A sociedade é formada por sistemas como uma cidade e suas ruas: cada uma tem nome próprio, sentido, inicia e desemboca em pontos específicos. Mesmo as alamedas e avenidas, vão precisar dos becos e ruelas. Algumas têm importância elevada, e nenhuma pode viver sem outros caminhos. Assim se faz um sistema viário, o potencial de mobilidade, os pontos de chegadas-pontos de saída. Em qualquer caso, cada uma gera endereços. Uma rua, como um sistema, se delimita em relação aos outros. Da Política, o tráfego da liberdade e igualdade e a uniformização; da Economia, o movimento da concorrência e desigualdade e a individualidade.
Cada membro da vida em sociedade, cada participante dos sistemas, são “fabricados” por estruturas psíquicas e sociais. Há uma fonte de “consciência” e “sabedoria” para aprender e apreender o que o mundo social nos impõe. É inescapável incorporar, transformar em corpo, o que a família nos cultiva, o idioma que falamos, as formas de sentir-agir-pensar que aprendemos, as violências com as quais convivemos, as agressividades que experimentamos. Por todos os poros aprendemos a viver a vida que temos e, de agora em diante, somos responsáveis por ela. Somos responsáveis, especialmente, pela formação dos novos membros da sociedade: nossos filhos nos são a primazia responsabilidade social.
Somos “quase-incapazes” de educar nossos filhos para a vida complexa que há fora de nossa corrente sanguínea. A preparação para o mundo, embora comece dentro de casa, só pode se realizar pela educação escolar. É ali que os planos curriculares [um curriculum vitae para todos] uniformiza a preparação para o mundo. A orientação para a vida não se efetiva pela seleção natural, mas pelas etapas educacionais. A seletividade se realiza por meio de conceitos e exames e notas e provas e frequência regular. De tudo isso, como feitiço, “entramos” nos cérebros e provocamos a orientação necessária para termos o Mínimo Múltiplo Comum para trafegar nas vias do Trabalho, da Comunicação, do Direito, da Economia, da Política. Sem a educação há restrições severas para se mover durante a existência.
As vias a se percorrer na vida são pavimentadas por sistemas educacionais que nos levam para lugares preparados no futuro. Cada um dos membros da sociedade têm o direito de estudar atravessando planos curriculares comuns. Nisso somos, por conta da Política, iguais. As possibilidades de estudos, no entanto, pela força da Economia, vão nos gerar como desiguais. É pela magia da Educação que nos tornamos acoplados à sociedade moderna, como a junção de partes de uma nave espacial: em partes bem definidas, bem devagar e com poucos atritos.
A Educação, com Escolas e Pedagogias, é a instituição central de direcionamento para a uniformização do caminho a ser seguido na sociedade e dos passos a serem dados pelas pessoas: igualdade e diferenciação. Carreiras profissionais, distinções intelectuais, alimentação da arte, valorização da cultura, gosto pela leitura e interpretação, serão anotadas nas “cadernetas-vitais” do trajeto. A Escola estabelece igualdade de chances a todos e a distinção social para cada um.
A “programação escolar” dos indivíduos representa a libertação do estágio de ignorância num complexo trajeto de Igualdade para todos, e providencia a diferenciação pelo desempenho. Os professores, como “feiticeiros”, conseguem “acesso” ao cérebro dos infantes e aciona o “programa” social, educacional, disciplinar, de provas e notas, de conhecimento e liberdade e distinção. Os ritos escolares se perpetuam em bancos escolares, em professores, em “templos de formação” para colocar no corpo, como inevitáveis, os sistemas de liberdade e diferenciação. O sistema se completa.