o senador fazia seu discurso empolado, o guri de nove anos não parava de fazer careta pra imprensa. Será que Jader Barbalho deu uns puxões de orelha depois, ou achou bonito? Façam suas apostas.