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Falta de juízo e de inspiração


O deputado federal Vicentinho, líder do PT na Câmara, apresentou um projeto de lei que além de mal redigido, é dos mais retrógrados: visa proibir os órgãos federais, estaduais e municipais de adquirir “publicações gráficas de procedência estrangeira”.

Um projeto obscurantista assim deveria merecer o protesto ruidoso e a imediata repulsa da universidade e das instituições públicas de pesquisa. Mas mal se ouve falar da proposição reacionária. Desconfio de que o silêncio obsequioso em torno da malfadada proposta se deve ao fato de que ela não leva a assinatura de um tucano, de um deputado do DEM, de Jair Bolsonaro ou do pastor Marco Feliciano. O autor é Vicentinho, petista e líder sindical metalúrgico. Então, na academia, ressalvadas as exceções que ainda existem – ainda bem! - tudo se justifica e perdoa.

O líder petista não sabe o que assinou. De pouco lhe valeu o diploma de direito que ele obteve em 2003, depois que foi presidente da CUT-Nacional. Os livros e revistas estrangeiras são publicações vitais em todas as áreas de ensino e pesquisa, nas ciências humanas, nas artes, na medicina, engenharia, agronomia... Trata de um instrumento clássico, insubstituível, para aferir o estágio de conhecimento, as novas abordagens, tendências e descobertas, a produção intelectual e acadêmica no estado da arte, a partir dos centros mais avançados do mundo.

A importação de revistas, publicações e livros pelas universidades e instituições de pesquisa são, não raro, a única forma (fora da internet) de acesso aos níveis mais avançados do conhecimento, da parte de professores e alunos brasileiros. Em países como os Estados Unidos e Inglaterra, onde se concentra a maioria das publicações especializadas, elas são editadas pela indústria editorial. Pertencem ao mundo do “business”, do negócio, e custam caro, muito caro. Proibir a sua importação é um ato insensato, elitista e excludente, uma dificuldade a mais, nas tantas que inibem o desenvolvimento do ensino, pesquisa e produção acadêmica e científica em nosso país.

O projeto se enquadra perfeitamente na visão de mundo de (quase) todo o universo petista e sindical de Vicentinho & companhia. Eles desconfiam de tudo que vem de fora. Estão sempre de olho vivo, para dar combate ao que acham ser uma ameaça aos interesses nacionais, uma conspiração para arrecadar o nosso rico dinheirinho, uma imposição de produtos comerciais e até de princípios e valores. É quando prevalece a teoria de proteger a “nossa indústria”, de evitar a evasão de divisas, de defender os compatriotas da ação nefanda dos países ricos e do centro do mundo.

Vicentinho se justifica dizendo que foi um mal entendido. O objetivo do projeto, segundo sua assessoria, era impedir a compra de publicações produzidas no Brasil, porém impressas em outros países. Que, até onde eu sei, nem existem. Mas a desculpa marota só confirma que o líder petista não leu o que assinou. Não é o que está escrito no projeto.

E de qualquer modo, não se tem notícia de que o deputado tenha corrigido ou retirado o projeto, mal inspirado e mal ajambrado.


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