O crescimento de Itajaí em 2021 foi de 44% em relação ao ano anterior, com R$ 14 bilhões a mais e 0,53% de participação no PIB nacional. A cidade superou Joinville em R$ 2 bilhões a mais, com alta mesmo diante dos efeitos econômicos do segundo ano da pandemia de covid-19. Itajaí subiu no ranking nacional, passando da 28ª para a 23ª maior economia do país.
O desenvolvimento econômico ganhou reforço com a diversificação de atividades e o avanço de outros setores, como a construção civil, mercado náutico, indústria naval e turismo. A resiliência e os potenciais da economia de Itajaí agora são testados com a crise no porto, diante do esvaziamento do terminal de contêineres há um ano e meio.
A retomada das operações é prevista no segundo semestre, sob controle da Seara, do grupo JBS, que comprou mais de 70% do capital social da Mada Araújo, empresa que ganhou o arrendamento provisório do porto. O diretor-executivo da Mada Araújo, Marco Antônio Araújo, diz que a espera é pelo alfandegamento pra que o terminal volte a receber navios de contêineres.
Ele frisa que a retomada será gradual, com cerca de 5 mil TEUs no primeiro mês, 12 mil no segundo e 20 mil no terceiro. “Atingido esse volume, estaremos preparados para escalar a meta com 30 mil, 36 mil e os 44 mil em outubro/novembro”, diz. “Será o dobro de movimentações da média do último ano de atividades do porto”, afirma. Com o desempenho, Marco avalia que também dobrará os resultados na economia local em todos os aspectos.
“O futuro a Itajaí e região será próspero e consolidará de vez o protagonismo do Porto de Itajaí no cenário nacional, como pautamos desde o início de nosso projeto, dando força ao mercado, aumentando ainda mais os bons resultados à cidade como um dos melhores e mais prósperos locais a se viver, trabalhar e investir no país”, conclui Marco Antônio Araújo.
Cadeia logística, setor náutico e construção civil em alta
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Itajaí, Ricardo Augusto dos Santos, reconhece que o porto é fundamental para a cidade. “A diferença é que o crescimento dos últimos anos nos criou novas possibilidades. A própria cadeia logística de Itajaí, impulsionada pela atividade portuária, é atualmente uma das mais eficientes do país, com empresas reconhecidas internacionalmente, gerando grandes negócios e empregos”, ressalta.
Ele destaca que a diversificação da economia também vem da construção civil, do comércio e do turismo, tanto de temporada como de negócios. O avanço de outras atividades, segundo avalia, poderá minimizar os impactos no PIB com a crise no porto. “Podemos, sim, ter impactos em termos de crescimento com a queda na movimentação portuária, mas estamos confiantes de que esse reflexo será menor pela diversificação de matrizes”, comenta.
Para o secretário, o crescimento nos empregos e na abertura de empresas revela o potencial da cidade. Com a economia mais diversificada, Ricardo avalia que o município ganha resiliência e mais competitividade. Ele lembra que recentemente Itajaí passou São Paulo na valorização do metro quadrado. O 5º lugar no ranking liderado por Balneário Camboriú e Itapema foi mantido por Itajaí no Índice FipeZap de maio, com valor médio de R$ 11.107.
“Isso é reflexo do aquecimento da construção civil, especialmente [de imóveis] de alto padrão. Podemos nos balizar, inclusive, pela quantidade de empreendimentos sendo construídos por toda a cidade”, comenta. Os setores náutico e naval também são destacados pelo secretário.
Ele citou o lançamento da nova edição do Marina Itajaí Boat Show, que torna Itajaí o centro do mercado náutico em julho, e a entrega da primeira fragata da Classe Tamandaré, em agosto, construída em Itajaí. O turismo também tem ganhado relevância, impulsionado pela temporada de cruzeiros, que teve movimentação recorde no último verão.
“Já nos preparamos para a próxima temporada de verão, com planejamento afinado para o receptivo de cruzeiros, parcerias para eventos nas praias e fortalecimento do comércio. Ações que, com toda a certeza, contribuem para consolidar a nossa economia como uma das maiores do país”, completa.
Expansão do setor náutico e da pesca
O diretor da Marina Itajaí, Carlos Gayoso de Oliveira, destaca a força da economia náutica. Segundo ele, o setor vai além das atividades do porto, abrangendo uma cadeia produtiva muito maior e que segue em alta expansão nos últimos anos.
“A paralisação do porto afeta diretamente a vida dos moradores e a economia de Itajaí. No entanto, nossa cidade não depende apenas do porto. A indústria, especialmente os estaleiros, tem crescido consideravelmente nos últimos anos, inclusive após a pandemia”, avalia.
Carlos ainda lembrou o crescimento no turismo, citando a alta procura de hotéis, praias e a própria marina, que atrai visitantes do mundo todo. “E agora, com uma possível retomada do porto, sem dúvida vai colaborar ainda mais no desenvolvimento do município", afirma.
O presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Agnaldo Hilton dos Santos, reconhece que Itajaí perdeu protagonismo para outras cidades portuárias. Ele entende que cabe aos governantes resolver a situação, enquanto o setor luta para que a pesca possa ser cada vez mais “influenciadora” na economia de Itajaí.
Em novembro de 2023, a cidade foi oficialmente reconhecida como Capital Nacional da Pesca. O setor é um dos pilares econômicos, empregando diretamente cerca de seis mil pessoas na região, que tem mais de 300 armadores, 450 embarcações e 40 indústrias associadas. “Itajaí sempre foi pesca, logística e porto. Se o porto não tem [movimentação], as outras economias têm que estar se fortalecendo pra manter a cidade”, analisa.
Mudança de perfil no porto
O economista e professor de Relações Internacionais da Univali, Daniel Corrêa da Silva, projeta uma queda expressiva na economia de Itajaí diante da crise no porto. “Porque, atualizando os indicadores do PIB para os anos de 2022, 2023, 2024, certamente nós veremos uma queda no nível de atividade econômica do município de Itajaí, por conta da diminuição da atividade portuária”, explica.
Ele analisa que a queda deve ser maior entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023, período crítico de baixa movimentação e quando a indefinição sobre a concessão do porto deixou a cidade sem perspectivas de retomada das atividades. Daniel considera que, nesse meio tempo, houve busca de alternativas para compensar a baixa.
“Mas essa tentativa de compensação não vai superar o impacto da perda das atividades portuárias e das suas consequências, seja na geração de empregos, seja no fluxo da renda dentro da cidade e com toda a cadeia de negócios adjacentes à movimentação portuária que não foram integralmente absorvidos na região”, analisa.
Mesmo após a retomada do porto, Daniel frisa que os reflexos da crise ainda serão sentidos por um tempo. “Eu estimaria que pelo menos de dois a três anos, até as atividades retomarem uma relativa normalidade, mas fica um saldo, pensando em nível de Santa Catarina como um todo”, diz. Isso porque, pelo perfil da empresa que assumirá o porto, a movimentação deve ser mais com produtos de baixo valor agregado ou da cadeia agroindustrial.
“Claro que o porto deve movimentar cargas de outra natureza, mas tudo indica que Itajaí deve ter uma operação mais direcionada à agroexportação”, aponta. O professor também cita que algumas operações já migraram em definitivo pra outros terminais, como para Navegantes e portos fora do estado. Com essa dinâmica, Daniel vê uma mudança de perfil para Itajaí entre os cinco portos catarinenses.
No novo cenário, os terminais de Imbituba, São Francisco e, agora, o de Itajaí, ficariam mais dirigidos à exportação ou à movimentação de produtos menos tecnológicos ou agroindustriais. Já os portos de Navegantes e Itapoá passariam a concentrar a movimentação de produtos de maior valor agregado e devem ser os principais operadores das importações.
Diante da atual crise, o professor avalia que o setor de construção civil parece ser a principal aposta das autoridades municipais para tentar compensar as perdas da atividade portuária. Ele lembra que a cidade vive um “boom” imobiliário mais destacado nos últimos cinco anos e que outros setores, como indústria naval, setor náutico e turismo, também estão em alta, mas reflete que as atividades não ocupam ainda o espaço deixado pelo porto.
O professor afirma que o desenvolvimento de outros setores pode representar a diversificação de arrecadação no município, mas, de qualquer maneira, sempre vinculada ao próprio porto, que se manteria indutor da economia da cidade, com outras áreas “orbitando” a atividade.
“Cidades portuárias não deixam de ser portuárias. Isso vai desde Liverpool a Barcelona, passando por Santos, Itajaí e qualquer outra cidade ao redor do mundo. São cidades que têm características muito voltadas ao seu vínculo na troca de mercadorias com os mercados internacionais”, completa.
Mais de cinco mil vagas de emprego no 1º trimestre
Itajaí fechou o primeiro trimestre de 2024 com a segunda maior geração de empregos entre as principais cidades do estado. Foram criadas mais de cinco mil vagas no período, em diversos setores, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Em relação ao primeiro trimestre de 2023, houve aumento de 24,57% no número de vagas abertas. No ano anterior, foram geradas 3791 oportunidades, enquanto em 2024 o total subiu pra 5026 vagas com carteira assinada. Em abril, último dado disponível no Caged, foram mais mil vagas.
Somente em março, Itajaí gerou 1654 empregos, resultado que colocou o município à frente de grandes cidades como Blumenau, Chapecó e Criciúma no ranking dos municípios com mais de 200 mil habitantes. Itajaí foi superada apenas por Joinville, com 1738 vagas.
O setor de serviços foi o que mais criou vagas em Itajaí: 3090 postos de trabalho no trimestre, o que representa mais de 60% do total de empregos gerados. Em seguida, aparecem os setores da indústria (867 vagas), construção (428) e agropecuária (385).