ITAJAÍ
Morre a professora aposentada Conceição Pereira
Ela foi uma das mais importantes mulheres do Movimento Negro de Itajaí e região
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]



Encantou nesta sexta-feira um dos ícones do Movimento Negro de Itajaí, a professora aposentada Maria da Conceição Pereira, de 71 anos. Conceição faleceu depois de uma cirurgia cardíaca, internada no hospital Marieta, um dia após a Câmara de Vereadores de Itajaí aprovar a inserção da Virada Afrocultural no calendário oficial de eventos da cidade. O velório acontece no cemitério do bairro Fazenda, com o sepultamento previsto para as 11h deste sábado.
Conceição era filha de Iracema da Silva Pereira e Acácio José Pereira, ambos já falecidos. Mãe de Jurandir Luís Marcelino da Silva Filho, falecido, e Luís Acácio Marcelino da Silva. Ela deixa quatro netos, irmãos, sobrinhos, amigos e companheiros enlutados pela sua partida.
Continua depois da publicidade
“Encerra-se uma batalha árdua de três meses, prova de vida e exemplo de fé dela e dos seus chegados!! Seguimos com fé, em paz e confiantes na graça desse Pai que tanto nos ama. Ficam as lições, a luta e a certeza de que a vida da D. Conceição continua em nós e em todos os lugares por onde ela passou e plantou sua vida”, escreveram os amigos ao informar sobre a morte de Conceição nas redes sociais.
Conceição nasceu em Itajaí em 1954. Em seu legado, fica a sua importância como organizadora da Festa do Rosário de Balneário Piçarras desde a década de 1990. Ela foi coroada rainha da festa em 2017. Atualmente, ainda era responsável pelo cerimonial da Festa do Rosário e pela coordenação do diálogo com os padres, função que compartilhava com a nova geração.
Continua depois da publicidade
Era professora da rede estadual aposentada, foi fundadora do Instituto Isabel Costa de Inclusão Social e também titular da Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial de Itajaí, pasta criada em 2005, no primeiro governo de Volnei Morastoni, na época ainda no PT.
Conceição desempenhou papel relevante na promoção de uma educação antirracista. No Instituto Isabel Costa desenvolveu pesquisas voltadas à população negra. “Ser negro é questão de atitude, saber que é de uma raça sofrida, você conhecer a história e defender a história e, para isso, assumir de coração, assumir de alma toda essa história”, definia Conceição.
Construir um novo saber
Conceição sempre esteve envolvida em debates sobre políticas públicas de igualdade racial. A professora aposentada ensinava que “para eliminar o preconceito é preciso construir um novo saber. Então, é primordial a formação de professores, a formação de uma nova sociedade”.
Em entrevista concedida em 2009 ao Sindicato dos Professores de Itajaí e Região (Sinpro), Conceição falava que a consciência negra não diz respeito somente aos afrodescendentes, mas a toda a sociedade. “O maior erro é achar que esta é uma questão só da população negra no Brasil. E, no entanto, é uma construção de um todo, de uma sociedade em geral. Porque o que acontece com a sociedade, muitas vezes, é não ter a consciência da questão racial como deveria ter. E esse entendimento deveria ser de todo o grande grupo, de toda a sociedade, realmente, de toda a raça. Porque algumas pessoas que são contra os movimentos negros dizem: ‘ah, existe a separação de raças’. Raça negra foi o rótulo que a sociedade criou. E rótulo vende. E vende muito bem. Então, para melhorar realmente a questão racial no Brasil falta essa consciência, porque muitos se negam a aprender. Há a negação, o não querer saber, o não querer conhecer. Aí surgem o racismo e os preconceitos”, explicava.
Lutou pela Virada Afrocultural
A advogada Márcia Guimarães, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento da Comunidade Negra de Itajaí (Conegi), destacou a importância da luta de Conceição em prol do movimento negro. “Foi em sua gestão como coordenadora de Igualdade Racial que o Conegi foi implementado em Itajaí no ano de 2003. O legado da luta por igualdade racial em Itajaí vem de sua força. Sempre combativa, não abaixava a cabeça para ninguém, muito menos para racistas e para quem de forma velada era contra o movimento negro de Itajaí”, recorda.
Márcia lembra que a força e a luta de Conceição farão falta à sociedade. “Principalmente neste momento de injustiças que estamos vivendo em nossa amada cidade de Itajaí. Descansou, um dia após a Virada Afrocultural ser inserida no calendário de Eventos de Itajaí. Parece que estava só esperando por este momento, visto que foi ela quem mais brigou para que a Virada Afrocultural acontecesse no ano de 2022. Descanse em Paz, D. Conceição, seu legado não será esquecido!”, finalizou, emocionada e emocionando, Márcia.
Franciele Marcon
Fran Marcon; formada em Jornalismo pela Univali com MBA em Gestão Editorial. Escreve sobre assuntos de Geral, Polícia, Política e é responsável pelas entrevistas do "Diz aí!"