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Notas da Conjuntura
Que Lula é um gênio da política, todos sabemos. Só a genialidade explica a trajetória do retirante nordestino, pobre, quase analfabeto, que vence todos os obstáculos e chega à presidência da República. Só um iluminado teria a coragem de bancar uma candidata à presidência meio irritadiça, sem história eleitoral e oradora sofrível, fazendo-a sucessora, contra tudo e contra todos.
Às vezes, porém, como ocorre com as pessoas muito inteligentes, Lula resvala na autossuficiência e pisa na bola. A entrevista que deu em Portugal foi um desses momentos poucos inspirados do gênio. É compreensível que ele insista na tese de que a história do mensalão está mal contada. Isto serve à sua causa e seu partido. Mas ao dizer que a decisão do Supremo teve 80% de política e 20% de jurídica, viajou na maionese. Decisão política de quem? Da maioria dos ministros que ele ou Dilma nomearam? E por que 80 a 20%? Com base em critério aleatório, qualquer um pode apresentar uma conta em que - digamos - a decisão do STF foi 66% jurídica e 34% política.
Mas o pior da entrevista foi afirmar que os mensaleiros do PT que estão presos não eram gente de minha confiança. Assim, de onde jamais podiam imaginar, Dirceu, Genoino, Delúbio e João Paulo Cunha sofreram uma nova condenação que, no caso, deve ter sido bem mais doída do que a cadeia.
Lula, nos anos 90, disse que Brizola pisaria no pescoço da mãe para ser presidente. Nunca gostei de juízo tão depreciativo. Quem acabou pisando no pescoço foi ele, Lula, senão da mãe, mas dos seus antigos e leais companheiros, no vale-tudo abominável para tirar o seu da reta no caso do mensalão.
Um leitor manda um comparativo entre o valor das ações da Petrobras no tempo de FHC e agora, para concluir: Mesmo com toda a perda recente, as ações da Petrobras valem bem mais agora do que no tempo de FHC. Porém, é bem mais realista assinalar que nos oito anos de FHC, o índice Bovespa (que mede o valor das ações negociadas em Bolsa) cresceu três vezes, enquanto o valor das ações da Petrobras aumentou em seis vezes. Nos 11 anos dos governos de Lula e Dilma, desde 2003, tanto o Ibovespa quanto o valor das ações da Petrobras cresceram cinco vezes.
Em relação às demais ações da Bovespa, com FHC as ações do Petrobras valorizaram o dobro. E com Lula e Dilma, não ganharam nem perderam, ficaram no mesmo patamar.
Em outro e-mail, um petista acusa Fernando Henrique de quebrar o monopólio da Petrobras. É verdade. Mas vejam o que disse o ex-presidente da estatal, José Eduardo Dutra (PT), em 2007: Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a volta do monópolio, voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobras produzia 600 mil barris por dia e tinha seis milhões de barris de reserva. Após 10 anos, produz 1,8 milhão de barris por dia e reservas de 13 bilhões de barris. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela.
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