Delação acusa
Hang participou de plano contra posse de Lula
Ex-ajudante de Bolsonaro revelou ação de empresários pra “virar o jogo” pós-eleição
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Em delação à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, apontou a participação do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, em plano para evitar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após o segundo turno das eleições de 2022. Conforme o delator, Hang teria sido um dos principais mentores da tentativa de golpe.
Além de Hang, Mauro Cid também citou o envolvimento do empresário Meyer Nigri, da Tecnisa. Juntos, os empresários teriam pressionado o então presidente Jair Bolsonaro (PL) pra que o Ministério da Defesa fizesse um relatório “mais duro” a respeito das eleições pra “virar o jogo”. O pedido teria ocorrido em novembro de 2022, conforme a delação. O teor do depoimento foi revelado pela revista Veja.
O plano acabou não sendo concretizado e, após a posse de Lula e os atos golpistas em 8 de janeiro, Hang chegou a fazer postagem sobre o novo governo, desejando sorte ao presidente eleito e repudiando os ataques às sedes dos Três Poderes. Antes, ele também havia negado participação ou financiamento nas ações que culminaram nas invasões e reconhecido o resultado das urnas.
Sobre a delação de Mauro Cid, os advogados de Luciano Hang afirmaram, em nota à imprensa, “que nada podem declarar sobre investigação que tramita sob sigilo perante o Supremo Tribunal Federal (STF), muito menos para comentar alegada mensagem que o tenente-coronel Mauro Cid teria enviado a terceiro, cujo teor desconhecem”.
Contudo, eles afirmam que “Luciano jamais sugeriu ou pediu a quem quer que fosse a adoção de medida destinada a atentar contra o ordenamento jurídico e as instituições democráticas”.
A nota é assinada pelos advogados Eduardo Pizarro Carnelós, Alberto Moreira e Murilo Varasquim. Eles frisaram que, já no dia seguinte ao 2º turno das eleições presidenciais de 2022, o empresário declarou que a vontade dos eleitores deveria ser respeitada. “Nenhuma manifestação em sentido contrário pode ser atribuída a ele”, frisam.
Ex-ministro da Saúde
Mauro Cid também complicou a vida do ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), que teria trabalhado a favor de um golpe de Estado. O ex-ajudante de ordens cita uma conversa de Pazuello com Bolsonaro, em que o ex-ministro “dá sugestões e ideias de como ele poderia, de alguma forma, tocar o artigo 142”. A citação se refere a um artigo da Constituição que supostamente autorizaria uma intervenção militar.
Segundo Mauro Cid, Bolsonaro teria desconversado da proposta para evitar “qualquer ação mais contundente”, mas teria mudado de ideia depois, após conversas com aliados que também defendiam o golpe.
Segundo a PF, a delação mostra que Pazuello fazia parte de um grupo de radicais que queria reverter o resultado das eleições e que a conversa dele com Bolsonaro traz a proposta de uma “ruptura institucional”.