A tradição e a fé na “santa dos pretos” novamente se fortalece no litoral. Neste domingo, dia 6, o ponto inicial da organização da Festa de Nossa Senhora do Rosário de Balneário Piçarras foi l em Itajaí, onde moram a rainha e o rei da celebração neste ano de 2025. É chamada “tradição de início” ou “salvamento’ da festa, que começou na casa de Maria Paulina Pereira da Silva e seu filho, Vinicius Passos da Silva, em Itajaí. 

De acordo com a jornalista Danielle Garcia, o evento do “salvamento” é um encontro interno da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, para apresentação da família do casal imperial ao cortejo, com entrega de lembranças, e falando das responsabilidades da festa, além de rememorar sobre a tradição e a fé. 

A jornalista representou a Fundação Cultural de Balneário Piçarras no evento, e reafirmou essa tradição centenária regional, promovida pela Irmandade Nossa Senhora do Rosário, também de Piçarras. A professora Rosa Toller também foi convidada, e reforçou seu projeto de pesquisa sobre a festa em nível de mestrado. 

Mãe e filho vão substituir neste ano Domingos e Ana Lúcia Inácio, casal imperial de 2024 na celebração de 26 de outubro, que ocorrerá na Paroquia Santo Antônio de Pádua, no bairro Santo Antônio, em Balneário Piçarras, com devotos da cidade também de Penha e Itajaí.

Neste início de trajeto, um estandarte com a imagem de Nossa Senhora foi saudado pelos fieis, e as coroas também chegaram em cortejo solene. A tradição remonta mais de 100 anos no litoral catarinense, e a celebração de Balneário Piçarras, segundo Danielle, já com três décadas, é uma das mais importantes da comunidade afro-brasileira do Estado. 

“A Fundação de Cultura confirmou nosso apoio à festa, e a partir de agora, os devotos saem em busca de apoio ao evento”, frisou Danielle ao DIARINHO.

Maria Paulina é neta de estivador e benzedeira itajaienses, sobrinha de Dona Conceição, primeira liderança de movimento negro mulher na cidade. Ela narra que é grande a expectativa para a coroação deste ano. 

Paulina é também a primeira servidora pública negra a ocupar um cargo de dirigente da Saúde de Itajaí. “Essa história lembra as raízes de minha família”, observou Paulina. “Meu avô estivador sempre dizia que negros tinham que ser como flechas, determinadas, pois tinham inteligência para chegar onde quisessem, mas teriam que trabalhar em dobro, pois sua capacidade sempre seria questionada”, reforça Paulina.

Raízes afro

Maria Paulina, vencedora do prêmio Simeão 2021, em Itajaí, é especialista em saúde da família, estudiosa e pesquisadora das raízes culturais afro-brasileiras e palestrante em temas de saúde e espiritualidade.

Ela iniciou a formação acadêmica através de bolsa de estudos no Colégio São José, onde a mãe dava aulas de matemática. Ingressou na Univali após ter passado no vestibular em Itajaí e também na UFSC, em Floripa. Paulina cresceu numa casa popular na rua Jorge Matos, no centro de Itajaí, destinada a operários da fábrica de tecidos Tecita, onde sua mãe trabalhou.