Artigos
Por Artigos -
A beleza extrema da sereia
Por Giancarlo Ghisleni
Estava sentado com o olhar preso ao nada quando, de repente, como que num passe de mágica, ela se apresentou, exuberante como a lua cheia e com movimentos suaves como o do gato que vigia sua caça. Suas curvas cintilantes retinham olhares e pulsavam corações intrépidos.
Sua beleza logo me prendeu como o jugo se prende ao pescoço dos animais. Tentei subtrair meu olhar daquele raio de sol penetrante, mas minhas vistas pareciam se alimentar da luminosidade exarada por aquele corpo em movimento. Estiquei um dos olhos no raio máximo de 15 graus para tentar me desprender, mas a única coisa que lembro era de ter visto outro que, como eu, estava ali, confuso, aturdido com o brilho daquele diamante vivo.
Cada passo dela retirava parte do meu fôlego. Imaginei que, quando a perdesse de vista, estaria, enfim, ali, moribundo e sem um sopro para dizer um ai. Então, cairia morto. Ao menos teria a certeza de que teria morrido por uma justa causa, lutando um bom combate, entregando meus últimos metros cúbicos de ar àquela mistura de perfeição com paraíso, uma verdadeira fusão de arte e encanto.
Os segundos foram passando e o ar se esvaindo, a respiração ofegante não escondia a ansiedade pelos últimos suspiros. Os olhos tentavam encher os pulmões; era inútil, de nada adiantaria. Como a sereia que rouba vidas ao entregar seu canto, ela entregava a sua beleza retirando-nos o ar.
Ah, pensei com minha última inspiração: Preciso olhar para algo mais belo do que ela, cantar melhor para fugir do encanto dessa sereia. Era a minha última saída.
Pensei tarde
Sua beleza roubou-me a vida,
Roubou-me o resto do ar
Sem que eu tivesse oportunidade de não a olhar.