Restos mortais de prefeito morto pela ditadura serão levados pro cemitério que ele fundou
Higino Pio, primeiro prefeito de BC, foi assassinado no quartel da Marinha em Florianópolis, em 1969
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Reunião com prefeita discutiu mudança, prevista até o aniversário da cidade (Foto: Arquivo/Reprodução)
Reunião no gabinete da prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan (PSD), com familiares do ex-prefeito Higino João Pio, decidiu que os restos mortais do primeiro prefeito eleito da cidade, assassinado pela ditadura militar, serão trasladados de Itajaí pra BC. A mudança deve ocorrer em 20 de julho, data do aniversário de Balneário Camboriú.
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Participaram da reunião o filho e o neto do ex-prefeito, Júlio Cesar Pio e Júlio Cesar Pio Júnior, além da vereadora Jade Martins Ribeiro (MDB), o presidente da Fundação Cultural, Allan ...
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Participaram da reunião o filho e o neto do ex-prefeito, Júlio Cesar Pio e Júlio Cesar Pio Júnior, além da vereadora Jade Martins Ribeiro (MDB), o presidente da Fundação Cultural, Allan Muller Schroeder, a sub-prefeita da Barra, Grasiela Martins e a prefeita Juliana. O encontro foi nessa segunda-feira.
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A transferência dos restos mortais de Higino Pio pra Balneário tem importância histórica. Também serão trasladados os restos mortais da mulher do ex-prefeito, Amélia Cherem Pio, e do filho João Jorge Pio, o Joca.
Na época da morte de Higino Pio, assassinado em 1969 no banheiro da Escola de Aprendizes de Marinheiros, em Florianópolis, foram os militares que decidiram que o sepultamento seria em Itajaí, e não no cemitério da Barra, em BC, construído pelo então prefeito.
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Na ocasião, a cerimônia fúnebre foi em Balneário, mas com caixão fechado e um cordão de isolamento. A viúva do ex-prefeito, Amélia Cherem Pio e os filhos do casal nem puderam se aproximar do corpo. O cortejo pra Itajaí foi histórico.
O filho Júlio Cesar Pio comenta que a ideia pra traslado dos restos mortais partiu da prefeita e da vereadora Jade, entre outras pessoas da prefeitura e da câmara.
“A gente está muito satisfeito, porque o cemitério lá [da Barra] tem o nome dele, ele que fez. Eu não sei por que que levaram pra Itajaí. Na época, não se podia fazer nada, era tudo comandado pela ditadura militar”, disse.
Júlio tinha 13 anos na época em que o pai foi assassinado. Hoje, ele é dono da construtora HPio, que leva no nome a memória do ex-prefeito. A mudança dos restos mortais do pai para a BC também é vista como uma honra para a família.
“A gente está muito contente com essa mudança, bem pro lugar onde ele começou tudo isso aqui, onde Balneário Camboriú teve início”, observa Júlio, destacando que o processo de traslado deve ser rápido, concluído até o aniversário de BC.
Correção de atas da câmara
Outra reparação histórica será a correção das atas da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, de 11 de março de 1969 e 10 de outubro de 1969. O documento não menciona que Higino Pio foi preso ilegalmente, torturado e assassinado no quartel da Marinha, sob falsa versão de que ele teria se enforcado. Os militares fizeram uma simulação de suicídio.
O texto da câmara registra “que o prefeito Higino João Pio faleceu às 8h45 do dia 3 de março de 1969, na Escola de Aprendizes de Marinheiro, no Estreito, em Florianópolis, onde se encontrava prestando depoimento à C.G.I. [Comissão Geral de Investigações] de Santa Catarina, desde o dia 21 de fevereiro de 1969”.
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Na sexta-feira, a vereadora Jade Martins entregou requerimento ao presidente da Câmara, Marcos Augusto Kurtz (Podemos), pedindo a correção das atas. Ela explica que os documentos tratam da posse do então presidente do legislativo, Álvaro Antônio Silva, como prefeito até a nomeação de um interventor pelo governo federal.
“Nessas atas é mencionado somente o falecimento de então prefeito Higino João Pio e lá a gente também precisa fazer essa reparação histórica, mencionando que o falecimento se deu por um assassinato”, defende a vereadora, que espera que o pedido tenha o apoio dos demais vereadores.
“Higino João Pio, primeiro prefeito eleito de Balneário Camboriú, não se suicidou. Ele foi assassinado e isso deve ser corrigido nos anais da história aqui da nossa cidade, para que as futuras gerações conheçam a história verdadeira e que a nossa democracia seja ainda mais fortalecida”, completou.
Certidão de óbito será atualizada
Ex-prefeito também terá correção na certidão de óbito, com informação de que foi vítima da ditadura militar (Foto: Arquivo/Reprodução)
A medida pra correção das atas vem após a notícia de que a certidão de óbito de Higino Pio será atualizada, conforme o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que contestou a versão oficial de que o ex-prefeito teria se enforcado. Laudo de peritos da comissão apontou que a cena de enforcamento foi forjada, mais montada até que a do jornalista Vladmir Herzog, também torturado e morto pela ditadura.
A atualização da certidão de óbito está em processo no cartório do bairro Estreito, na capital. No novo documento deve constar que a causa da morte foi forjada e violenta, causada pelo Estado brasileiro durante a ditadura. A correção é prevista para 434 pessoas assassinadas ou desaparecidas no regime militar, atendendo resolução aprovada neste ano pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
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