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O poder de convencimento
A atual dona da casa nunca havia tido uma residência antes. Havia morado em alguns lugares de aluguel, tudo pago pelos conchavos que a política de boa vizinhança nos permite. Daí o fato de que o anterior proprietário da casa ainda transitava por ali para dar seus pitacos de como a residência deveria ser administrada.
Toda a vez que ela pensava em mudar algo na estética do lar (se é que fazia algo pensando porque às vezes suas falas faziam transparecer falta de capacidade de pensar), o velho barbudo já castigado por investigações por ser malfeitor estava lá para dar seu palpite.
Ela, por mais que tentasse afastar sua imagem da dele, não obtia êxito. Os dois haviam trabalhado juntos muito tempo, que ela até parecia com ele em alguns aspectos de incompetência, como para administrar a morada, por exemplo.
Mas eles tinham sim algumas diferenças.
Ele era muito mais esperto que ela, tinha um poder de convencimento incomparável. Chegou a convencer, numa certa ocasião, um amigo empresário a lhe emprestar um sítio para passar os finais de semana pra onde ele já foi mais de 111 vezes. Persuadiu-o inclusive a reformar o mesmo com seu próprio dinheiro, só para o deleite do sagaz espertalhão. Seduziu o empresário a deixa-lo levar suas caixas de vinho e outros pertences pessoais mais íntimos para lá. O poder de convencimento dele foi tão grande que convenceu uma operadora de telefone a instalar uma antena como presente no sítio do amigo.
Ela, coitada, não tinha esse poder de encantamento. Suas falas e discursos para o pessoal do bairro eram tão sem lógica de começo, meio e que convencia a poucos, que nem bem tinham capacidade de entender o que ela falava. Eis então talvez o motivo que acabava aproximando os dois: a falta de um compensada pela sobra de outro.
Certa feita, ele fez uma proposta a ela. Queria comprar a casa dela novamente, pagando-lhe mais do que o dobro do preço da venda. Ela teria bom lucro com a transação. Mas ele pediu a ela um favor por isso. Ela teria de utilizar de sua influência numa assembleia de 11 pessoas para que eles o vissem como uma pessoa fina, elegante, sincera e honesta.
Com o poder de convencimento que ele tem, eu até nem duvido que ele consiga.