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Verbo ad verbum


Micro-organismo mutante, viajo pelo planeta alojado nas plumagens, na pele, nos pelos de espécimes do reino animal. Minha longevidade tem sido objeto de exaustivas pesquisas por parte da comunidade científica internacional. Meus antepassados, uma estirpe de astutos observadores, flutuavam sobre a condensação cósmica que pairava sobre o silêncio, antes da grande explosão. Quem era o silêncio?

Depois, houve um tempo de gritos roucos. Nas asas de um réptil voador, cruzei a imensidão da noite azul! Sob meus pés, bárbaros se digladiavam até a morte. Então... Em um dia, pétalas de estrelas beijaram o chão e as águas se rebelaram, as planícies embranqueceram, a idade do gelo chegou.

Da última fase da Era Glacial, emergiu a mente humana moderna. Em algum momento do passado, estimado entre 130 e 10 mil anos atrás, o Homo Sapiens atingiu o seu ápice na escala evolutiva e tornou-se, de fato, humano. Da profunda necessidade de comunicação surge a linguagem, do novo homem nascem os deuses.

Minhas amigas, as estrelas, ainda ensaiavam seu incrível balé, quando resolvi partir. Apanho minha mochila e meu saco de dormir, me acomodando no dorso de um falcão; senhor alado dos grandes cânions, grão-mestre dos precipícios abissais, príncipe negro da falcoaria! Sobrevoamos a região do Nilo. Aqui, um conjunto de características próprias à vida social coletiva fez emergir uma civilização. Hábeis construtores, os egípcios ergueram monumentos que, ainda hoje, intrigam a humanidade. O faraó era o soberano e, também, uma espécie de divindade. Adoravam o sol, mumificavam os mortos e observavam as estrelas.

Depois... A Idade Média! Flutuamos sobre castelos azuis, príncipes negros e bruxas escarlates. O poder religioso era o poder dominante. Foi um tempo tempestuoso! Um tempo de escuridão iluminada, pensamentos assassinados e estrelas derrotadas.

Agora, sobrevoamos a África contemporânea. Com tristeza, observo as minas de diamantes. Estas pedras, que movimentam dezenas de bilhões de dólares, anualmente, no mercado internacional, se formaram há três bilhões de anos. Aqui, elas geraram uma legião de mutilados. São crianças que tiveram seus membros decepados ao penetrarem nas tocas estreitas onde repousam os diamantes. Mas... Diamantes não são as pessoas? O homem observa o mercado, a vedete do mundo contemporâneo.

Sou um micro-organismo mutante, lembram-se? Mas me declaro indignado com a involução do gênero humano. Assim, resolvi abandonar tudo e viver em paz os poucos milhões de anos que me restam. Viajo, com minha amada, nas barbatanas de um tubarão. Após alguns dias, aportamos no litoral de Pernambuco.

Hoje, moramos no casco de uma tartaruga, de frente para o mar e com vista para o céu. Minha amada me oferece uma taça de vinho. Brindamos e bebemos. Agora, sob um céu repleto de pérolas, dançamos a “Valsa triste”, de Sibelius. Fazemos confidências sobre a epopeia humana na Terra, e sobre qual será o destino do homem. Depois, apagamos as luzes, fazemos amor e, exaustos, vamos dormir com receio. As estrelas aplaudem!


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