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Distorções e ilusões


Inverdades com ou sem má-fé.

Quem me conhece sabe que não sou fã do Karl Marx, mesmo reconhecendo que muitos dos melhores políticos são marxistas. Socialismo bom para mim é aquele do Fourier, ou o do Saint-Simon, ou o da mistura com capitalismo da Suécia ou das conversas sem pretensões eleitorais. Marxismo bom para mim é o do paisagista Burle Marx, parente do Karl, mais um indício de que muita coisa não é genética. Outro marxismo bom era o dos irmãos Marx comediantes. Mas algumas verdades precisam ser ditas de vez em quando.

Outro dia, um padre falando na TV não respondeu adequadamente a quem questionava se a Igreja não podia se basear em Marx como se baseia em outros pensadores não-cristãos. O marxismo não é totalmente incompatível com o Cristianismo. Em primeiro lugar porque o Cristianismo não é marca registrada da Igreja Católica e inclui inúmeras tendências. As histórias do Pedro são muito controversas. Não é incompatível com a crença em Deus ou na espiritualidade pregar que não se deve deixar tudo para Deus fazer. Interessante até a visão poética do Affonso Romano de Sant’Anna: segundo ele, não foi Deus quem criou este mundo, os filhos de Deus são os que não aceitam este sistema. Mas aí a questão já adentra a Gnose e vai muito longe. Por ora basta dizer que dentro do Catolicismo existem muitas divisões sim, isto não é uma distorção da VEJA.

A VEJA também distorceu muito sobre socialismo e marxismo. Por exemplo, quando um colunista dela deu a entender que os marxistas queriam acabar com todo tipo de propriedade privada. A mesma distorção que pessoas da campanha do Collor fizeram em São Paulo. A VEJA também errou ao afirmar ser impossível conciliar socialismo com democracia. Pelo “raciocínio” da revista poderíamos dizer que impossível é conciliar democracia com capitalismo, bastando citar coerções, subornos, lavagens cerebrais, mensagens subliminais, compras de votos, financiamentos milionários de campanhas e sabotagens. Anos atrás a VEJA já distorcia ao afirmar ser incoerente a proposta do PT de chegar ao socialismo passando pelo capitalismo. Incoerente não é, a proposta do marxismo é fortalecer o capitalismo antes de superá-lo. Como não sou marxista, penso que capitalismo e socialismo devem conviver e evoluir.

Na TV, um simpatizante do Requião afastava a possibilidade de uma terceira via no Brasil. E o PT abusou de eufemismos. Eufemismo é, por exemplo, a palavra simpatizante na forma como usei no início deste parágrafo.

Em Santa Catarina, o Genoíno foi insinuar que Bornhausen e Amin eram o problema. Não precisava. Muitos dos “conscientizadores das massas” já estavam convictos disto, embora na verdade o Amin, que vinha de família rica, tivesse patrimônio muito menor que o amealhado pelo LHS na atividade política. O Bornhausen nada tinha de racista e mesmo assim tentaram caracterizá-lo como tal.

Se por um lado o povo das favelas não tem culpa de um governador demagogo ter ajudado traficantes, serve a discursos demagógicos enaltecer a nobreza dos pobres. Da vida dos favelados não sei muito, só observei em algumas favelas que nelas havia muitos tipos diferentes de pessoas. Mas de COHABs, de emergentes e de classe média baixa posso falar bastante. Poderia contar dezenas de histórias sobre doidos, beatas, ninfomaníacas, vagabundos, drogados, mentirosos, fanáticos, enrolões, ladrões, apadrinhados de políticos, gente que enganava médicos exagerando sintomas, gente que fazia corpo mole, fofoqueiras, pessoas aparentemente recalcadas e invejosas e pessoas que maltratavam e ameaçavam matar gatos e cachorros. Por isso me dá nos nervos quando supersimplificando e distorcendo falam que a raiz de todos os males é o sistema capitalista ou que o fato de não ligarmos para a política é que gera a prostituta que não quer trabalhar como doméstica ou babá ou fazer um curso gratuito ou alguma coisa em ONG. Aos marmanjos que me mostram bilhetes ameaçadores tipo “É melhor pedir que roubar” só tenho a dizer “O melhor mesmo é trabalhar.”

Melhor mesmo é não dar muita importância à política. A melhor atitude com relação aos políticos é não levá-los muito a sério. Quando meu avô ia começar discurso “Vamos agradecer este manjar...” meu irmão foi quem agiu mais corretamente, emendando “Vamos agradecer a Yemanjá.”

* O autor é escritor


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