A itajaiense Karla Vivian Cunha jamais teria imaginado, em 1993, quando abriu seu ateliê no bairro Itaipava, que 30 anos depois um vestido seu seria clicado por lentes do mundo inteiro no Palais des Festivals et des Congrès, durante a 78ª edição do Festival de Cannes, na paradisíaca Côte d’Azur, na França. Totalmente autodidata, ela ingressou ainda adolescente no mundo do estilismo e hoje é considerada um dos principais nomes da alta costura no sul do Brasil.

Apesar do sucesso, Karla mantém seu ateliê no bairro em que vive desde criança, praticamente na área rural de Itajaí. “Itajaí é parte da minha história desde o começo. Foi aqui que comecei a sonhar e a colocar a mão na massa. A cidade sempre me apoiou. As primeiras clientes, os desfiles, tudo começou aqui. É um orgulho enorme ver o ateliê crescer, sem perder a conexão com minhas raízes”, afirma.

A vocação para o estilismo surgiu ainda na infância, quando Karla brincava de boneca e criava roupas com os retalhos que ganhava de uma tia costureira. Essa mesma tia confeccionava as roupas que ela escolhia em revistas da época, já com toques personalizados. Mas Karla queria mais: insatisfeita com o caimento, começou a fazer ajustes por conta própria com uma máquina portátil da mãe.

Pouco tempo depois, criou coragem para desenvolver sozinha sua primeira peça — uma bermuda — usando como base uma peça criada pela tia. “Ficou ótima, exatamente como eu queria. A partir daí, minha tia perdeu a cliente, porque eu passei a fazer minhas próprias roupas”, conta, rindo.

Com o tempo, começou a produzir peças para amigas, primas e a fazer ajustes. Nessas ocasiões, aproveitava para observar as roupas de festa criadas por estilistas da capital e de outros estados, buscando entender os moldes, detalhes, técnicas de costura e aprimorar o acabamento.

Reconhecimento internacional

A paixão e a dedicação levaram o nome Karla Vivian a ultrapassar fronteiras. O vestido usado por Tatiana Barbieri, influenciadora e esposa do magnata russo-americano Roman Shaka, no Festival de Cannes deste ano, é o exemplo mais recente de sua projeção internacional.

“Já tive roupas usadas por modelos brasileiras no festival, mas por serem nomes menos conhecidos, não houve grande repercussão como agora com a Tati”, explica.

Além de Tatiana, Karla já vestiu ou ainda veste celebridades como Suzana Vieira, Aline Barros e Giovanna Antonelli.

Sua marca também se expandiu: está presente no segmento beachwear, com confecção tocada pelas filhas gêmeas e mais de 40 profissionais envolvidos, e ainda tem uma linha de calçados de festa, desenvolvida em parceria com uma indústria de São João Batista.

De um sonho ao ateliê mais concorrido

Determinada, Karla uniu a bagagem técnica do período que ela chama de “amador” com o bom gosto que sempre a acompanhou e, então, fundou o Atelier Karla Vivian. No início, fazia tudo: desenhava, modelava, costurava e até bordava. Desde o começo, prezava pela exclusividade, atenção aos detalhes e emprego de técnicas da alta costura, práticas que só se aperfeiçoaram com o tempo.

Ela perdeu a conta das noites em claro finalizando vestidos, assim como não sabe ao certo quantas peças criou em mais de três décadas de carreira. Mas o número, certamente, ultrapassa os cinco dígitos.

Hoje, o ateliê emprega 20 pessoas. Metade está envolvida diretamente no processo criativo, da ideia ao vestido pronto. A outra metade atua no atendimento, financeiro, lavanderia e administração. Ainda assim, Karla segue envolvida com os detalhes técnicos e não abre mão de estar presente na produção. Aposentadoria é uma palavra que não existe no seu vocabulário. Karla ama o que faz.