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Quero continuar acreditando
Durante esta semana, em uma farmácia no coração de Itajaí, engajado num projeto que visa colher assinaturas para alterações legislativas (projeto de iniciativa popular de lei), vivi uma situação curiosa.
Sempre que eu me aproximava de uma pessoa mais velha para pedir assinaturas para tal fim, essas pessoas, com raras exceções, me olhavam com descrença e indiferença. Sem me falar uma palavra sequer, algumas se expressavam corporalmente:
- Você vai me fazer perder tempo com isso?
Por outro lado, sempre que me aproximava de jovens solicitando adesão à ideia, estes me olhavam com furor nos olhos, como se dissessem:
- Vamos iniciar imediatamente a revolução. Onde posso pegar as armas?
Eu lhes dizia, também corporalmente:
- Pegue a caneta, inicialmente.
A diferença em ver o mundo pelos olhos da idade pode ter duas causas: a falta de energia e a descrença dos mais velhos, em seu resto de vida, de que algo se alterará e a sobra de energia e coragem dos jovens para construir, até o fim de suas vidas, um país melhor para se viver.
Lembrei-me dos ensinamentos do jurista e cientista político suíço Johann Bluntschli quando, descrevendo os partidos políticos, associou os partidos radicais à juventude e as suas ilusões, imprevisões e precipitações. Aos liberais, se referia como a mocidade criadora e empreendedora e aos conservadores, como a madureza tranquila e forte.
Eis que surge então a rara exceção.
Um senhor de esticada idade, em meio a farmácia, incendiando em palavras, olhou-me firmemente e, com os olhos em chamas, me disse:
- Vamos mudar isso tudo, vou assinar e vamos juntar forças para acabar com essa baderna.
Sorri para ele sem saber exatamente o que lhe responder. Confesso que não esperava que aquele senhor com muitos solstícios, me respondesse daquela forma.
Quando ele saiu da farmácia, sorri e pensei como uma criança que admira seu pai:
- Quero ser igual a ele quando envelhecer. Quero ser um partido radical, me iludir e ser imprevisível, mas quero continuar acreditando.