Nos últimos anos, as redes sociais deixaram de ser apenas espaços de conexão e entretenimento para se tornarem arenas de julgamento público. Comentários ácidos, linchamentos virtuais, “cancelamentos” e ódios destilados a céu aberto têm ocupado timelines com uma intensidade preocupante. A pergunta que não quer calar: o que está por trás desse comportamento coletivo que normaliza a humilhação alheia?
Do ponto de vista psicológico, estamos lidando com um fenômeno multifacetado. As redes sociais oferecem um palco sem rosto — o que chamamos de desinibição online. Ou seja, pessoas sentem-se livres para expressar agressões, críticas severas e opiniões cruéis, amparadas pela ilusão do anonimato ou pela distância emocional. É fácil esquecer que, do outro lado da tela, existe alguém de carne, osso e sentimentos.
Vivemos também um tempo de intolerância emocional. Não sabemos lidar com o erro, o diferente ou o contraditório. A cultura do cancelamento surge como uma resposta impulsiva ao desconforto ...
Do ponto de vista psicológico, estamos lidando com um fenômeno multifacetado. As redes sociais oferecem um palco sem rosto — o que chamamos de desinibição online. Ou seja, pessoas sentem-se livres para expressar agressões, críticas severas e opiniões cruéis, amparadas pela ilusão do anonimato ou pela distância emocional. É fácil esquecer que, do outro lado da tela, existe alguém de carne, osso e sentimentos.
Vivemos também um tempo de intolerância emocional. Não sabemos lidar com o erro, o diferente ou o contraditório. A cultura do cancelamento surge como uma resposta impulsiva ao desconforto que certos discursos ou atitudes provocam. Mas ao invés de diálogo, optamos pela punição pública. Isso pode gerar alívio momentâneo em quem cancela, mas produz sofrimento psíquico profundo em quem é cancelado — vergonha, ansiedade, depressão, ideação suicida.
Outro fator importante é a busca por pertencimento. Muitos aderem a esses movimentos não por convicção, mas por medo de serem excluídos se não “condenarem junto”. É um efeito manada psicológico, motivado pela necessidade humana de fazer parte de um grupo. A aprovação, os likes e os compartilhamentos funcionam como pequenos reforços de autoestima, mesmo quando à custa do sofrimento alheio.
Também é preciso considerar que estamos diante de um cenário de esgotamento emocional coletivo. A sobrecarga de informações, crises sociais e inseguranças contemporâneas aumentam o nível de estresse e reduzem a capacidade de autorregulação emocional. Nessa vulnerabilidade, as redes se tornam válvulas de escape e, muitas vezes, o alvo é o outro. A agressividade que se vê na tela, frequentemente, revela dores não elaboradas fora dela.
Mas há esperança. A psicologia nos ensina sobre empatia, escuta ativa, tolerância à frustração e respeito ao tempo do outro. O ser humano erra, e é justamente na possibilidade de reparar que reside seu potencial de crescimento. A justiça social não pode ser confundida com vingança digital.
Precisamos resgatar o valor da responsabilidade afetiva também no ambiente virtual. Antes de comentar, compartilhar ou criticar, cabe uma reflexão: “Se eu dissesse isso pessoalmente, como essa pessoa se sentiria?”. Essa simples pergunta pode ser o primeiro passo para uma internet menos adoecida e uma sociedade mais consciente.