Morte no Giassi

“Meu filho era pobre, não era bandido”, desabafa mãe de homem assassinado por seguranças

Adriana, mãe de rapaz morto na ocorrência no supermercado, procurou a imprensa pra desmentir as acusações feitas ao filho

Cristian da Rocha Boneta, de 20 anos, vivia com a mãe, o pai e o irmão
(Foto: Fran Marcon)
Cristian da Rocha Boneta, de 20 anos, vivia com a mãe, o pai e o irmão (Foto: Fran Marcon)

Ainda aos prantos, após sepultar o filho Cristian da Rocha Boneta, de 20 anos, numa gaveta do cemitério municipal do bairro Fazenda, Adriana Luz da Rocha, de 42 anos, procurou o DIARINHO nesta terça-feira. Ela quis tornar pública a sua versão sobre a morte do filho, acusado de roubo e que foi assassinado em uma ocorrência ainda não explicada pela polícia. “Ele era pobre, não era bandido. Ele não vai voltar, ninguém vai trazer ele de volta, mas eu quero justiça”, desabafou.

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Adriana conta que o filho passou a tarde de domingo na praia com amigos e que ela só soube da tragédia no fim da noite, ao ser avisada por conhecidos. Após o trauma de perder o filho caçula, Adriana também está abalada com os comentários de internautas nas redes sociais, onde muitos desconhecidos falam mal de Cristian. Vídeos da ocorrência, publicados por jornais e em perfis de redes sociais, têm gerado comentários e julgamentos sobre o caso, que ainda não foi elucidado pela polícia.

Cristian trabalhava como servente de pedreiro com o tio e, segundo a mãe, nunca foi preso, não usava drogas e nunca morou na rua. Ele também não tinha nenhuma condenação na justiça, apenas um registro de violência doméstica devido a um desentendimento com o irmão mais velho. “Todo mundo julga meu filho, fala o que não deve. Eu sei quem ele era: um guri bom, trabalhador, que nunca precisou roubar. Agora, vejo todo mundo julgando, mas ninguém conviveu com ele. Eu o criei desde pequeno, ensinei o que era certo. Ele sempre foi trabalhador. E agora, como eu, meu marido e meu outro filho vamos ficar?”, questiona Adriana.

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A família tinha se mudado recentemente para a rua Pedro José João, no bairro Matadouro. Anteriormente, moravam na rua Venezuela, próxima ao Giassi, onde os filhos de Adriana e José Alessandro Boneta, de 47 anos, estudaram até o segundo ano do ensino médio.

A mudança de endereço ocorreu porque o terreno onde viviam foi valorizado e eles queriam vendê-lo. “Era um piá bom. Ele trabalhava comigo e com o irmão”, confirmou o tio Miguel, que acompanhou a cunhada ao DIARINHO. Com o dinheiro que ganhava como servente de pedreiro, Cristian ajudava a sustentar a casa, já que o pai está doente e a mãe é dona de casa.

Segundo a tia Ane, esposa de Miguel, Cristian passou o domingo com amigos. Após o passeio, voltaram para casa, nas imediações do Giassi, e Cristian decidiu ir à pista de skate encontrar outros amigos, pois sonhava em comprar um skate e participar de campeonatos. No caminho, o jovem passou pelo mercado, onde, segundo a Polícia Militar, teria tentado cometer um assalto.

A ação resultou em uma sessão de espancamento pelos seguranças, que levou à sua morte. A família viu os vídeos e não entende como Cristian quebrou a vidraça ou como começou a confusão, mas espera que a polícia esclareça o assassinato.

Pescoço quebrado

O tio Miguel esteve no local após o crime e relatou que algumas pessoas agrediram Cristian por ele ter quebrado a fachada do mercado com pedras. Cristian foi agredido com golpes na cabeça e, já imobilizado, teria levado um chute fatal de um dos seguranças, conforme mostram os vídeos, enquanto pedia ajuda. “No local, perguntei o que tinha acontecido e inventaram que ele tinha roubado um celular, depois uma moto, e até um Uber. Do nada, ele virou bandido. Mas ele nem sabia pilotar moto, nem mexer no celular. Isso é tudo calúnia. Só porque somos humildes, estão dizendo que ele era bandido. Nunca foi”, defendeu o tio.

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A morte de Cristian foi causada por traumatismo craniano, de acordo com o atestado de óbito, mas a família conta que testemunhas relataram que o rapaz teria levado um chute de um dos seguranças, o que teria quebroado seu pescoço. A morte está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios de Itajaí, sob a responsabilidade do delegado Roney Pericles. Os seguranças foram afastados, e as imagens das câmeras de segurança foram entregues à polícia.

 

Linchamento nas redes sociais

A família já contratou um advogado. “Eu quero justiça. Os pais estão sem comer, sem dormir... Só choram. O pai e a mãe dependiam dele, ele trabalhava. Agora, porque o rapaz estava descalço, estão achando que ele era morador de rua?! Depois que morreu, virou indigente?! Era um piá trabalhador, tenho provas, tenho gente que viu ele crescer, ele nunca foi bandido”, completou a tia.

A mãe enfatiza que criou Cristian e seu irmão para serem trabalhadores. “Desde pequeno ele ajudava. Metade do dinheiro que ganhava, me dava para comprar as coisas, e a outra metade queria juntar para comprar um skate”, recorda Adriana.

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A família sofreu ao ler comentários nas redes sociais, que diziam que Cristian teve o “CPF cancelado”. “Eles [seguranças] poderiam ter feito o procedimento certo, mas não fizeram. O piá já estava imobilizado. Por que não chamaram a polícia e o entregaram? Se ele errou, deveria pagar pelo erro, mas não precisava morrer”, concluiu o tio.




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Comentários:

Dalton Luiz Scheunemann

16/10/2024 17:18

No Brasil não temos pena de morte e nem tribunais de exceção. Cabe a polícia Civil apurar os fatos deste cruel assassinato e ao judiciário, mediante o devido processo legal, punir os criminosos. Processo este, que o jovem Cristian, não terá a oportunidade de participar para se defender. Pobreza não é sinônimo de bandido, que seja empregado todo o rigor da lei na apuração dos fatos, e assim, ter os matadores presos. Lamentável!!!

carla

16/10/2024 09:45

Não interessa se ele cometeu ou não o que dizem, a justiça não é feita com as próprias mãos. Temos leis e punições, podem não ser as melhores, mas temos então, os que cometeram este assassinato devem pagar do mesmo jeito. Não com a vida como eles mesmo fizeram, mas com cadeia. Ninguém é melhor do que ninguém e todos tem que ser julgados. Quanto ao supermercado em questão, muito me assusta uma empresa tão boa ter funcionários tão despreparados como estes. Eles também devem ser condenados.

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