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Allan Kardec e a doutrina espírita
Foram comemorados no último dia do mês de março próximo passado os 150 anos da morte do educador, escritor e filósofo francês Allan Kardec (1804/1869), sistematizador da doutrina espírita. E será também no mês de março, mas do próximo ano, de 2020, que se completará o centenário de fundação do primeiro grupo espírita de Itajaí.
A doutrina espírita se constituiu na proposta de fé racional criada por Allan Kardec para responder a desafios intelectuais e aos conflitos sociais do século XIX; assim como, o positivismo fora a resposta sociológica de Comte e o comunismo, a resposta política de Marx. Todos os três tinham suas propostas como absolutamente científicas e as derivavam do Iluminismo. Kardec chegou a afirmar que somente era inabalável a fé fundada na razão. Mas ele nunca se viu como fundador de uma religião.
O sistema doutrinário espírita, dito ao mesmo tempo científico e filosófico, que propunha uma explicação da natureza da vida e da morte, chegou ao Brasil já na segunda metade do século XIX. Aqui, surpreendentemente, transformou-se em religião. Único país do mundo em que isso aconteceu.
Em Itajaí, os primeiros espíritas foram trabalhadores escolarizados da classe média urbana, que em 12 de março de 1920, na casa de Ângelo Pavan, do começo da rua Blumenau, fundaram o Grupo Espírita Amor a Jesus. A diretoria se compunha de presidente, João Tabalipa; vice-presidente, Ângelo Pavan; 1º secretário, Domingos Marques; 2º secretário, Moysés Zeferino Lopes; Tesoureiro, João Ladislau Tabalipa; Procurador, Joaquim Lopes Corrêa.
Desse grupo doméstico, que se reunia semanalmente na casa de Pavan, originou-se em 1927 o atual Centro Espírita Anjo da Guarda, o qual teve à frente a família de Domingos de Azevedo Braga. O Centro Espírita Anjo da Guarda, desde então, tornou-se principal referência em Itajaí da doutrina espírita kardecista, embora outros centros espíritas kardecistas existam na cidade.
As linhas básicas da doutrina espírita ficaram sendo estudar, curar e praticar a caridade. Tais preceitos e a laicidade da nova crença, sem clero nem sacralidades, justificavam a presença entre os primeiros espíritas de trabalhadores anticlericais e simpáticos à proposta de uma religião dessacralizada pela ideia da fraternidade e da ciência que o espiritismo apresentava. Essa a razão pela qual, entre os primeiros espíritas, contar-se o comunista Joaquim Lopes Corrêa.
Reginaldo Prandi, autor do livro “Os Mortos e os Vivos: Uma Introdução ao Espiritismo”, afirma que “o atendimento de uma clientela para a qual o envolvimento com o espiritismo pode significar apenas um serviço de ajuda religiosa e não uma adesão ou conversão à religião é um aspecto importante do kardecismo, que também se observa nas religiões afro-brasileiras”.
P.S. Pesquisadores do tema buscam informações sobre os fundadores Ângelo Pavan e Domingos Marques; quem as tiver, por favor, entre em contato com o autor desse artigo pelo e-mail acima indicado.