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Reencontros
É... Parece que a dignidade mudou de nome. Ou será que estou ficando velho?
Você já deve ter ouvido, muitas vezes, a expressão até as pedras se cruzam, não é mesmo? Trata-se de uma metáfora, claro. Serve para fortalecer nossos argumentos de que, apesar de estarmos nos separando em determinado momento, um dia nos reencontraremos. Eu, particularmente, não aprecio metáforas. Quando me dizem que até as pedras se cruzam, costumo polemizar: não! As pedras não se cruzam jamais. Pedras não caminham! As pessoas se reencontram, às vezes. O que provoca esse reencontro é o colapso das possibilidades.
Semana passada, caminhando pela praia, reencontrei uma velha amiga. A Bia é uma pessoa muito especial. Juntos, atravessamos os conturbados anos de chumbo. Não a via há 15 anos! Fomos beber, para celebrar o reencontro. Bebendo, começamos a nos lembrar...
É bom reencontrar velhos amigos. Os que não fraquejaram e mantiveram-se fiéis aos seus princípios. Foi fácil, para nós, nos lembrarmos do que fomos. Sem arrependimentos. Lembramo-nos do que fomos, apesar do Médici e tudo o mais... Do AI5 e tudo o mais... Do DOPS e tudo o mais... Querem mais?
... Corria o ano de 1971. Lembro-me bem da data, porque era dia do meu aniversário, 19 de abril! Neste dia, em um salão paroquial construído com madeira velha, na zona rural de Londrina, no norte do Paraná, eu e a Bia participávamos do clandestino Encontro da Juventude Comunista.
É ruim reencontrar velhos ex-amigos. Os que descartaram a ética e assassinaram seus princípios. Foi fácil, para eles, esquecerem-se do que foram. Sem arrependimentos.
Esqueceram-se do que foram como se fosse nada demais... Querem mais?
... No ano da graça de 2011, nos refrigerados e suntuosos palácios do poder, a turma da UNE, PCdoB e PT vomita um discurso conservador de fazer corar o pessoal do Opus Dei. E o pior, (oh, dor!) é que eles se dizem de esquerda.
É... Parece que estou ficando velho. Ou será que a dignidade mudou de nome?
* O autor é jornalista